Parabólica

Parabolica 27 08 2018 6811

Bom dia,

E depois de trocas de farpas, especialmente por provocação de ministros do presidente Michel Temer (MDB), entre o governo federal e o governo estadual, vamos começar mais uma semana sem grandes novidades práticas no enfrentamento da questão da migração venezuelana para Roraima. A questão é colocada de forma muito simples: as autoridades locais e o povo roraimense dizem que o estado, com sua população e pequena economia não suportam continuar recebendo centenas de migrantes todos os dias, e pedem o fechamento temporário da fronteira entre o Brasil e a Venezuela.

As autoridades federais do Brasil dizem que não fecharão a fronteira -e isto é função privativa do presidente da República-, porque o país é signatário de acordos internacionais sobre migração internacional patrocinados pela Organização das Nações Unidas (ONU). E ao mesmo tempo, dizem que não mandarão recursos para ajudar o estado e os municípios mais afetados com a migração. E, para justificar essa omissão, juntam uma série de repasses ordinários ao governo estadual, e descaradamente, afirmam que já mandaram para Roraima, via governo local, quase R$ 200 milhões por conta da migração. Isso é decididamente uma mentira.

Todo este cenário de descaso das autoridades federais, se juntado às provocadoras declarações de ministros, como as que fez o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, deixam a nítida impressão que o governo desde Brasília aposta no quanto pior melhor, para que alguém colha frutos eleitoreiros com o quadro de anormalidade que se abate sobre o povo roraimense, sem culpa e sem meios para enfrentar uma crise que não ajudou a criar. E sobre esse aspecto, é asqueroso esse oportunismo de gente que vive da política, e para a política. Aliás, que fez, e faz fortuna com o dinheiro roubado dos cofres públicos.

CHEGANDO Nosso redator conversou ontem com dois venezuelanos recém-chegados a Roraima. Apesar de já terem obtido reconhecimento de refugiados, eles estão temerosos de permanecerem em Roraima, e especialmente não pensam ficar em Pacaraima por mais de 24 horas. Eles haviam voltado para a Venezuela na esperança de encontrar alguma situação melhor por lá, mas disseram que o quadro de miséria e violência no país governado por Nicolás Maduro só fez piorar. Os dos disseram não saber o que fazer. Um deles deixou a esposa grávida na Venezuela.

DE NOVO 1 Faz pouco mais de dois meses, o deputado federal Hiran Gonçalves (Progressistas) esteve na redação da Folha acompanhado de um dirigente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), uma estatal que administra vários hospitais universitários ligados ao Ministério da Educação. À época, a Folha fez reportagem sobre o fato, estavam em Roraima cerca de 11 técnicos daquela estatal para estudar o envio de profissionais médicos para fazer atendimentos de emergência em hospitais estaduais do governo de Roraima, especialmente no tocante às chamadas cirurgias eletivas. Durante a visita ao jornal, restou claro pelas palavras do dirigente da Ebserh que essa ajuda emergencial estava decidida.

DE NOVO 2 Dessa forma, soa de novo como uma conduta politiqueira das autoridades federais o lançamento da ação médico-humanitária -com a presença do presidente Temer, do ministro da Educação, Rossieli Soares e do presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, Kleber Morais-, destinada ao atendimento de imigrantes venezuelanos que se encontram no estado de Roraima. Dirigindo-se ao grupo de voluntários, o presidente da República, Michel Temer, agradeceu a participação da equipe e fez um apelo aos demais estados brasileiros. “Eu quero aproveitar para mais uma vez dignificar o gesto dos senhores e das senhoras e dizer, pedir e pleitear que isto sirva de exemplo para outros estados e outras regiões no sentido de termos cada vez mais voluntários para esta tarefa, em Roraima”.

DE NOVO 3 A solenidade com a presença de tanta autoridade de alto coturno foi feita para anunciar a vinda a Roraima -não mais para atender nos hospitais estaduais como estava previsto, mas nas unidades de campanha do Exército-, de 37 servidores da Ebserh abrangendo médicos/médicas de quatro especialidades, e também de paramédicos. Atenção para o tempo que permanecerão em terras roraimenses: SEIS DIAS (de 27.08 a 01.09). Na prática, serão apenas quatro dias, afinal, no primeiro dia não se faz quase nada, e no último estará na hora de arrumar as malas. É, ou não é, politicagem?

DESINFORMAÇÃO Decididamente, muitos dos profissionais que alguns órgãos de imprensa estão mandando para cobrir a questão migratória em Roraima, são absolutamente desinformados e se esforçam para fazer valer a versão do governo federal. Não fazem o menor esforço para apurar a veracidade das informações, como aquela divulgada pelo Palácio do Planalto de que o governo federal já teria enviado para o governo de Roraima cerca de R$ 200 milhões para ajudar na recepção aos venezuelanos. É fácil apurar, basta pedir que o Palácio do Planalto descrimine o dinheiro enviado. O esforço desses profissionais é para levar à opinião pública a ideia de que o povo roraimense é xenófobo.