Cotidiano

Familiares pedem que presos voltem para a Penitenciária

Esposas fazem vigília nas proximidades da Cadeia Pública por temerem mortes após oito presos terem sido levados para a unidade

Após a transferência de oito presos considerados de alta periculosidade da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) para a Cadeia Pública de Boa Vista, que ocorreu na quinta-feira, 9, familiares fizeram vigília na frente da unidade prisional do bairro São Vicente para pedir explicações e solicitar a volta dos detentos à Pamc por medo de conflitos entre facções rivais.

De acordo com as esposas dos presos que foram transferidos, não houve nenhuma justificativa dada pela Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) para que fosse feita a mudança e que nem os advogados particulares foram informados da situação.

Somente depois de já estarem na Cadeia Pública que as famílias foram notificadas.

Na manhã de ontem, 10, as esposas ainda estavam na frente da unidade pedindo que os maridos fossem retirados do local porque eles estariam “correndo perigo”. Algumas das mulheres relataram que foram alvo de tiros durante a madrugada por uma dupla que passava de moto pela região.

“Elas estão querendo só retirar eles daí de dentro. A Sejuc não dá esclarecimento de nada para elas, ninguém sabia dessa transferência, nem juiz, nem promotor. Só falaram que ia ter uma transferência para eles pagarem um RDD [Regime Disciplinar Diferenciado] aqui, só que aqui vocês sabem que cada cadeia é uma facção. Trouxeram de lá para cá, sendo que não pode”, disse Milena Pereira, cunhada de um dos presos.

Milena afirmou ainda que o temor é que a qualquer momento os detentos podem romper os cadeados e assassinarem os oito que foram transferidos. Ela completou dizendo que as mulheres procuraram a Sejuc, mas que não conseguiram esclarecimentos.

Segundo relato das esposas dos presos transferidos, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Roraima (OAB-RR) esteve na Cadeia Pública para constatar os fatos e solicitar também a retirada dos presos da unidade por entenderem a possibilidade de mortes.

A autônoma Isaura Prado, que também estava acompanhando as esposas dos presos, disse que a situação que eles estavam passando não era fácil porque estão vulneráveis a ataques, conforme teria ocorrido na madrugada. “Já procuramos a Sejuc, mas eles tratam a gente como um nada só porque a gente é familiar de preso. A gente parece que não tem voz”, contou.

Isaura disse que o marido dela teria sumido dentro da Penitenciária e, após ter sido encontrado foi encaminhado para a carceragem, onde está trancado por dez dias. A esposa completou dizendo que o preso foi levado sem motivo para a carceragem e está sem comida.

“Os advogados dos Direitos Humanos vieram aqui e falaram que não podiam ter transferido porque aqui eles correm risco de vida. Ontem teve tiro aqui, a gente tava aqui e tivemos que correr. Dois rapazes passaram de moto de um lado para o outro, depois desceram e vieram andando com uma arma e a gente correu”, relatou. Isaura contou ainda que a alimentação dos detentos dentro das unidades prisionais está reduzida a pão e café.

Já Joelma Nunes Pereira, conseguiu entrar na Cadeia Pública junto com a Comissão da OAB e que foi informada que os presos precisavam ser retirados imediatamente da unidade. “O negócio é tirar eles daí. A gente quer que eles sejam retirados ainda hoje. Eles querem que aconteça um massacre com eles. A OAB disse que eles [Sejuc] estão totalmente errados”, garantiu.

OUTRO LADO – Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) esclareceu que a transferência de  oito reeducandos considerados líderes de facção, se deu após a operação dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc),  na manhã de quinta-feira, 9, por uma ação de segurança do Estado em conjunto com o Judiciário. Os presos estão em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), na Cadeia Pública de Boa Vista, com cela preparada e segura.

Com relação à alimentação, a Sejuc  afirma que o fornecimento está  normalizado. Ressaltou ainda que o “Estado mantém a integridade física, alimentação e demais direitos dos reeducandos”.

Sobre os motivos para a transferência e se os presos seriam levados de volta para a Penitenciária Agrícola, o Governo do Estado não respondeu, assim como não se manifestou sobre quais medidas estaria fazendo para evitar conflitos.

OAB – A equipe de reportagem da Folha entrou em contato com a Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Roraima (OAB-RR), mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. (A.P.L)