Parabólica

Parabolica 10 12 2018 7362

Bom dia,

A decretação pelo presidente da República de intervenção federal em Roraima é uma espécie de ato final de uma novela que se estendeu por quase dois anos, e que dela, os roraimenses deverão lembrar como um dos períodos mais vergonhosos da história político-administrativa do estado. Com pouco mais de 30 anos que obteve a autonomia constitucional, Roraima com o decreto presidencial voltou àquela condição de simples autarquia administrativa da União, com seu governador/interventor subordinado diretamente ao presidente da República.

E aqui, não se trata de elogiar ou criticar a decisão de Michel Temer (MDB), um presidente moribundo, que chefiou um governo surgido de uma manobra política amparada na Constituição, mas que se viabilizou através de um golpe perpetrado com apoio de um Congresso Nacional, com flagrante envolvimento com a corrupção avassaladora revelada pela Lava Jato. Temer, indiciado em vários casos de corrupção, carece de autoridade moral de decretar intervenção num estado federativo, mesmo que a pedido de uma governadora flagrantemente despreparada para o exercício da função para qual foi eleita.

E no fundo qual dos dois, Temer e Suely, é o maior responsável pelo atoleiro orçamentário/financeiro e moral a que foi levado o estado. O presidente, que chefiou um governo federal cercado de aliados corruptos – só uma pequena minoria restou presa –, tratou dos assuntos de Roraima segundo os interesses politiqueiros de seus aliados no estado. Negou dar uma simples autorização para que o governo estadual pudesse emitir títulos definitivos em áreas rurais prejudicando o desenvolvimento da economia local; negou ajuda financeira para que o mesmo governo do estado pudesse enfrentar o problema da migração; e reduziu a pó, a transferência de recursos voluntários para a administração estadual na aposta de quanto pior o governo local, melhor para seus correligionários políticos locais.

Temer veio duas vezes a Roraima, e mandou seus ministros ao estado, sempre com a intenção de eleger seu maior aliado. Nessas ocasiões deixou claro a desimportância política da governadora do estado, tentou de todas as maneiras “encher a bola” de seus correligionários no estado, aos quais liberou verbas volumosas para a realização de obras de fachada, tipicamente eleitoreiras. Temer prejudicou o estado, mas não conseguiu o que queria, afinal seu companheiro de partido, o notório Romero Jucá foi derrotado na tentativa de voltar ao Senado Federal.

A perseguição que lhe moveu o governo federal de Michel Temer foi, sem sombra de dúvida, um dos ingredientes para a criação dessa situação caótica vivenciada neste final de governo de Suely Campos. É claro, isso está longe de justificar os erros e mazelas desse governo que sequer conseguiu terminar o mandato. A governadora é a principal responsável pela administração desastrosa que comandou nestes últimos quatro anos. Cercou-se de auxiliares inexperientes e arrogantes; não foi capaz de estabelecer um mínimo de articulação legislativa com os deputados estaduais, sendo refém deles em várias e decisivas situações; e deixou sua administração ser influenciada por familiares que lhe trouxeram inúmeros dissabores.

É claro não dá para ignorar outras enormes complicações que se somaram para tornar difícil o governo de Suely Campos, a começar pela enorme dívida pública estadual herdada da administração anterior, tanto a proveniente de empréstimos bilionários, quanto de pagamentos de fornecedores. Aliás, até hoje, não foi devidamente explicado o empenho de algumas pessoas muito próximas da então governadora que deram prioridade quase absoluta ao pagamento de faturas do governo anterior, às vezes, postergando a liquidação de suas próprias despesas.

O governo, que a intervenção federal terminou antes do prazo, teve ainda de encarar as consequências da chegada de milhares de migrantes venezuelanos, sobrecarregando os serviços púbicos estaduais, sem que recebesse qualquer ajuda financeira mais substancial do governo federal. Tudo isso é verdade, mas qualquer análise mais aprofundada vai mostrar que se houvessem sido tomadas medidas acauteladoras – muitas sugeridas à governadora –, todas essas dificuldades poderiam ser contornadas. Infelizmente, quase nada foi feito, e agora não adianta chorar o leite derramado.

É tarde, e o governo já acabou.

COMO SEMPRE

E não é que o notório Romero Jucá não perdeu, como sempre, a oportunidade de querer tirar algum proveito político de medidas do governo federal. No dia seguinte ao anúncio da intervenção federal no governo de Roraima, Jucá postou em redes sociais um pronunciamento avisando que tinha viajado de madrugada para Brasília a fim de ajudar a aprovar no Congresso Nacional o decreto de intervenção, que deve ocorrer entre hoje (segunda-feira) e amanhã (terça-feira). Antes, alguns correligionários andaram espalhando ter partido dele a indicação do governador eleito Antonio Denarium (PSL) para interventor.

INFLUENCIARÁ?

E nesse ambiente de intervenção, não falta especulação, sobretudo do mundo político. Fontes da Parabólica falam que até o final de dezembro ainda vão ocorrer, pelo menos duas operações policiais em Roraima. Outras fontes garantem que a intervenção é no Poder Executivo estadual, mas terá influência decisiva na eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado (ALE). Será?