Opinião

Opiniao 28 09 2018 6992

O que o código dos samurais nos ensina sobre liderança

Eduardo Shinyashiki*

Imersos no caos das mudanças e desafios do contexto atual, os líderes muitas vezes se sentem deslocados e podem se equivocar sobre as estratégias a serem tomadas, os tempos de ação, as escolhas, as decisões e as atitudes.

Mas, será que isso é possível? Será que podem aprender a ser mestres na arte da liderança, conseguir os resultados escolhidos e chegar à solução ideal, sem perder a saúde e a identidade? O encontro da cultura oriental com a ocidental pode ajudar a responder essas questões e formar novas possibilidades de entendimento e ação para os líderes das empresas.

É o caso do Bushido, antigo código de honra e um estilo de vida para os samurais, que fornecia parâmetros para esses guerreiros viver e morrer com honra. Literalmente, Bushido significa “caminho do guerreiro” e nele é possível identificar alguns princípios extremamente eficazes para o “caminho” do dia a dia de trabalho e algumas respostas relacionadas à liderança eficaz.

Entre os sete princípios identificados nesse código, temos a Honestidade e Justiça, isto é, seja honesto com os outros e com você mesmo. Não espere a justiça de fora, ela tem que vir primeiramente de você. 

Como é tão bem colocado no código de honra dos samurais: esconder-se como uma tartaruga na sua carapaça, não é viver. Esse é o princípio Heroico e Coragem, que tem como visão superar o medo de agir, de tomar decisões e ir além das limitações, que são desafios constantes no contexto empresarial.

Compaixão não poderia estar de fora desse código do Bushido. A força, o poder interior e o carisma que um samurai adquire no decorrer do seu treinamento e preparações são utilizados para a realização, principalmente do bem comum.

A Sinceridade também é valorizada como princípio no código. Quando um samurai exprime uma intenção de ter uma determinada ação, esta ação é, na prática, já realizada. Para o código dos samurais, só existe um juiz em relação à Honra – outro importante princípio –: ele mesmo. 

O sétimo e último princípio é o dever e lealdade, uma verdadeira lição. O Samurai assume a plena responsabilidade pelas suas ações. Nesse caso, lealdade é considerada também em relação aos seus próprios objetivos, a não abandoná-los na primeira dificuldade.

Seguindo essas reflexões, podemos compreender que a base para a conquista da maestria na liderança se resume na conquista de si mesmo por meio do profundo conhecimento da própria natureza interior. Para ter excelência no externo, precisa ter maestria no interno!

*Mestre em neuropsicologia, liderança educadora e especialista em desenvolvimento das competências de liderança organizacional e pessoal. Com mais de 30 anos de experiência no Brasil e na Europa, é referência em ampliar o poder pessoal e a autoliderança das pessoas, por meio de palestras, coaching, treinamentos e livros, para que elas obtenham atuações brilhantes em suas vidas. Mais informações: www.edushin.com.br

A interminável violência contra a mulher

Brasilmar do Nascimento Araújo*

Quando a psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen resolveu dividir o seu tempo em atender em seu consultório, em Paris, na França, e a escrever os livros: Mal Estar no Trabalho, Redefinindo o Assédio Moral e Violência no Casal, sobre comportamentos, o objetivo era: acender o farol na proa, iluminar! É como se alguém estivesse perdido em uma densa floresta e necessitasse de ajuda para abrir uma clareira para resgatá-lo, a uma saída.

É exatamente o que Marie-France propõe nos seus livros. Mostrar um caminho onde a mulher possa identificar ainda precoce, no seu companheiro, o que ela chama de homem-ventosa: aquele que gradativamente destrói a sua autoestima, suga, faz ironias, questiona suas habilidades e da sua família. Aterroriza a mulher de forma tão covarde que ela vai perdendo a sua própria identidade e para a sua total nulidade, é uma questão de tempo. Em muitos casos o desmoronamento é sem volta!

Em qualquer relacionamento é importante frisar que a imposição é inaceitável de ambas as partes. A interrupção de denegrir com palavras insidiosas e constrangimentos de toda ordem deve ser feita no início da relação. Caso contrário, os conflitos serão inevitáveis ao longo da convivência e, às vezes, com desfechos trágicos. O diálogo é o único caminho capaz de manter uma relação harmoniosa; ele é o ponto de equilíbrio, inclusive, em possíveis conflitos.

Em casos aparentemente insolúveis não resta alternativa, se não, a ruptura pura e simples, para que ambos busquem novos horizontes valorizando a vida. Ninguém deve viver em sacrifício de outro; se esse alguém está sempre do lado oposto de amar e de ser amado!

É bem oportuno lembrar a tragédia ocorrida com a brasileira Maria da Penha Fernandes, que ao sofrer duas tentativas de assassinatos, por parte do seu “companheiro”, em 1983, e ter ficado com graves sequelas (paraplégica), ainda teve de esperar por 18 anos, e contar com a intervenção da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da OEA – Organização dos Estados Americanos; para que, finalmente, o seu agressor fosse penalizado.

Hoje, a lei 11.340/2006, que leva o seu próprio nome Maria da Penha, é o símbolo da luta contra todos os agressores de mulheres. Homens não batem e nem matam mulheres. Homens respeitam. Homens, mesmo em momentos difíceis com a sua companheira encontram soluções que atenuam aquele conflito. Agora; aqueles que causam danos irreparáveis na sua companheira, seja física ou psicologicamente; esses se parecem com homens e não merecem comentários.

“Uma em cada três mulheres podem sofrer de abuso e violência em sua vida. Esta é uma terrível violação dos direitos humanos, no entanto, continua sendo uma das invisíveis e reconhecidas pandemias de nosso tempo”. Nicole Kidman – atriz australiana. 

