Jessé Souza

Concessao para a esperteza 6454

Concessão para a esperteza   Acostumamos a esculhambar os políticos a fim de culpá-los por tudo que há de ruim no país. Porém, eles não passam de reflexo da sociedade, que os coloca no poder por meio do voto. A triste constatação é que muitos também fariam o mesmo que os maus políticos caso tivessem a oportunidade de serem eleitos, aproveitando-se de verbas indenizatórias, contratando parentes, beneficiando amigos e grupos, se aproveitando de regalias e metendo a mão no erário, sem qualquer peso na consciência.

Os festejos juninos que estão ocorrendo em Boa Vista podem oferecer um pequeno retrato dessa esperteza enraizada no brasileiro. Os donos de abarracas de vendas, os quais ganham uma concessão temporária da Prefeitura de Boa Vista ou do Governo do Estado para vender principalmente comida e bebida, não hesitam em se aproveitar do momento para meter a mão no consumidor. E tudo assistido pelos olhares benevolentes dos órgãos de defesa do consumidor de ambos os poderes.

Os donos de barracas têm esses festejos oficiais, incluindo aí o Carnaval, como uma autorização para a esperteza, combinando preços acima do que é praticado no mercado, chegando a dobrar o preço de seus produtos. E com certeza essa majoração de preço deve seguir no arraial estadual, no Parque Anauá.

Os comerciantes não podem alegar que desconhecem os valores do mercado, pois são os mesmos proprietários de quiosques localizados nas praças públicas, a exemplo da Praça de Alimentação da Praça das Águas, e de restaurantes tradicionais da cidade. Não há qualquer justificativa para a prática de um preço extorsivo para esfolar os consumidores boa-vistenses, mas esses vendedores ficam livres para praticar a esperteza.

Além disso, a estrutura do Boa Vista Junina acaba sendo uma reprodução das desigualdades sociais da Capital: restaurantes para os mais endinheirados na área central, perto do palco, quiosques mais afastados para os menos afortunados, em uma cobertura para livrar as pessoas da chuva, e barracas simples, sem qualquer padrão, na “periferia” do arraial, ao longo da beira da avenida, sem proteção contra a chuva, com preços um pouco menores, mas também acima do aceitável. Então, quem quiser fugir da frigideira dos donos de quiosques tem que cair na fogueira das barracas do povão.

Já que os órgãos de defesa do consumidor sempre estão em evidência na mídia local, quem sabe os responsáveis atuem para que não haja exploração de preços por parte de quem usa da esperteza com uma concessão pública. Não são apenas os donos de postos de combustíveis que devem ficar sob o monitoramento dos órgãos oficiais e da sociedade, e sim todos que ofertam produtos e serviços, principalmente se for uma concessão bancada com recursos públicos.

*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main