Jessé Souza

Um momento para os idealistas 6356

Um momento para os idealistas Qualquer intelectual de meia pataca furada de hoje põe a cara para analisar que o grande mal do Brasil atual é a corrupção. Desde quando comecei a escrever neste espaço da Folha, há mais de duas décadas, eu sempre insisti sobre o grande mal que era a corrupção, mas cheguei até ser ironizado, uns me chamando de ingênuo e outros afirmando que eu era um articulista de uma nota só.

Os tempos passaram e hoje tornou-se moda do momento bradar contra a corrupção e fazer análise de conjuntura colocando na conta de toda desgraça brasileira a maldita corrupção. Outros mais cínicos chegam até a partidarizar esse grande mal de locupletar-se com o dinheiro público, como se a corrupção fosse obra exclusiva dos seguidos governos do PT, com discursos beirando até a paranoia.

No momento em que escrevo esse artigo, lembro-me que, certa feita, algum idiota escreveu que era um tolo por acreditar que um dia alguém iria ligar para o que eu escrevia sobre corrupção. Mas o tempo é o senhor da razão e, desta forma, já houve governadores cassados e até ex-governador cumprindo prisão domiciliar.

A Operação Lava Jato veio definitivamente para escancarar o que havia de mais podre nesta republiqueta comandada por partidos que tomaram o poder de assalto. Figurões da política nacional foram ver o sol nascer quadrado, embora essas condenações pareçam também partidarizadas, com petistas presos a velocidades surpreendentes enquanto os larápios dos outros partidos até soltos eles são, em um átimo, pelas mãos do Supremo Tribunal Federal.

Para quem escreve sobre corrupção desde o tempo da máquina de datilografia, chega ser uma recompensa presenciar que algo mudou na podre política ao longo desse tempo. Hoje, neste exato momento, estou escrevendo no bloco de notas do celular, algo inimaginável naquele tempo, tão quanto hoje presenciar um figurão, como Sérgio Cabral, atrás das grades. Os tempos mudaram com a tecnologia, assim também como a forma de tratar a malversação dos recursos públicos (leia-se: roubo da grana do povo).

Apenas sinto pena por não ter mais aquele vigor dos meus vinte e poucos anos de quando entrei numa Redação de jornal pela primeira vez para escrever sobre minhas indignações em forma de matérias técnicas e artigos de opinião acalorados. Porém, desde lá nunca perdi a esperança de que algo poderia mudar. E é isso que quero passar aos mais jovens, idealistas e inexperientes: que nunca desistam. As mudanças podem não ocorrer da forma que idealizamos, mas é possível. Não desistam.

*[email protected]: www.roraimadefato.com/main