Jessé Souza

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Nos escombros do país

Muita ironia do presidente Michel Temer (MDB) aparecer no Centro de São Paulo, tentando testar sua popularidade entre sem tetos que haviam acabado de perder tudo no incêndio de um prédio que ruiu em chamas nas primeiras horas do feriado do Dia do Trabalhador. Em comparação aleatória, seria como se um torturador fosse visitar suas vítimas para prestar solidariedade por qualquer outra tragédia enfrentada por elas.

Por esse comportamento, ele pagou o preço ao ser escorraçado da área da tragédia paulista, na manhã de ontem, sob um tumulto que teve direito a objetos lançados contra ele e sua comitiva presidencial. Ao chegar de surpresa, foi recebido também em uma raivosa surpresa por uma população que tem sido prejudicada pelas decisões do pior governo de todas as épocas para o trabalhador e para as famílias mais pobres do país.

O governo Temer foi o responsável pela reforma trabalhista, que retirou direitos e benefícios dos assalariados, e só não conseguiu dar o golpe fatal no brasileiro porque ele foi pressionado a não aprovar a reforma da Previdência. Mas, antes disso, já havia congelado em 20 anos os investimentos nos setores essenciais, como saúde e educação.

Temer também tem feito de tudo para se livrar das investigações da Operação Lava Jato e, no pacote do impeachment, tentou enterrar as investigações da bandalheira geral que se tomou o país. E não foi nenhuma surpresa a reação popular naquele momento de dor e comoção na destruição do edifício ocupado por sem tetos na capital paulista. E justamente no Dia do Trabalhador, data celebrada no país que foi duramente golpeado por esse governo.

O dia dedicado ao trabalhador do mundo inteiro não poderia ser tão simbólico, marcado por um governo que precarizou a mão de obra tentando se aproveitar da imagem de uma tragédia enfrentada por famílias abaixo da linha da pobreza. É o mesmo governo que promoveu um corte nos beneficiários do Bolsa Família para depois conceder um reajuste no valor do benefício, o que seria o mesmo que bater e assoprar ao mesmo tempo, com o sofrimento dos mais pobres.

E a pior de todas as ironias é que Temer ainda pensa em se candidatar para concorrer à reeleição. Só ele e seu grupo acham que nada fizeram contra o povo brasileiro. É o governo que mais distribuiu recursos públicos para que não respondesse a processos judiciais e fosse afastado do cargo, enquanto faz cortes profundos nos direitos dos mais pobres em favor do grande capital. E ainda achava que poderia dar uma de grande estadista ao visitar os escombros de um prédio ocupado por pobres que ruiu graças à incompetência dos nossos governantes.

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