Opinião

Opiniao 16 02 2019 7703

O emprego em um ambiente com alto desemprego

Agostinho Celso Pascalicchio*

Luiz Antonio de Lima**

A produção depende da forma de alocar capital e mão de obra em uma sociedade. Os impostos podem colaborar na alocação ou realocação dos recursos entre os diferentes fatores de produção, por diferentes regiões ou entre os diferentes setores. Quanto mais altos são os impostos, ou maior a tributação, os recursos da sociedade são sistematicamente transferidos para segmentos de baixa tributação. Da mesma forma, quando um desconto sobre um imposto é oferecido, ele poderá incentivar a alocação de recursos em favor do desenvolvimento de indústrias nascentes. Pode haver uma realocação de recursos de regiões altamente tributadas para as regiões com baixa tributação. Os impostos podem mudar o padrão de produção em uma economia. A produção de bens de luxo pode ser restringida e a de bens de primeira necessidade melhorada. Um elevado imposto sobre bens de consumo luxuosos tem um impacto benéfico, uma vez que os recursos da produção desses bens serão desviados para bens essenciais ou de primeira necessidade com a baixa tributação atuando como força estimuladora. Alguns impostos, no entanto, podem provocar uma má alocação de recursos, mudando o padrão de produção de alguns setores de uma maneira socialmente indesejável. Assim, tributos e encargos incidentes sobre o emprego, se forem elevados, a geração de emprego é desestimulada e cresce o desemprego. Os altos tributos e encargos – gerando ônus elevados sobre a geração do emprego – desestimulam a geração de novas contratações ou posições de trabalho. O aumento do emprego formal é desestimulado. As empresas contratarão apenas em situações em que a mão de obra apresentar grande eficiência produtiva. A alta tributação e os encargos geram uma alocação eficiente da mão de obra na empresa, ou seja, o trabalhador é contratado por estas empresas apenas quando extremamente necessário. Alguns tributos podem promover uma realocação desejável de recursos se forem reduzidos e no caso das taxas e encargos sobre salários, a sua diminuição ou a eliminação de alguns dos ônus pode causar melhorias sociais. Pode gerar o esperado aumento do emprego. Assim, não podemos negligenciar as implicações sistêmicas de longo prazo, quando os excessos tributários incidem sobre a mão de obra para as empresas que estão nascendo, para as “startups”, ao desestímulo intrínseco ao empreendedorismo, levando empresas a reduzirem as contratações ao mínimo, reduzindo a quantidade e a formação de novos empresários, gerando ciclicamente um freio ao desenvolvimento e à desejada redução do desemprego. *Coordenador do curso de Engenharia de Produção da Universidade Presbiteriana Mackenzie, professor de economia, doutor em Ciências pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo. **Professor de planejamento estratégico e logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestrado e doutorando em Administração pelo Mackenzie.

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A banalização da morte e os ‘cinegrafistas’ de plantão

Renê de Almeida*

O ano de 2019 começou sob a marca mortífera das grandes tragédias. A saber: em Brumadinho, em Minas Gerais, teve o seu momento de terror em face da negligência, descaso, banalização para com a vida humana, oriunda dos gestores da multimilionária Vale do Rio Doce que, mesmo ante as evidências, dos sinais dos céus e da terra, permaneceram inertes, silenciosos, nababescos, culminando nas mortes confirmadas até o momento de quase 170 indefesas vítimas, cujos números certamente ultrapassarão duas centenas.

Após isso, uma chuva torrencial se abateu sobre o sofrido Estado do Rio de Janeiro, levando sete pessoas a óbito, até o momento, além de desenfreada destruição do patrimônio de centenas de pessoas.

