Opinião

Opiniao 15 09 2018 6924

Como as novas tecnologias apoiam o combate à corrupção nas empresas

Cassiano Machado*

Atos de corrupção e outros desvios são cada vez mais difíceis de serem perpetuados sem deixar rastros digitais. Os avanços na tecnologia ampliaram a capacidade das empresas prospectarem cada vez mais informações sobre a ocorrência de atos ilícitos em seu ambiente e interfaces, potencializando a descoberta destas irregularidades e a condução efetiva das investigações.

Estas tecnologias processam e analisam dados capturados de diferentes origens, tornando-se uma rica fonte para o desenvolvimento de análises preditivas e correlações, além de trazerem ganhos para a eficácia dos esforços de apuração das irregularidades.

Assim como o mapeamento de dados na internet, por meio de buscas automáticas ou manuais de conteúdos disponíveis nas redes sociais, marketplaces, como o Mercado Livre, e órgãos públicos e privados de informação, permitem o entendimento de diversos aspectos, dentre eles, o perfil comportamental e o estilo de vida do investigado fora do ambiente corporativo. É possível analisar suas redes de relacionamentos, situação patrimonial, posição societária, histórico judicial e até sua presença em listas de restrições financeiras ou governamentais.

Logs de acesso físico, varredura de arquivos em rede, análise forense de discos rígidos e celulares, além da análise de imagens de circuito interno de TV são também outras fontes de dados digitais disponíveis que ajudam as organizações a detectarem o ato ilícito de seus colaboradores. Inclusive contando com a ação de denunciantes, de dentro ou fora do ambiente de trabalho, que podem encaminhar ao canal de denúncias da empresa evidências em formato digital, como gravações de áudio, vídeo e fotos.

Por falar em canal de denúncia, a ferramenta pode ser o primeiro passo das companhias no combate à corrupção. Com o apoio da internet, dos smartphones e das conexões globais de dados e telefonia o canal interliga o denunciante com a estrutura especializada de captação de denúncia, agilizando a etapa de investigação sem risco de exposição do denunciante. A Odebrecht, por exemplo, reforçou o seu compliance ao terceirizar o Linha de Ética, um canal dedicado a receber relatos e denúncias de comportamentos não éticos e violações às políticas internas, regras e legislações.

Todas estas tecnologias já estão disponíveis e outras estão em plena evolução. Quando empregadas com inteligência, expandem a capacidade de combate à corrupção e outras irregularidades nas empresas, promovendo inibição, maior segurança e facilidade para o registro de denúncias e para a detecção de sinais suspeitos e coleta de evidências. Tudo isso maximiza a capacidade de gestão e atuação preventiva e investigativa das organizações.

*Sócio-diretor da ICTS Outsourcing, empresa de serviços relacionados à gestão de riscos e compliance.

O mal-estar dos professores

Gilberto Alvarez*

O projeto Todos pela Educação e a Fundação do Banco Itaú, denominada Itaú Social, divulgaram pesquisa que contemplou o tema da satisfação dos professores com a profissão docente.

Segundo essa pesquisa, apenas 21% dos docentes se sentem plenamente realizados e satisfeitos com a profissão.

São números, de fato, alarmantes. Mas é necessário analisar esses dados levando-se em consideração, nessa “fotografia”, aquilo que aparece de imediato daquilo que permanece nas entrelinhas, nas bordas das imagens. O Brasil consolidou, a partir da década de 1970, um sólido sistema de pós-graduação, por mais paradoxal que isso possa parecer num país que até hoje tem inconsistências no âmbito da educação básica.

Mas o fato é que, a partir daquela época, o país passou a produzir de modo sistematizado um número significativo de dissertações e teses sobre educação. O primeiro doutorado em Educação foi defendido em São Paulo, em 1971. À medida que os Programas de Pós-Graduação em Educação se estruturaram alguns temas se mostraram mais presentes do que outros.

Se por um lado as questões que relacionavam educação e política e educação e trabalho foram buscadas por centenas de pesquisadores, por outro lado a pesquisa educacional brasileira ocupou-se continuamente com o tema da profissão docente, sua profissionalidade e seus temas específicos.

É importante lembrar esse passado recente não exatamente para afirmar que a iniciativa do Todos pela Educação e do Itaú Social não é inédita, mas sim para reconhecer sua importância e assinalar que o tema faz parte da tradição brasileira de pesquisa educacional.

Na década de 1990, por exemplo, entre as “queixas docentes” mais recorrentes despontava o tema da falta de homogeneidade nas turmas, com alunos com diferentes trajetórias e capital cultural, todos reunidos na mesma sala de aula, proporcionando “entraves” ao trabalho docente.

Essas “queixas” proporcionavam densas análises a respeito do quando a educação na forma escolar, ou seja, nas dinâmicas que exigem trabalhos sincronizados e simultâneos, produzia, ao mesmo tempo em que incluía e escolarizava, exclusões e escolarizações incompletas. Neste início do século 21 tornou-se mais intenso o lamento em relação à deterioração das condições de trabalho.

Nesse sentido, antes que as questões salariais despontassem como exemplo da desvalorização do trabalho do professor é importante lembrar que predominavam queixas relacionadas à instabilidade.

