Jessé Souza

Um sorriso e um bom dia 6092

Um sorriso e um ‘bom dia’ Se a moda é retroceder, buscando o que era bom no passado, seria genial se voltasse a gentileza do passado, quando todos pareciam se conhecer e se cumprimentavam ou, se não se conhecessem, um dia iriam se ver na praça mais movimentada da cidade ou numa festa pública no Parque Anauá, motivando ao menos um aceno com a cabeça em sinal de que havia algo familiar, seja como vizinhança de bairro, colega de escola ou do arraial da igreja.

Mas, como isso não passa de uma utopia, ao menos as pessoas podem criar uma atmosfera em que as pessoas se respeitem e não finjam ser gentis nos círculos ou redes sociais, no shopping, na feira, na festa ou mesmo no bar da esquina, longe das agressões gratuitas que se veem no Facebook, no Twitter ou em qualquer outro tipo de rede e mídia, onde a baba do ódio escorre e predomina o “eumismo” (eu, somente eu, eu de novo, eu toda hora e outra vez, eu quantas vezes for preciso).

Mas ainda há uma esperança perdida em algum lugar, onde é recriado um ambiente de nostalgia. É assim que as pessoas se sentem ao entrarem em um supermercado no bairro São Francisco, onde do faxineiro ao caixa os funcionários sorriem para o cliente e falam “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” aos que chegam e aos que se vão.

Quem diria que, um dia, em plena Era do ódio ao outro, funcionários de um supermercado fossem atender aos clientes sorrindo e desejando “boa noite”! Isso é fantástico. É uma volta a um passado que deveria contaminar outros supermercados, lojas, franquias, lanchonetes, bares e restaurantes. Já pensou uma atendente de franquia de shopping sorrindo para você, desejando “bom dia” e perguntando “posso ajudá-lo no cardápio”?

Seria uma grande revolução humana em tempos de rede social onde as pessoas não sentem mais vergonha de serem canalhas, de acharem que contestar é agredir, que direito de responder é direito de ofender, de usar o sorriso cafajeste da humilhação contra quem discorda de sua opinião ou predileção.

Talvez uma volta ao supermercado onde os funcionários sorriem e cumprimentam possa devolver às pessoas um passado de respeito às pessoas, aos clientes, aos desconhecidos, ao outro estranho e não sabido de sua origem ou nacionalidade; um pacto de não agressão, de não ódio e do não egoísmo ou egocentrismo.

Se o presente empurra as pessoas para um fascismo que já vimos no passado, então que se voltem ao passado em que o outro não era visto como um inimigo gratuito, mas apenas como o outro que pensa diferente, que tem visão e aspirações diferentes. Quem sabe um sorriso e um “bom dia” voltem a ser algo normal, e não uma cena em extinção, algo extraordinário.

*[email protected]: http://roraimadefato.com/main/O alto preço da rebelião contra Deus