Parabólica

Parabolica 28 08 2018 6817

Bom dia,

Ah! Sim. A pouco menos de 41 dias para as eleições gerais, e de 120 dias para terminar o atual mandato presidencial, o notório senador Romero Jucá (MDB) utiliza redes sociais para declarar que não aceita mais continuar sendo líder do presidente Michel Temer (MDB) no Senado Federal. Segundo Jucá, agora ele quer ter liberdade para criticar as medidas tomadas pelas autoridades federais no enfrentamento dos problemas gerados pela intensa migração de venezuelanos para o Brasil tendo como porta de entrada o estado de Roraima. Entre outras coisas, ele defende, agora, o fechamento provisório da fronteira entre o Brasil e a Venezuela.

Essa atitude do notório senador emedebista deve ser olhada muito menos pelas declarações formais ditas por ele, e muito mais pela leitura que se pode fazer do cenário que estamos vivendo. Vamos começar pelo princípio básico que move quase todos os políticos que apoiam qualquer governo: a liberação de verbas pra os estados e municípios que são base eleitoral para eles. Nesse sentido, já não há mais o que esperar do governo Michel Temer, uma vez que a legislação eleitoral proíbe a transferência de recursos federais para estados e municípios, no prazo de 90 dias que antecedem as eleições, e de outros 90 dias, após a realização delas.

Essa vedação legal, aliada a crise fiscal que se agrava neste final de governo Temer, encoraja muita gente a falar grosso contra um governo que eles sempre apoiaram. Temer e seus ministros estão arrumando as gavetas, não percebem possibilidade de ajudar eleger seus correligionários mais fiéis, e desse ângulo são barcos descartáveis num mar revolto de incertezas. É nessa hora, como ensina a sabedoria popular, que os ratos tendem a abandonar os navios.

Temer, e seu governo, decididamente não convencem os eleitores e as eleitoras brasileiros a votar em seus aliados, e a prova mais evidente disso é a ridícula taxa de intenção de votos (1%) atribuída ao ex-ministro da Fazenda, Henrique Meireles, o candidato oficial do MDB à Presidência da República. Por isso, os políticos mais oportunistas e pragmáticos não desejam ter o atual presidente da república na sua ilharga política. Dizer que discorda de sua política, seja em que dimensão for, ajuda como justificativa para ficar bem longe dele. Mesmo que seja um jogo de cena.

Na única pesquisa -feita pelo IBOPE – de intenção de votos publicada sobre a eleição para o Senado Federal em Roraima, coloca o notório senador Romero Jucá em terceira posição, atrás das intenções de votos à senadora Ângela Portela (PDT) e ao deputado estadual Mecias de Jesus (PRB). E são apenas duas, as vagas existentes em disputa para a Câmara Alta do país. Assim, do ponto de vista do pragmatismo eleitoreiro, livrar-se da condição de representante do governo Temer em Roraima parece ser uma tentativa, mesmo que desesperada, de melhorar aos olhos do eleitor. “Às favas, como essas questões menores de lealdade e agradecimento”, diria Jarbas Passarinho.

E quais as discordâncias, sobre a migração venezuelana, entre o governo Michel Temer, e seu, agora, ex-líder no Senado Federal, Romero Jucá? Vamos refrescar um pouco nossa memória: quando o fluxo migratório de venezuelanos para Roraima começava a ficar maior, Romero Jucá correu para Brasília, convocou e dirigiu uma reunião no Palácio do Planalto, entre ministros de Temer e a prefeita Teresa Surita (MDB), sua inseparável parceira política. Os dois, Jucá e Teresa, voltaram para a Capital do estado, e anunciaram que o governo federal iria repassar verbas para a Prefeitura de Boa Vista que seriam utilizadas no pagamento de aluguéis e alimentação para os migrantes. A notícia foi recebida com total repúdio pela população roraimense, que via na medida, uma discriminação contra cidadãos brasileiros, e ao mesmo tempo, um estímulo para a vinda de mais venezuelanos para Roraima. O que de fato aconteceu.

Faz bastante tempo que a governadora Suely Campos (Progressistas) vem pedindo ao governo federal, e até recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), que a fronteira do Brasil com a Venezuela fosse fechada, pelo menos temporariamente. O governo Temer sempre rechaçou essa medida, e sob o silêncio obediente de seu então líder no Senado Federal. O que mudou agora, a ponto de convencer esse líder a renunciar? Será que a proximidade do pleito foi o principal argumento?

Será que a falta de uma decisão do governo Temer sobre a construção do Linhão de Tucuruí não seria mais importante para justificar a decisão, agora, de Jucá? Ou não seria motivo mais que suficiente para o agora “rompimento” dele com Temer, o fato da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) estar segurando o processo do pedido de Anuência Prévia junto ao Conselho de Defesa Nacional (CDN), necessária para destravar a regularização fundiária de milhares de lotes rurais no estado? Bastaria um deles, seguramente, para dizer agora um até logo para o governo candente de Michel Temer.

EM TEMPO Faleceu ontem, aos 92 anos, Ana Marques, representante feminina dos tempos áureos da saudosa Polícia Civil do ex-Território. D. Ana Marques foi a primeira mulher a ocupar o cargo de delegada de polícia em Roraima.