Continuamente os professores se queixavam de que tinham que trabalhar em muitas escolas ao mesmo tempo, pois nenhuma oferecia condições de estabilidade e permanência.

Portanto, tentavam chamar atenção para as características que o trabalho docente estava adquirindo. Tornava-se, em muitas circunstâncias, um trabalho itinerante e fracionado. E sempre despontava o registro de que o professor dependia de cargas exaustivas de trabalho para conseguir completar ganhos mínimos à subsistência. O início do século XXI “estabilizou” uma nova queixa, a de que os professores se sentiam “pouco preparados”.

Essa queixa coincide com os resultados de uma dinâmica levada a efeito na década de 1990 quando uma espantosa abertura de licenciaturas privadas foi incentivada com princípios meramente mercantis. Empresas educacionais foram estimuladas a oferecer os “cursos mais baratos”, entre os quais dominantemente as licenciaturas.

Se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9494/1996, exigiu que a formação de professores fosse obrigatoriamente derivada da certificação em nível superior, uma vitória política sem sombra de dúvida, por outro lado, os cuidados governamentais com a estruturação do ensino superior foram nulos, e estimularam grande mercantilização e expressiva e constrangedora opção pelo aligeiramento. Neste momento, a insatisfação docente soma vários aspectos desse passado recente. O professor não se encontra insatisfeito apenas com defasagens salariais. Está em andamento um processo de ressignificação das palavras valorização e desvalorização.

No âmbito da desvalorização se instala uma questão que inevitavelmente se dirige à sociedade e ao Estado em particular.

A questão que se apresenta diz respeito aos limites do desrespeito. Até onde nossa sociedade caminhará até que reconheça a docência como central na própria organização do Estado e do país?

Na soma das pesquisas encontramos um ator social, o professor, menos queixoso de seus ganhos e mais um sujeito político a falar de reconhecimento e legitimidade.

Reconhecimento e legitimidade são palavras chave da democracia. Diz respeito a ser possível indicar rapidamente o que importa, o que predomina, o que é imprescindível.

Que
o incômodo dos professores traga para nossas lutas políticas a substância que alimenta a convicção de que reconstruir o país passa, necessariamente, pela escuta respeitosa e reverente das queixas desses que não são sacerdotes realizando um ofício baseado na entrega pessoal e no “chamado vocacional”. São sim, como já afirmava Emile Durkheim no fim do século 19, profissionais e sujeitos políticos capazes de elucidar os que nos faltou no passado, o que nos prende no presente e o que haverá de nos emancipar no futuro.

*Diretor do Cursinho da Poli e presidente da Fundação PoliSaber.

Questão de inguinorança

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A inguinorança é que astravanca o pogreço”. (Odorico Paraguassu) 

O difícil mesmo, num país subdesenvolvido, é distinguir a Educação da Cultura. No movimento extraordinário que fizemos entre 2008 e 2010, percebemos que a Cultura está onde a inteligência está. Foi nos movimentos culturais que vivemos com grandes artistas no artesanato, nos interiores dos Estados, que descobrimos o que a Cultura é realmente. E não é à toa que a escrevo com letra maiúscula. Tem muita gente que me acha chato por eu repetir frases. Mas é necessário repetir. A Cultura Racional diz que o ser humano só aprende com as repetições. E isso não quer dizer que eu esteja querendo ensinar coisa nenhuma. Mas também sei que você já entendeu o blá-blá-blá.

Está me preocupando, a aproximação das eleições. Sei que de nada adiantaria prorrogá-la. Seria até uma tolice. Mas o que me preocupa é o despreparo da maioria dos candidatos, no âmbito da política. E isso em todo o grande e despreparado Brasil. Você sabia que já tivemos, anos atrás, um vereador carioca que apresentou uma proposta de lei, de aposentadoria para os cavalos que trabalhavam com carroças? O vereador era um ator de novelas da TV, eleito vereador no Rio de Janeiro. Talvez tenha sido isso que levou o Afonso Arinos a dizer: “Os partidos nacionais são arapucas eleitorais e balcões de vendas.” O que eu assino em baixo. Então tenha cuidado se você vai votar no partido ou no candidato. O que não faria diferença, considerando-se o despreparo de partidos e candidatos, Brasil afora.

O grande Ulisses Guimarães também nos deu uma dica: “Na Câmara não há bobos. O menos esperto ficou na suplência.” E é nessa piroga furada, que nós, brasileiros, politicamente despreparados, navegamos nas águas turvas do progresso. Mas não desanime. Vá sempre em frente. Olhe sempre para frente e vá rumo ao horizonte inatingível porque é assim que o mundo vai melhorar. Mesmo sabendo que ainda temos muita estrada a percorrer. Mas o Bob Marley também disse: “A vida está para quem topa qualquer parada, e não para quem para em qualquer topada.” Mas nem tudo está perdido quando resta uma esperança. E a esperança está em nossa consciência de cidadãos. 

Mas vamos pra mais uma frase que você já conhece. É do Jarbas Passarinho: “Com o Congresso podemos até não ter alguma liberdade, mas sem o Congresso não teremos liberdade nenhuma.” Leve isso em consideração e não deixe de votar, nem venda seu voto. A peneira com a qual devemos limpar, tirando a sujeira da nossa política, é o nosso voto. E por isso devemos ser conscientes da nossa responsabilidade. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460