Opinião

Opiniao 22 05 2018 6242

Polícia para quem precisa de polícia – Walber Aguiar*

“Toda força bruta representa nada mais do que um sintoma de fraqueza” Zé Geraldo

Chama o ladrão! Diz Chico Buarque em uma de suas canções. Isso, por ver na figura do marginal uma sensibilidade e um trato humanos (não em todos, obviamente) que parece inexistir em muitos policiais.

Ora, polícia não é para bater em ninguém com o cassetete coberto de flores, nem para atirar naqueles que fazem descaminho de combustível. Chama-se o ladrão pelo fato de nele se depositar maior credibilidade, maior confiança. Pelo menos o ladrão é mais autêntico naquilo que faz, e não precisa estar encoberto por um disfarce institucional, para impor respeito.

Houve um tempo em que se chamava a polícia, sim senhor. Tempo das janelas abertas e sem grades, tempo em que bandido era algo raro, em que homens vestiam farda e se assumiam como protetores do povo.

Hoje, papéis e valores são invertidos. Ao invés de passar uma imagem de confiança, o policial inspira medo e terror. Um dos motivos para isso é que qualquer desqualificado pode fazer parte das corporações e se vestir de um corporativismo arrogante. Daí o fato de se continuar chamando o ladrão.

E o ladrão vem. Isso porque o meliante não se ocupa com detalhes banais. Sua única preocupação é com a subtração de bens. Já os policiais, bem, estes continuam “colocando chifre em cabeça de cavalo”, cuidando de uma função que não é sua.

Para multar por qualquer besteira agem com dinamismo, para caçar bandidos são de uma lerdeza incomparável. É a promoção da indústria da multa, que persegue cidadãos corretos e não anota a placa dos carros oficiais que passeiam livremente pela cidade, de banho em banho, de escola em escola.

Enquanto os “soldadinhos de chumbo” perdem tempo guardando homens que podem pagar pela segurança privada, a periferia convive com o aumento sintomático da violência. Tiros, facadas, roubos, estupros, agressões, rixas e furtos fazem parte do cotidiano depressivo e estressante do universo periférico. Polícia para quem precisa de polícia!

Nessa perspectiva, chamar o ladrão é desacreditar cada vez mais do trabalho de quem deveria nos proteger, mas termina por “encher o saco” e abusar da autoridade na hora de abordar as pessoas. Polícia não é para quem fuma maconha ou trabalha de sol a sol, nessa sociedade hipócrita e desigual. Polícia é para sair na porrada com bandido, capturar marginal e desbaratar quadrilhas; seja as de “colarinho branco” ou preto.

Polícia é para quem precisa de polícia!

* Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras.   E-mail: wd.aguiar@gmailcom

 

Somos iguais perante a lei e ponto final. – Marlene de Andrade*

“Filho meu, guarda o mandamento de teu pai e não deixes a lei de tua mãe.”(Provérbios 6:20).

Aos dez anos devido à pobreza saí da escola, mas não abri mão dos meus sonhos e voltei a estudar aos 15 anos. Nunca me vi como vítima e hoje, aos 70 anos, continuo trabalhando entusiasmadamente desafiando os percalços diários.

Meu pai aos 36 anos ficou paraplégico e cego, contudo continuou sendo um esposo amado, conformado e ponderado, um pai maravilhoso. Minha mãe hoje com 90 anos é uma mulher de garra não feminista e sim feminina e que nunca se empoderou dentro do lar.

Nós éramos pobres, mas vejam o legado de meus pais: um filho contador que também é advogado, uma engenheira que se formou também numa faculdade de alta-costura quando então começou a fazer vestidos de noiva se tornando uma referência no RJ nesse ramo, juntamente com sua filha que também seguiu essa profissão. Quanto à outra filha, é ela a famosa Manoela Cezar que esteve aqui em Roraima, semana passada e é formada em jornalismo e cinema pela UFF e se tornou uma blogueira de renome inclusive internacional. Ela veio ao Shopping Garden para ministrar palestras no ramo de casamento. Seu blog tem o nome de Colher de Chá Noivas.

