Opinião

Opiniao 30 06 2018 6490

JUBILEU MISSIONÁRIO – Júlio Martins* Parte II

O padre Calleri, por exemplo, pode e deve constar no rol dos mártires cristãos. Como tantos na história da Igreja, ele selou com o próprio sangue a sua profissão de fé e deu a vida pela causa do Evangelho. Já na história de Roraima o lugar que lhe cabe é o de herói na grande obra, de importância vital para a região, que foi a quebra do isolamento secular a que estava condenado o estado. Ainda jovem, perdeu a vida, em 1968, na tentativa de pacificar os belicosos Waimiri-Atroari, diante da iminência da construção da rodovia BR-174, hoje a grande artéria por onde circula a vida e a riqueza do estado e faz a sua integração com o resto do Brasil.

Dom Servílio Conti, por sua vez, ao construir a Catedral “Cristo Redentor”, concluída em 1972, dotou, finalmente, a Igreja de Roraima da sua Sé episcopal. Localizada no Centro Cívico, a Catedral teve também omérito de representar a conclusãodo Plano Urbanístico de Boa Vista, projetado em 1944 pelo primeiro governador, capitão Ene Garcez dos Reis. A silhueta esbelta da Catedral tornou-se traçomarcante da identidade arquitetônica de Boa Vista.

Dom Aldo Mongiano fez da opção preferencial pelos índios o foco de sua longa ação pastoral, de quase 25 anos, que se tornou, assim, eminentemente missionária. Lutou pelo direito dos povos indígenas à posse da terra ancestral e,assim fazendo, despertou neles a consciência da própria cidadania. Ao mesmo tempo, proclamou corajosamente a necessidade de lhes ser reconhecida a filiação divina, logo, a dignidade e a liberdade inerentes ao “status” de filhos de Deus. Em consequência, mudou radicalmente e para semprea fisionomia da sociedade roraimense, fazendo-a mais justa, mais humana.

Dom José Nepote, o quarto bispo de Roraima e o primeiro aqui residente, teve a árdua tarefa de chefiar, nos anos difíceis do pós-guerra, a implantação dos Missionários da Consolata em Roraima. Tinha o jeito ameno, a fala mansa e uma vontade férrea. Deu continuidade, consolidou e amplificou as realizações deixadas pelos beneditinos. De início, o Colégio São José e o Hospital N.S. de Fátima, a cargo das irmãs. Depois, o Ginásio Euclides da Cunha, a primeira escola de nível secundário em Roraima, sob a direção dos padres. 

Diga-se, portanto, em abono da verdade, que os padres e as irmãs da Consolata, nesses 70 anos, evangelizaram o nosso povo com a palavra viva do serviço feito por amor, de acordo com a fórmula de santo Antônio de Pádua: “É viva a palavra, quando são as obras que falam.” Por suas mãos passaram, literalmente, gerações de roraimenses, nas salas de aula ou nas salas de parto ou de cirurgia. Quando um dia for erguido um monumento ou um panteão para guardar a memória dos grandes homens e mulheres que ajudaram a construir esta terra, os nomes deles e delas serão inscritos bem alto, em caracteres indeléveis. Não cabe mencioná-los aqui. Seria uma forma pobre e inadequada de prestar-lhes a devida homenagem.

Em 1974, como prefeito de Boa Vista, com aprovação da Câmara Municipal, tive a oportunidade de fazer a troca do nome de uma avenida no centro da cidade. Chamava-se Souza Junior, passou a denominar-se Nossa Senhora Consolata, numa justa homenagem ao Jubileu de Prata da chegada dos Missionários e das Missionárias da Consolata, que então se celebrava. Foi escolhida uma bela rua no bairro de São Francisco para receber o nome de Souza Junior. Ele foi um pioneiro, patriarca de uma família fundadora e ocupou o cargo de intendente, como eram então chamados os vereadores, na primeira Câmara, na instalação do Município, em 1893. Mas os seus descendentes, quando consultados, não fizeram objeção. Pelo contrário. Foram os primeiros a aprovar a homenagem, que era iniciativa do Município, mas expressava fielmente o sentimento de gratidão do povo de Roraima aos beneméritos filhos e filhas do bem-aventurado José Allamano e do Instituto Missões Consolata. Os nomes deles e delas estão gravados no coraçãodo povo de Roraima e jamais serão esquecidos.

* Ex-vereador, prefeito e deputado federal.

