Saúde e Comportamento

La Casa de Papel e a Sindrome de Estocolmo 9013

Uma das séries mais assistidas atualmente em todo o mundo é sem dúvida alguma a produção espanhola “La Casa de Papel”, que nos apresenta em sua primeira temporada um grupo de pessoas aparentemente comuns (lideradas por um enigmático e genial personagem chamado apenas de “O Professor”) realizando um assalto cinematográfico à Casa da Moeda daquele país.

A Síndrome recebeu esse nome em decorrência de um crime real a um banco em Estocolmo (Crédito: Divulgação)
A Síndrome recebeu esse nome em decorrência de um crime real a um banco em Estocolmo

Um dos pontos chaves do crime era o grupo permanecer vários dias confinado dentro do prédio da Casa da Moeda, produzindo o próprio dinheiro que seria roubado. Para isso, o “Professor” elaborou um plano audacioso que envolvia, dentre outras coisas, a permanência de dezenas de reféns. Assim, cria-se o ambiente perfeito para o surgimento de um estado psicológico conhecido como Síndrome de Estocolmo.

A Síndrome de Estocolmo recebeu esse nome em decorrência de um crime semelhante ao da série, mas na vida real: o assalto realizado a um banco no centro de Estocolmo, a capital da Suécia, em 1973, que acabou evoluindo para a captura e manutenção de reféns por seis dias.

O criminólogo e psiquiatra Nils Bejerot participou da negociação entre polícia e sequestrador e foi o primeiro a notar que os reféns haviam desenvolvido laços afetivos com o criminoso.

Na série “La Casa de Papel”, umas das reféns, a personagem Mônica Gatzambide, interpretada pela atriz Esther Acebo, se apaixona pelo assaltante Denver, após o mesmo “salvar” sua vida, ao deixar de executá-la mesmo a pedidos do chefe do assalto, passando daí em diante a ajudar de forma ativa no crime.

O mesmo ocorreu em Estocolmo em 1973 com a refém Kristin Enmark e o assaltante Jan Olsson: ela ficou tão envolvida pela situação que passou a defender os assaltantes de várias formas, realizando diversas declarações para a imprensa contra a ação policial e a favor dos criminosos. Em uma delas, ela afirmou:

“Ele me acolheu sob seu manto protetor e me disse: ‘Nada vai acontecer com você’. É difícil explicar a pessoas que não passaram por essa situação o quanto isso foi importante para mim. Sentia que alguém se importava comigo. Talvez fosse um tipo de dependência.”

Outro caso mundialmente famoso da Síndrome de Estocolmo, ocorreu em 1974 quando Patricia Hearst, neta de um magnata americano, foi raptada e passou a fazer parte das ações criminosas do grupo que a capturou.

Acredita-se que essa reação ocorra de forma inconsciente em meio ao ambiente estressor e o medo decorrentes da relação entre assaltantes/sequestradores com seus reféns. Pois mesmo diante de todo o estresse e ameaça à integridade física e à vida sofrido pelos reféns, em situações de cárcere prolongado, pequenas concessões como um copo de água em um momento de sede, permitir utilizar o banheiro, ou mesmo uma palavra de conforto e segurança entre assaltantes/sequestradores e reféns podem desencadear o quadro.

Talvez por ser uma síndrome que só ocorre em situações muito específicas e nem todas as pessoas que vivenciam essas situações chegam a desenvolvê-la, ela não consta na lista de transtornos mentais do DSM V (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, 5ª edição).