Jessé Souza

Uma pausa nao um fim 5811

Uma pausa, não um fim

Há 20 anos, quando entrei para fazer parte da Folha de Boa Vista, eu tinha em mente conquistar meu espaço na imprensa roraimense. Não foi fácil – e não será para ninguém – sonhar em fazer do seu emprego um instrumento para um sonho pessoal, de contribuir para o debate e a crítica pensando no bem-estar coletivo, seja em que profissão for.

E encarei os percalços da profissão e o embate aberto numa sociedade conservadora e que ainda aprendia (e aprende) o que é uma imprensa livre para a construção de uma sociedade menos injusta. Sobrevivi com arranhões, cultivei meu espaço, cativei amigos, encontrei inimigos e fui acolhido por leitores.

Por um longo período fui editor-chefe, encarando um duro território habitado pela incerteza e muito trabalho árduo, dia e noite, além de madrugadas a fio. Doei todo meu esforço em nome do bom combate e do jornalismo comprometido com a sociedade.

Mas um dia chegaram o cansaço e a cobrança do corpo. Afinal, cheguei um jovem obstinado, sem saber aonde eu iria chegar, e estou um homem já desembocando para os 50! São duas décadas de dedicação exclusiva, que me custaram um preço, mas que me proporcionaram momentos de muitas alegrias e vitórias.

E hoje encerro essa caminhada, fecho um ciclo, em comum acordo, com a Folha. Cansei, o corpo reclama, e preciso respirar um ar de renovação e de pausa, mas não de fim. Saio sem ir embora, porque meus artigos continuarão aqui, diariamente, como colaborador, mas com o mesmo sonho de um jovem que acabou de entrar numa Redação de jornal.

Despeço-me da Editoria-geral da Folha com o alívio de missão cumprida, mas sabendo que em jornalismo um esforço por mais hercúleo nunca será o bastante. Vou continuar seguindo a corredeira de um rio que encontrei agora, a internet, mas sem deixar de pisar a terra firme do impresso. Então, não é uma despedida, um adeus, aos leitores e aos colegas de Redação e de profissão. É um até breve. Meu corpo pediu arrego, mas minha mente não. Meus projetos de vida daqui para frente incluem o impresso também. Então, logo estarei de volta de alguma forma, mas não mais como editor. Esse ciclo fechou-se definitivamente. Outra cortina vai se abrir em breve, mas renovo meu compromisso de 20 anos atrás, só que numa nova caminhada outra vez sem saber aonde vou parar – se é que há um ponto final em jornalismo.

Só me resta agradecer à Folha pela liberdade que sempre me deu para minhas opiniões e um obrigado a todos que fizeram parte da minha carreira profissional. Segue o barco do destino…*[email protected]: http://roraimadefato.com/main/