Outro meu irmão se tornou especialista em serviços navais e se aposentou pela Marinha Brasileira. Ele teve três filhos todos com 3º grau, sendo que uma de suas filhas fez duas faculdades e exerce uma função importante na Faculdade Estácio, lá no Rio. O outro irmão só estudou até o nível médio, mas se tornou um excelente profissional eletrônico, porém seus filhos todos se formaram e vivem muito bem.

Eu tive três filhas e muito me orgulho delas, pois são pessoas dignas, sendo duas advogadas e a caçula é empresária estilosa da franquia Avatim no Garden e está abrindo uma loja exclusiva da Cia. Hering, no mesmo Shopping.

Desde cedo eu e meus irmãos mais velhos trabalhamos, com exceção dos mais novos que só estudaram sem Fies. Eu fui empregada doméstica dos 14 anos até os 22 anos quando passei no meu 1º vestibular de medicina pela UFF, sem cotas, Bolsa Família e outros engodos, pois corri atrás dos meus sonhos e graças a Deus até hoje tenho vencido.

Já está ficando enfadonho escutar esse discurso de alguns políticos corruptos e ricos, com essa arenga cansativa de vitimização que o negro e o índio sofrem como se o branco também não sofresse devido à corrupção endêmica no Brasil.

Chega de cotas e de ideologia racista e vamos rumo à luta destemidamente, pois volto a repetir: somos todos iguais perante a lei e o que precisamos, agora, é mudar a história do Brasil para não virarmos uma Venezuela, Babilônia de Satanás e demais países latino-americanos, tão sanguinários quanto à ditadura de Maduro.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT

 

Pensadores que não pensam  –  Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Milhões de pessoas ainda compõem a massa humana impensante: escravas das opiniões dos outros, não pensam por si mesmas”. (Waldo Vieira)

Acho até que o Waldo está sendo modesto. O número de pensantes que não pensam vai muito além de milhões. São pessoas incapazes de dirigir suas próprias vidas. Vivem se benzendo para se livrarem do que os outros lhe dizem ser pecado. E nem mesmo sabem o que é o pecado.
Conhece alguém assim? Eu conheço um zilhão. Perderam ou nunca tiveram a capacidade de pensar com liberdade. Nem sempre são capazes de observar os avanços da humanidade. Se bem que tais avanços não vão além de pensamentos limitados. Desculpem-me os católicos, mas pode haver algo mais anacrônico do que a atual discussão no vaticano, sobre se aceitam ou não os homossexuais? Acho que eles estão na dúvida se os homossexuais são ou não, filhos de Deus. E olha que estamos assistindo a esse absurdo no século vinte e um da era cristã.

Quando será que o ser humano vai realmente ser um ser racional? Talvez, em algumas eternidades ainda tenhamos que viver, morrer, nascer e caminhar, pelas idas e vindas, em busca da racionalidade. Mas a verdade é que nunca seremos racionais enquanto vivermos agrilhoados a pensamentos nada racionais. O preconceito ainda será, por muito tempo, um dos piores entraves para o desenvolvimento humano. E ainda vemos milhões e milhões de seres humanos curvando-se a ele até dentro nas religiões que ainda são um grande centro de preconceitos.

No final dos anos cinquenta, do século passado, eu ficava observando como as mulheres eram barradas pelos policiais, na entrada da Catedral da Sé, em São Paulo, porque vestiam blusas sem mangas. Recentemente, (século vinte e um), assisti a uma discussão entre dois pastores evangélicos, ali na Rua Conde de Sarzedas, em São Paulo. Um dos pastores dizia que não permitia que as mulheres entrassem na sua igreja usando saias vermelhas nem sapatos altos. Parei na calçada e fiquei, disfarçadamente, olhando para a cara do cara, para ver se ele estava brincando. Mas não estava. E isso foi bem recente.

A vinte e uma eternidades, caminhamos por caminhos tortuosos sobre esta Terra. Chegamos aqui por livre arbítrio. Chegamos e ficamos por livre e espontânea vontade. Arcamos com a responsabilidade e ainda hoje pagamos pela decisão. Se ela foi certa ou errada, não sei. Mas sei que o acerto vai depender de como e o quanto somos capazes de pensar. E nunca seremos capazes se não nos libertarmos no caminho da racionalidade. Ou nos libertamos ou continuaremos massa impensante. Pense nisso.

*Articulista – [email protected] –  99121-1460