Parabólica

Parabolica 25 09 2018 6978

Bom dia,

IDEOLÓGICA  Pela primeira vez, em muitas décadas, a eleição para Presidência da República, no Brasil, adquire uma conotação marcadamente ideológica. Esta questão vem sendo escamoteada nos últimos tempos, desde que a eleição de Fernando Henrique Cardoso (FHC) transformou a disputa pela presidência num processo pendular entre o PSDB e o PT. Lula sucedeu a FHC; governou por oito anos, e elegeu um poste, Dilma Rousseff (PT), para continuar mandando; e com a ajuda dos tucanos, Michel Temer (MDB) tirou o PT do poder.

DIFERENÇA? E nessa disputa PT/PSDB, havia explicitamente, alguma diferença ideológica em jogo? Aparentemente não, apenas de tonalidade. Os governos de Lula e de FHC tiveram mais coisas em comum do que diferenças marcantes. Quem não se lembra que em junho de 2002, o então candidato Lula assinou uma Carta ao Povo Brasileiro, onde se comprometia a manter a política macroeconômica de FHC, que preservava especialmente a condição do Brasil como um dos principais cassinos para o ganho fácil do grande capital financeiro nacional e internacional?

SEMELHANÇA  Boa parte dos programas sociais de Lula – entre os quais o Bolsa Família, o Luz no Campo/Luz Para Todos – foi gestada no governo FHC. Os dois governos mantiveram o Brasil cobrando as maiores, e mais escorchantes, taxas de juros do mundo. Nos dois casos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi transformado numa grande alavanca de apoio ao grande capital; e nunca demonstraram vontade política para a implementação de uma política industrial que melhorasse a inserção do Brasil, na crescente globalização, que voltou a transformar o país, numa economia primário/exportadora, que hoje é chamada charmosamente de exportadora de commodities.

NAMORARAM Ambos os governos, de FHC e Lula, namoraram intensamente com os regimes internacionais de meio ambiente e de direitos humanos, condicionando as possibilidades de desenvolvimento do país aos ditames desses regimes e sua constelação de organizações não governamentais, nacionais e internacionais. Não por coincidência, ambos alimentaram muito fundamente o sonho de serem transformados em secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Esqueceram-se do que dissera um diplomata israelense – ao reagir a intromissão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na complicada questão israelita/palestino –, ao afirmar que o Brasil é um gigante econômico, mas um anão diplomático.

CONCESSÃO É claro, Lula apressou a guinada do Brasil à esquerda populista, com concessão aos chamados movimentos sociais, embora estimulasse frações do capital nacional (cartel de empreiteiras); em substituição à antiga aliança de FHC com a classe média da pequena burguesia. Mas, no fundo, foram governos muito iguais quanto ao verdadeiro interesse nacional.

OPÇÃO Este cenário que se está delineando com agora com a eleição polarizada entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) traz a disputa para este campo ideológico. O primeiro defende bandeiras do liberalismo econômico, do conservadorismo de costumes, do resgate de valores pátrios, e se eleito, vai fazer um governo de reformas naquela direção. Haddad não esconde ter um ventríloquo, e tudo indica será um presidente que vai aprofundar e tornar mais veloz a caminhada do Brasil à esquerda.

POLARIZAÇÃO  Muitos podem discordar dessa polarização esquerda/direita, mas estava na hora dos brasileiros e das brasileiras dizerem, sem escamoteação, que tipo de sociedade querem viver. Todos estão cansados desse jogo de faz de conta dos últimos tempos, tanto que o clima da campanha é pura paixão. Não tem mais clima para racionalidade; a esquerda quer a volta de Lula e do petismo, para tanto demoniza Bolsonaro. A direita não deixa por menos, diz que o Brasil está a caminho de ser uma grande Venezuela num horizonte próximo. 

JOGO BAIXO Aqui, candidatos endinheirados utilizam as redes sociais para baixar o nível da campanha. Pagam gente sem a menor qualificação para atingir a honra de seus adversários, utilizando fatos mentirosos e difamadores. Tocou o desespero nessa gente poderosa, que pela primeira vez vê a possibilidade do poder lhes escorregar pelas mãos. Ao que demonstram estão dispostos a utilizarem de tudo, inclusive, a desavergonhada compra de votos. Tudo com a cumplicidade dos órgãos que deveriam fiscalizar para manter um mínimo de lisura do pleito.

ENDEREÇO? Uma das peças da campanha do candidato ao Senado Federal, o ex-deputado federal Luciano Castro (PR), parece ter endereço certo: ele pede que os eleitores deixem de lado a história escabrosa do “rouba, mas faz”. Segundo os marqueteiros do candidato, se não roubassem poderiam fazer muito mais. De fato, esse cinismo que vem desde os anos 60 do século passado, com o paulista Adhemar de Barros, foi um dos combustíveis que levou a vergonhosa realidade mostrada pela Lava Jato. 

ENTENDER Quem está observando a dança dos números revelados nas pesquisas de intenção de votos não consegue entender coerência revelada por eles. A de ontem, do Ibope, mostra uma estabilidade entre os três melhores colocados: Bolsonaro, Haddad e Ciro, nesta ordem. Só que numa projeção de segundo turno, o candidato do PDT ganha de todos, e tem mais de 10 pontos porcentuais sobre Bolsonaro. Aliás, a esquerda está com todas as baterias voltadas contra o candidato do PSL.