Em ato contínuo, jovens atletas do meu querido Flamengo, adolescentes que viam no mundo do futebol a única esperança de melhoria de qualidade de vida para si e seus familiares, em um dormitório/contêiner, morreram carbonizados, fruto no mínimo, da desídia de dirigentes esportivos, autoridades dos órgãos de fiscalização/controle daquele Estado, que permitiram, ainda que aplicadas cerca de 30 autuações/multas, que aqueles pobres adolescentes ficassem segregados em um ambiente sem o mínimo de segurança preventiva para casos de incêndios, conforme claramente já está evidenciado.

Por fim (por enquanto), na última segunda-feira, 12, ao retornar para São Paulo, oriundo de Campinas, aonde fora a trabalho como palestrante, Ricardo Boechat teve morte trágica por carbonização, quando o helicóptero que o conduzia caiu e ainda chocou-se com um caminhão que trafegava em uma rodovia paulistana. No mesmo trágico acidente, também morreu o piloto do helicóptero, além de ferimentos no motorista do caminhão. Aqui, no tocante ao ferido motorista do caminhão, que ficara preso na sua cabine, desejo tecer os meus comentários ainda mais indignados.

As imagens que circularam o Brasil e o mundo mostram uma jovem mulher, guerreira, humana, corajosa, gente, filha de Deus, SOZINHA, tentando desesperadamente desamassar, com a pequena força dos seus braços, a cabine do caminhão para dela retirar a vítima que ali estava, e pasmem, conseguiu salvar aquele homem, certamente com força hercúlea que Deus a dotou naquele momento ímpar da sua vida, enquanto que bem próximo, a alguns poucos metros, um bando de moleques, covardes, frouxos, sem apego à vida humana, com desapreço aos seus semelhantes, de posse de seus inseparáveis celulares filmavam as cenas de terror, de morte, de fogo, de gente carbonizada, sem ouvirem aos horripilantes gritos de dor, do terror da morte, gente que pedia a eles para que não os deixassem morrer.

Serão esses indivíduos, cinegrafistas de ocasião, surdos, cegos, loucos, bandidos que oxigenam suas vidas com as desgraças alheias?

Ou são apenas filhos de ninguém, seres sem coração, animais irracionais, ainda que nascidos de um ventre de uma mãe humana?

Todas as cenas trágicas citadas acima foram marcantes para mim e para milhões de outras pessoas, mas ao ver aqueles moleques filmando a morte se aproximar das vítimas da colisão do helicóptero com o caminhão e permanecerem inertes e alegres por poderem filmar aquelas cenas de terror sem ao menos tentarem ajudar a guerreira mulher que, desesperada, buscava salvar o motorista que brigava pela vida, enquanto eles, os moleques dos celulares, apenas brigavam por conseguirem imagens de uma bela morte, me veio uma enorme indignação, uma vontade tremenda de poder estar lá naquela local, tentar ajudar aquela pobre mulher a salvar o pobre motorista e, em seguida, arrebatar das mãos dos covardes e desumanos cinegrafistas os seus celulares, jogá-los ao fogo que consumia os corpos das duas outras vítimas, e determinar em seguida: vá lá, busquem os seus celulares, bando de abutres.

*Delegado de Polícia e Presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Roraima

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Repensar o gasto público para crescer

 Carlos Rodolfo Schneider*

O problema fiscal do país tem um diagnóstico claro: é gasto e não receita. As receitas já estão esticadas: 33% de carga tributária, quase 80% de dívida e deficit primário de 2% do PIB. Já existe excesso de transferência de recursos da sociedade para o Poder Público, de quem gasta bem para quem gasta mal, o que afeta a eficiência da economia e a taxa de produtividade. E, quanto maior a fartura de recursos, segundo Raul Velloso, especialista em contas públicas, maior corrupção, desperdício e ineficiência. p>

O que vale para a União, vale para Estados e Municípios. Não por acaso, o Rio de Janeiro, Estado com o maior desequilíbrio nas contas, é o que mais recebeu e tem recebido recursos, para a Copa do Mundo, para as Olimpíadas e pela arrecadação de royalties do petróleo.  É o Poder Público deixando de servir o público para dele servir-se. Mesmo que existam alguns bons exemplos de controle de gastos, como o do desembargador Manoel Pereira Calças, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, que conseguiu reduzir em 30% os valores dos contratos renegociados em 2018, e que foi checar uma solicitação de verba de R$ 240 mil para impermeabilizar uma caixa d’água, sabendo de que uma nova não custaria mais de R$ 25 mil.