Como lidar com a timidez – Flavio Melo Ribeiro*

Muitas oportunidades se perdem por ter vergonha diante dos outros. É normal quando a vergonha não é constante, o problema é quando ela é constituinte da personalidade, tornando-se timidez. Essa característica não tem tempo de validade, pode durar anos. Ela ocorre diante do olhar do outro que julga, visto que a pessoa que está sendo percebida se dá conta que sua vida foi apreendida pelo outro e que este tem um conhecimento sobre ela da qual não tem controle.

Imagine a seguinte situação: você está só, em uma praia vendo a paisagem, está se sentindo bem até se dar conta de que está sendo observada por outra pessoa, imediatamente a situação muda, a tranquilidade deu espaço para a fragilidade, pois percebeu que a outra pessoa poderia ter feito algo contra você sem que você tivesse tempo de reação. Uma vez percebendo que está em segurança e consegue olhar o outro, é você que passa a julgá-lo. Esse tipo de vergonha, embora podendo ser eventual, já incomoda. 

Mas como superar a timidez? Não é algo fácil, no entanto, você pode começar escrevendo uma lista das atividades que já fez na vida e percebe que fez bem feito. Isso vai ser importante, pois é listando que você consegue visualizar melhor suas ações. Em seguida, comece a refletir sobre as suas qualidades que possibilitam o desenvolvimento de tais atividades e passe a se reconhecer como capaz. Aproveite e perceba o tempo que você levou para executar essas coisas. Perceba quantas horas você já tem de habilidade nessas atividades e perceba o quanto você já é seguro. Com o tempo você perceberá as vitórias que conseguiu e que servirão de base para enfrentar novos desafios. Se for difícil fazer sozinho, procure ajuda profissional.

*Psicólogo CRP12/00449; A Viver – Atividades em Psicologia desenvolveu programas psicoterapêuticos que possibilitam ser trabalhados em grupos e individual; [email protected] (48) 9921-8811 (48) 3223-4386 Página no Facebook: Viver – Atividades em Psicologia Canal no Youtube: Flávio Melo Ribeiro

Herança no poder – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Somos o único caso de democracia que os condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram”. (Joaquim Barbosa)

A corrupção, na verdade, é uma herança que herdamos dos colonizadores. O John Kennedy já disse que a história depende de quem a escreve. Assino em baixo. Toda a história que conhecemos, merece ser lida sob dos refletores. A nossa, por exemplo, tem mais fantasia do que verdade. E como seres humanos com a mentalidade ainda da era do dilúvio, preferimos dançar no ritmo da fantasia. E por isso não conhecemos nossa história verdadeira. A verdade é que como é muito mais simples lidar com o escravo do que com o empregado, preferimos o mais fácil.

É por isso que ainda não está nos programas dos nossos políticos, a educação política do cidadão que por isso ainda não é cidadão. Mas os resultados das últimas eleições no Estado de Tocantins nos alerta. Embora o caminho não seja esse, fica o alerta. Por outro lado, vai aumentar no meio político, o perigo do voto facultativo. Mas, por outro lado, os políticos inteligentes, que felizmente ainda existem, podem perceber que estamos indicando o caminho para a cidadania.

E como tudo começa pela Educação, deixemos o bagulho político de lado, e vamos nos preocupar com a Educação. E não é tarefa fácil. E por isso, nem mesmo os políticos, realmente políticos e competentes, têm coragem de encarar o problema diante da maioria de incompetentes e corruptos. Estes são maioria esmagadora. Do mesmo modo que esmagadoramente, cresce o número de eleitores despreparados e vulneráveis. Nem mesmo sabem que precisamos nos educar para podermos merecer o voto facultativo. Porque a vantagem do voto facultativo não está em você não votar se não quiser votar, mas em você ser politicamente preparado para saber quando realmente deve votar, e em quem.

Vamos nos educar para nos respeitarmos, e sermos respeitados. As eleições se aproximam e o que estamos vendo, e nos assusta, é que há um risco muito grande de os mesmos corruptos estarem concorrendo. Um perigo incomensurável, na medida em que ainda não podemos medir nossa capacidade de escolher nossos dirigentes. A maioria da população eleitora ainda não sabe que o político eleito é um servidor público a serviço do cidadão que o elegeu. Ainda fica se curvando diante do político, como se estivesse diante de Dom Pedro I.

Uma herança que já deveríamos ter esquecido. Ainda não acreditamos que somos todos iguais nas diferenças. E só seremos socialmente iguais, quando formos um povo realmente educado. Só aí seremos civilizados e respeitados como cidadãos. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460