Letras Saborosas

Letras Saborosas 01 12 2018 7318

ENTRADA

Chegou dezembro e estamos finalizando o ano de 2018. Como este ano foi para você?

O meu foi intenso, sempre em busca de conhecimento, mas também transmitindo, ensinando um pouco sobre os nossos ingredientes em palestras, aulas. E agora além da coluna no jornal, estamos completando seis meses do programa Letras Saborosas na TV Folha BV.

Já temos 24 programas que vocês podem assistir acessando o site, com muitas receitas e entrevistas feitas na capital do extremo norte.

Falando nas alegrias deste ano, uma delas foi o lançamento do livro “Culinária brasileira, muito prazer” da Roberta Malta Saldanha em São Paulo. As pessoas me perguntaram se é possível fazer as receitas do livro. Como resposta trago a receita do prato acreano “Baixaria” que é servido nos mercados no café da manhã para dar “sustância” aos trabalhadores, mas que hoje pode-se comer também no lanche da tarde ou depois das baladas na madrugada acreana.

A receita é da chef paulista Mara Salles do restaurante Tordesilhas que fica na Alameda Tietê, 489 – Jardins em São Paulo.

Até o próximo sábado!

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PRATO DO DIA

Baixaria

Receita da chef Mara Salles

INGREDIENTES

Para o cuscuz

200 g de flocos de milho pré-cozido ½ xícara de água 01 colher (sopa) de manteiga Sal a gosto Para o molhinho de carne moída ½ kg de músculo moído 01 colher (chá) rasa de sal ½ colher (chá) de pimenta-do-reino moída 01 colher (chá) de vinagre de vinho tinto 06 dentes de alho picados 03 colheres (sopa) de óleo 03 tomates bem maduros, sem sementes, em cubos pequenos 01 cebola pequena cortada em cubos médios 01 colher (chá) de colorau ½ xícara de água 06 ovos fritos para acompanhar 01 colher (sopa) de cebolinha picada Pimenta malagueta curtida a gosto

MODO DE PREPARO

Para o cuscuz

Hidrate os flocos de milho na água. Misture o sal e a manteiga derretida. Coloque numa cuscuzeira e leve ao fogo por 20 minutos.

Para o molhinho de carne moída

Tempere a carne moída com o sal, a pimenta-do-reino, a pimenta malagueta, o vinagre e o alho. Incorpore a mistura com as mãos. Acerte o sal. Numa panela, aqueça o óleo, junte a carne e refogue. Antes que o líquido liberado por ela seque completamente, junte o tomate, a cebola e o colorau. Refogue mais uns 15 minutos. Acrescente a água e cozinhe por mais 10 minutos. Monte o prato com o cuscuz esfarelado, regado com o molhinho de carne moída. Coloque sobre essa mistura um ovo frito com a gema bem mole. Salpique cebolinha.

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Produtos da floresta: uma forma de renda e de valorização dos povos indígenas no Brasil

Muito se tem falado sobre os novos ingredientes que estão surgindo a partir de trabalhos feitos com comunidades indígenas no país por organizações brasileiras, sem fins lucrativos como Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e ISA – Instituto Socioambiental.

Para ajudar na valorização e na comercialização dos produtos de populações tradicionais e dos povos indígenas que vivem nas terras indígenas, reservas e outras áreas protegidas, surgiu o Origens Brasil, que foi lançado em 2016, e tem intensificado esse ano sua divulgação.

O selo Origens Brasil, um QR Code, pode ser acessado por qualquer pessoa, com um celular ou computador, para ter informações e conhecer a história do produto: saber quem produziu, de onde veio, a cultura desses povos e como foi feita a comercialização do produto. É um selo que quer valorizar os produtos, os territórios e as pessoas que neles vivem.

O Imaflora é a organização administradora do sistema do selo, mas o projeto foi uma concepção dos Institutos Imaflora e ISA, e tem o apoio do ATA.

Produtos como os cogumelos Sonöma do Yanomami, a pimenta jiquitaia Baniwa, a jiquitaia Wai Wai, o mel do Xingu, artesanatos Xipaya ou Kaiapó , entre outros.

Para conhecer mais sobre o projeto e os produtos acessem: http://www.origensbrasil.org.br/produtos.

Aproveitando esse tema, estive participando do evento Semana Mesa São Paulo, e um dos temas no Mesa Tendências foi “Fruto de ouro” : o cacau nativo da terra indígena Yanomami, que teve o antropólogo Moreno Martins do ISA daqui de Roraima e o chocolatier César De Mendes como palestrantes.

Chocolatier César De Mendes, responsável pela oficina sobre colheita e processamento do cacau na região Yanomami (Foto: Divulgação)

Foi falado sobre a busca de alternativas não destrutivas para geração de receitas adicionais para as comunidades Ye’kwana e Yanomami na região que eles vivem próxima ao rio Uraricoera. Foi descoberto um cacau nativo, endêmico da região.

Chamado “fruto de ouro”, o cacau pode ser uma alternativa para que os indígenas permaneçam na região com uma renda advinda da produção de chocolate fino.

Em julho deste ano, o Instituto Socioambiental levou a aldeia Waikás, uma oficina para ensinar as técnicas desde colheita até o processamento do cacau para a produção da matéria prima, para a elaboração dos chocolates finos ministrada pelo chocolatier  César de Mendes.

Primeira barra de chocolate da história da Terra Indígena Yanomami e Ye’kwana (Foto: Divulgação)

César de Mendes é macapaense, mestre em química de produtos naturais e tecnologia de alimentos que em 2013 abriu a Chocolate De Mendes em Santa Bárbara do Pará, especializada em chocolates varietais. Como grande conhecedor e pesquisador do cacau, falou que o cacau encontrado na região Yanomami em Roraima tem uma incrível riqueza sensorial, tendo sido “plantado por Deus” sem interferência humana.

E na oportunidade recebi do chocolatier a primeira barra de chocolate produzida na terra indígena Yanomami.

Ainda não é um produto que esteja à venda, está em fase de elaboração, mas já podemos dizer que em breve teremos mais um saboroso produto da floresta do extremo norte brasileiro.