A cumplicidade de um casal é fundamentada no amor. Somente o amor constrói alianças duradouras. É somente amando que edificamos as nossas proles sinalizando futuras gerações saudáveis e livres de qualquer tipo de violência. A relação é baseada em doar-se ao outro, em ser o outro, mas, sem deixar de ser você. São caminhos promissores para constituição de uma família. A amizade é o ponto de concordância; assim como os rios que necessitam de seus afluentes para sobreviver e alimentar os oceanos.

A mulher é um ser dotado de inteligência tanto quanto o homem, portanto, apta a ocupar os mesmos espaços. Provendo, educando e atuando nas mais diversas áreas. Pensa, logo fala. Tem liberdade de expressão ao culto e é o eixo perfeito ao lado de um homem na construção de laços de família.

Por todos os caminhos onde haja algum vestígio da presença humana, lá estará a mulher. Não somente no papel imprescindível de gerar vida, mas, parte inseparável na formação de uma pequena comunidade, ou, ainda, inserida no vasto mosaico de culturas de uma grande metrópole compartilhando e contribuindo para o bem comum.

Mulher. Ela é realizadora. Combatente. Trabalhadora e indispensável no seio familiar, independentemente de sua tendência religiosa, raça ou lugar. Ela é universal! 

*Articulista e Poeta. E-mail:[email protected] 

Todos somos pacientes

Oscar D’Ambrosio*

Quem nunca foi paciente que atire a primeira pedra! Quem nunca ficou fascinado pelo trabalho de um cirurgião atire a segunda! E quem nunca criticou a ação de um assessor de imprensa atire a terceira! Se você não atirou pedras nessas três situações, assista ao filme ‘O paciente’, de Sergio Rezende.

A obra, lançada em setembro, conta os úl
timos dias de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil, eleito pelo colégio eleitoral no Congresso Nacional, depois da ditadura militar. O foco está na doença do presidente eleito e nunca empossado, falecido em 21 de abril de 1985.

Deixando de lado o tom ufanista em alguns momentos e o final abrupto, que não comprometem as marcantes atuações de Othon Bastos e Esther Góes, nos papeis do político e de sua esposa, Risoleta, a obra levanta importantes questões. Entre elas, destacam-se o erro médico, a vaidade dos cirurgiões e a relação entre a área médica e a de comunicação.

O diretor enfatiza como, no momento da doença, uma pessoa famosa é igual a qualquer outro ser humano. Também condena os egos hiperdesenvolvidos presentes nas salas de cirurgia e nas juntas médicas, onde, muitas vezes, opiniões pessoais são colocadas acima da saúde do paciente. E, ainda, enfatiza como tratar a assessoria de imprensa com respeito e profissionalismo é saudável para todo o processo de comunicação com a família e com a sociedade no caso de celebridades.

Por tudo isso, o filme lembra que todos nós somos pacientes potenciais de um sistema de saúde nem sempre competente para lidar com as questões apontadas. A base de tudo parece estar na humanidade das relações. Enquanto doentes, médicos e jornalistas agirem como deuses, o resultado será a ira do destino, ele exista ou não.

*Mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Brasil esse colosso imenso

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Somos o único caso de democracia que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram.” (Joaquim Barbosa)

A cultura brasileira é produto de uma miscigenação. Se não fosse assim não teria graça. Mas precisamos tomar cuidado. Já falei pra você do quanto me diverti com a miscigenação na língua portuguesa em São Paulo, com a chegada dos nordestinos em Sampa, no início da década dos cinquentas. Foi divertido pra dedéu.

O sotaque da garota paulistana, por exemplo, era exatamente igual ao da garota paulista. Na última vez que estive em Sampa, e não faz muito tempo, eu atravessava a calçada do Fórum João Mendes. Na minha frente iam duas garotas conversando. O sotaque delas me chamou a atenção. Era a coisa mais suave. Maneirei nos meus passos para acompanhá-las, não interessado na conversa, mas no sotaque. É gostoso pra dedéu. 

Quando eu viajava pelos interiores do Estado, observava a diferença nos sotaques paulista e paulistano. Coisa que não acontecia seis décadas atrás. O sotaque paulista tem o “R” rolado. O paulistano já não o tem mais. E tudo resultado da influência da “invasão” nordestina. Quem conheceu o centrão da cidade de São Paulo no início dos anos cinquentas, sabe do que estou falando. O centro paulistano parece mais, atualmente, um pequeno nordeste. E não estou brincando. Estou falando sério.

Ninguém pode imaginar o que era o Parque D. Pedro, nos anos cinquentas. Só quem viveu aqueles dias pode se lembrar dos momentos que vivemos debaixo das árvores no Parque. Ele hoje está tomado por uma estação de metrô e não vemos mais árvores por ali. A Praça da Sé parece mais um abrigo de moradores de ruas. Mas, nada nesse descontrole encortina a beleza do sotaque da garota paulistana. Nada contra o sotaque da garota paulista. Estou me referindo à mudança causada por uma desconhecida e ignorada miscigenação que os intelectuais podem chamar de linguística. Não me faz diferença. O importante é que demos mais atenção às mudanças que ocorrem na nossa língua, e que nos enriquece. 

O carioca já não viveu essa transformação. Cariocas e fluminenses têm o mesmo sotaque. Nada mudou, a não ser o linguajar marujo do final da metade do século vinte. Quem chegar à Praça Mauá, no Rio de Janeiro, hoje, não tem ideia de como era aquele ambiente naquela época. Época que eu costumo chamar de tempo da marujada. Ontem, cheguei ao caixa do supermercado e a garota me perguntou se estava tudo bem. Respondi que estava tudo na base do agrião. Ela riu sem entender. Mas era assim que os marujos falavam, na Praça Mauá, naquela época. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460