A Reforma da Previdência, o aumento de eficiência das despesas, para viabilizar a sobrevivência da lei do Teto dos Gastos, são medidas necessárias para gerar investimentos que permitam ampliar o PIB potencial, mantendo a inflação e os juros baixos. Segundo o governo, em dez anos, a lei mencionada, aprovada em 2017, permitiria a despesa pública federal cair dos 20% do PIB para os 15% que tínhamos no início da década passada.

Quanto à velocidade do ajuste, é importante observar o que ocorreu na Argentina. A falta de pressa deixa o país mais vulnerável a imprevistos. Importante aprovar a Reforma da Previdência, pela importância que tem para o ajuste fiscal. Lembrando que a proposta que está no Congresso já foi aprovada nas comissões, aguardando aprovação nos plenários da Câmara e do Senado.

*Empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente

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Vendo a vida

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Para que levar a vida tão a sério, se a vida é uma alucinante aventura da qual jamais sairemos vivos?” (Bob Marley)

Desde o dia em que cheguei à Ilha Comprida, todas as manhãs fico ali na varanda cumprimentando o espaço. E o espaço aqui na Ilha não é mero espaço. Minha visão fica sempre fixa na imagem do Cristo, lá em cima do monte, no município de Iguape. Até que, recentemente, recebemos a visita de minha neta Márcia Oliveira. E ela encantou-se com a visão do Cristo, no monte. E fomos visitá-lo. Sou um péssimo antifotogênico. Mas ninguém respeita isso e estão sempre me fotografando. E você já imaginou uma foto minha aos pés de um Cristo enorme e de braços abertos sobre um monte? Pareço mais uma formiga sobre uma pedra. E por isso não enviei, nem enviarei a foto pra ninguém que me conheça. Mas o pessoal está me tirando do sério. Você não imagina o quanto tenho divertido a família com fotos, que fizeram e enviaram, de mim cantando à noite, numa churrascaria. Acredite, eu estava só fingindo cantar, junto com a Márcia. Foi legal pra dedéu.

Mas vamos falar sério. Concluí que o melhor na vida é mudar de vida. Sair do cotidiano. Estar sempre onde nunca estive. Buscar a novidade onde ela está. E estou fazendo isso. Não importa, nem interessa minha idade cronológica. O que importa é que eu viva cada minuto que me resta de minha vida, como se ela não fosse acabar. O Bob Marley alerta para essa verdade. Para que levar a vida tão a sério? Cada momento da vida deve ser vivido. O importante é que sejamos felizes enquanto vivemos. Enrugar a pele não significa enrugar o espírito. Por que ficar de cara amarrada quando você pode e deve sorrir e rir? Todos os dias eu chego à praia e fico mirando a imensidão do mar aberto e, aparentemente, infinito. Deleito-me sem vulgaridade.

Chegamos mais uma vez a um fim de semana. E como você a viveu? Quanto se divertiu sem espalhafatos? Quanto colaborou para a felicidade dos que estiveram à sua volta? Inicie essa tarefa enriquecedora. Não enriquecemos nosso espírito com farturas em objetos e recursos financeiros, mas no estilo de vida dentro da racionalidade. E ser racional é reconhecer-se no seu grau de evolução racional. Porque você é o que é e não o que tenta mostrar que é. Olhe para o horizonte e sorria para a vida. Viva o dia de hoje como um final de mais uma semana de aprimoramento. E seu horizonte está na extensão de sua visão no seu grau de evolução. E ser racional é saber viver para si e para as outras pessoas. É no que fazemos para elas que elas vão nos valorizar com respeito. Viva com simplicidade e amor. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460