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Minha Rua Fala 05 09 2018 6864

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E A IMPERATRIZ LEOPOLDINA Uma mulher assinou o decreto da Independência do Brasil ___________________________________________________________________________ A história oficial retrata a independência do Brasil como um movimento essencialmente masculino. Desde os primeiros anos escolares, todos aprendem os nomes dos personagens mais ilustres dessa saga, como José Bonifácio de Andrada e Silva, Clemente Pereira, Gonçalves Ledo, Almirante Cochrane e outros “patriotas”, como eram chamados os adeptos da causa. À frente deles, destaca-se Dom Pedro I, que, de espada em punho, foi o autor do gesto dramático que simboliza até hoje o fim do jugo português.

Só agora os pesquisadores se voltaram para uma figura feminina, sensível e discreta, mas não menos corajosa e idealista: a princesa Leopoldina, a primeira mulher de Pedro I, que, aos 20 anos, deixou a Áustria para aportar no Brasil, às vésperas de o movimento emancipacionista ganhar força. Para eles, sua participação no episódio da independência foi, no mínimo, decisiva. Uma visão bem diferente daquela dos livros escolares, que a mostram sempre como uma espécie de sombra do imperador. 

Pouca gente sabe que era Leopoldina quem ocupava a regência do Brasil quando Pedro I fez sua famosa viagem à província de São Paulo, em 1822, e que culminou com a proclamação da independência no dia 7 de setembro. Ela estava no comando do reino desde o dia 13 do mês anterior, oficialmente nomeada por decreto assinado pelo príncipe. 

Se causa espanto saber que uma mulher já dirigiu o Brasil por quase um mês, ainda mais surpreendente é descobrir que Dona Leopoldina, despachando no lugar do marido, convocou em sessão extraordinária o Conselho de Estado no dia 2 de setembro, no Paço da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e decidiu, junto com os ministros, pela separação definitiva entre o Brasil e Portugal. Em outras palavras: a independência brasileira foi proclamada, no papel, pela princesa Leopoldina, cinco dias antes de Dom Pedro desembainhar a espada e dar seu famoso grito.

Em agosto de 1822, os brasileiros já estavam cientes que Portugal pretendia chamar D. Pedro de volta, rebaixando o Brasil, de Reino Unido para voltar a ser uma simples colônia.

Com o aparecimento de uma guerra civil que pretendia separar a Província de São Paulo do resto do Brasil, D. Pedro passou o poder à Dona Leopoldina no dia 13 de Agosto de 1822, nomeando-a chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com todos os poderes legais para governar o país durante a sua ausência.

A Princesa Regente recebeu notícias que Portugal estava preparando uma ação contra o Brasil, e sem tempo para aguardar a chegada de D. Pedro, Leopoldina, aconselhada por José Bonifácio e usando de seus atributos de chefe interina do governo, reuniu-se na manhã de 2 de Setembro de 1822 com o Conselho de Estado, assinando o Decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal.

José Bonifácio convocou o oficial de sua confiança, Paulo Bregaro, para levar a sua carta e a de Leopoldina para D. Pedro, que estava em São Paulo. Paulo Bregaro encontrou-se com o Príncipe e a sua comitiva nas margens do riacho Ipiranga, no dia 7 de setembro.  Das cartas, a mais enfática era de D. Leopoldina: “O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece”, escreveu ela. E, ao ler as cartas sobre os acontecidos, D. Pedro I, referendando a medida tomada pela Princesa Regente, proclamou a Independência do Brasil.

Enquanto se aguardava o retorno de Pedro, Leopoldina, governante interina de um Brasil já independente, idealizou a Bandeira do Brasil, em que misturou o verde da família Bragança e o amarelo ouro da família Habsburgo.

Leopoldina Josefa Carolina Francisca Fernanda Beatriz de Habsburgo-Lorena, ou simplesmente Maria Leopoldina, como é chamada em terras brasileiras, nasceu em Viena, Áustria, em 1797. Foi arquiduquesa da Áustria, Imperatriz Consorte do Brasil e, durante oito dias, Rainha Consorte de Portugal. Era de excelente formação cultural. Falava francês, italiano, latim e estudava o inglês. Aprendia o português rapidamente. Pintava retratos e paisagens, e tocava piano com perfeição. 

Ela desembarcou no porto do Rio de Janeiro com sua Corte, formada de médicos, zoólogos, botânicos e músicos. A eles devemos os primeiros estudos feitos sobre o Brasil, na área das ciências naturais. Deve-se, ainda, à Imperatriz Leopoldina a primeira floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca, existente na cidade do Rio de Janeiro. 

Leopoldina morreu aos 29 anos, em 11 de dezembro de 1826, no Rio de Janeiro, mais brasileira do que nunca

MEMÓRIA HISTÓRICA VIROU CINZA

Um incêndio de grandes proporções destruiu o Museu Nacional, na Zona Norte do Rio, entre a noite de domingo (dia 2) e a manhã de segunda-feira. Maior museu de história natural do Brasil, o local tinha um acervo de 20 milhões de itens históricos.

Criado por D. João VI em 1818, o museu completou 200 anos em junho deste ano. Era a instituição científica mais antiga do país. Foi lá que a princesa Leopoldina, casada com D. Pedro I, assinou a Declaração de Independência do Brasil em 1822.

Anos depois, também foi palco para a primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891, que marcou o fim do Império no Brasil.