Cotidiano

'É recompensador contribuir com a formação e crescimento de seus alunos', diz professora

Com 25 anos de carreira, professora teme que a profissão que ama, acabe extinta

A principal meta de um professor, compromissado com o que faz, é ser agente transformador, compartilhar conhecimento e levar informação, tudo isso com muito amor. A afirmação partiu da professora Ilda Souza da Silva, 49, que trabalha como alfabetizadora há 25 anos. “Me orgulho em poder fazer parte da vida de cada um, e de saber que no futuro ainda vão lembrar de mim”, diz.

Moradora do município de Bonfim, Ilda é concursada pelo estado desde 1994, mas antes mesmo já desempenhava as funções de professora, e neste ano completou 25 anos de carreira. Tinha 22 anos quando iniciou as atividades.

“Passei por todo aquele início, primeiro era tabela especial, depois agente de ensino, até a chegada do concurso público. Hoje meus alunos que alfabetizei são professores dos meus filhos; passa um filme na cabeça da gente, é muito gratificante, é como se estivéssemos colhendo os frutos que plantamos”, confidencia.

De acordo com a professora, que leciona na rede municipal de ensino, em Bonfim, é recompensador contribuir com o crescimento de cada aluno, perceber a evolução em cada etapa vencida. “Amo alfabetizar, ver aqueles rostinhos, saber que aquelas crianças dependem de você. Eles têm sede de conhecimento, quando começam a ler, a interpretar, a produzir, você vê que aquilo é fruto do seu trabalho, e dá um orgulho enorme”, fala.

Ilda também é pedagoga e desempenha suas atividades na Escola Estadual Aldebaro José Alcântara, também no município de Bonfim. A unidade de ensino oferta o Atendimento Educacional Especializado (AEE), oferecido como complemento ou suplemento à escolarização regular, de forma a possibilitar aos alunos com necessidades especiais o melhor desenvolvimento possível nas classes regulares.

“Exerço as atividades de pedagoga numa sala de recursos multifuncionais, atendendo alunos com necessidades especiais, nossa principal função é a inclusão. É uma troca diária, desempenho essa atividade há mais dez anos. Esses alunos acreditam em você, confiam plenamente no que você tem a oferecer, são carinhosos, em contrapartida temos que ter muita paciência, manter a calma e compreendê-los, cada aluno tem um ritmo de aprendizado, precisamos ser flexíveis”, explica.

Para Ilda, a profissão que escolheu é muito desvalorizada nos dias de hoje, e revela um receio: que ela acabe extinta. “Tenho esse receio, muitas vezes me vejo pensando em como somos desvalorizados, e esse descaso não é só do poder público, mas da sociedade, dos próprios alunos. Se você perguntar numa sala de aula do ensino médio, quem quer ser professor, ninguém vai levantar a mão”, fala.

“Tenho um exemplo dentro de casa, minha filha adolescente nem pensa em ser professora. Trabalho pela manhã e à tarde, à noite levo trabalho para casa, na visão dela meu dia a dia é muito cansativo e nada recompensador, mas digo que trabalho porque gosto, amo minha profissão, e nesse dia 15 de outubro parabenizo a todos os colegas que compartilham do meu amor”, completa.

‘Categoria tem mais a comemorar do que reclamar’, diz presidente do Sinter

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima (Sinter/RR), Flávio Bezerra, houve um avanço na esfera estadual, com a greve dos professores em 2015. “A greve dos 72 dias foi muito positiva, nós conquistamos, a partir da luta dos trabalhadores, o direito de aumentar a jornada de trabalho, e consequentemente, aumentar nossos salários”, destaca.

Ainda de acordo com o presidente do Sinter, os trabalhadores em educação de Roraima estão entre os mais bem remunerados do país. “Hoje no estado de Roraima são três jornadas, 25h, 30h e 40h. Na grade de 40 horas, temos alguns dos melhores salários a nível nacional, é claro que existem salários melhores, como é o caso do Maranhão, e de alguns outros estados, mas estamos entre os melhores”, diz Bezerra.

“É claro que existe diferença salarial entre um professor que leciona 40h para um que leciona somente 25h. Muitos professores se veem obrigados a arcar com outros contratos, seja na prefeitura, seja em escolas particulares ou em atividades técnicas, para contribuir no orçamento familiar”, explica o presidente do Sinter-RR.

Segundo Bezerra, a atual diretoria do Sinter adotou a linha de não abrir mão das frentes de luta. “Algumas a gente avançou mais, em outras, infelizmente está emperrado, e em outras realmente o processo de luta é maior. Com relação ao enquadramento, hoje nós temos 70% da categoria enquadrada na Lei 892/12”, disse.

Um professor, segundo o presidente do Sinter, com licenciatura em início de carreira ganha na jornada de 25h, um salário de R$ 2.317,90; com o aumento de jornada para 30h o salário inicial chega a R$ 3.782,94; e em 40h o salário inicial é de R$ 5.043,92. Já um professor com especialização recebe em início de carreira numa jornada de 25h, R$ 3.245,03; em 30h, R$ 4,895,49; e em 40h, R$ 6.527,32. O professor com mestrado recebe, em início de carreira, R$ 4.218,55 para uma jornada de 25h; R$ 6.063,72 em 30h; e R$ 8.84,96 em 40h semanais. E um professor com doutorado recebe em início de carreira, R$ 5.483,21 em 25h; R$ 7.581,31 em 30h; e R$ 10.108,41 em 40h semanais.

Ainda segundo o presidente do Sinter, uma grande maioria dos seis mil trabalhadores da educação em Roraima tem especialização, há um grande número com mestrado e doutorado, atingindo um ranking salarial que está entre os melhores do país. “A cada dois anos há uma progressão, nós tivemos um avanço significativo, mas ainda têm cerca de mil professores que ainda não foram contemplados até hoje com o enquadramento, e que, como não conseguimos avançar na esfera administrativa, estão aguardando a definição nos tribunais”, ressaltou. (L.D.)