Cotidiano

Família migra para o Brasil em busca de qualidade de vida para criar os filhos

Família diz que em Roraima encontra serviços e um comportamento que só são oferecidos em países da Europa

Morador da cidade de Santa Elena de Uairen – Venezuela, na fronteira com o Município de Pacaraima, o vendedor Christian Alexandre Herrera iniciou as visitas ao Brasil há cerca de seis anos. Após conhecer a atual esposa, Dobraska Férmin, estabelecendo uma ligação ainda mais forte com o país: o filho mais novo do casal, Camilo, de 02 anos, é brasileiro e nasceu em Roraima.

O venezuelano, que agora trabalha com o comércio de sanduíches e pepitos, lanche tradicional daquele país, disse que, após o nascimento do primeiro filho do casal, Christian Fernando, agora com 03 anos, a família pensou em vir ao Brasil por conta do atendimento básico de saúde para que o parto do caçula ocorresse sem possíveis problemas. Pouco tempo depois, com o agravamento da crise econômica, ele decidiu se aventurar sozinho no Brasil e garantir o sustento da família.

“Eu cheguei no mês de junho do ano passado. Demorei um mês procurando trabalho e consegui um emprego em uma empresa de empréstimo. Tive sorte porque eu já conhecia o idioma, porque morava em Santa Elena”, disse. “Lá eu estava trabalhando em três, quatro empregos. Ninguém trabalha só com uma coisa lá, tem que ser assim. Pouco a pouco, para procurar sustentar a família, mas sempre a inflação vai pra cima do seu orçamento, então, fica difícil”, frisou Herrera.

O venezuelano disse que tem admiração pelos outros estrangeiros que vêm ao Brasil sem conhecer o país, de cidades muito mais distantes, para tentar a sorte. “Tenho muito orgulho dos meus conterrâneos que estão vindo para cá, de cidades mais longe da fronteira, e que nunca tiveram um encontro com o idioma e vem para cá”, afirmou.

Por conta da confiança no sistema médico brasileiro, Dobraska, esposa do vendedor, chegou ao Brasil no final do mês de janeiro para procurar atendimento médico. “Na Venezuela, os medicamentos estão muito difíceis. Há quase um ano eu venho tendo dores de cabeça. Cheguei aqui, me encaminharam a um tratamento, o doutor me mandou fazer exames. Já tenho consulta marcada. Aqui me atendem melhor. Estão procurando saber o que eu realmente tenho”, disse a venezuelana, que trabalha como coordenadora de Recursos Humanos em um hospital em Santa Elena e tem conhecimento da situação que se passa a saúde no país.

“Houve uma semana, quando a gente saiu de lá, em que morreram quatro crianças no hospital por falta de soro, falta de medicamentos básicos. Por isso, estamos aqui pensando no melhor para os nossos filhos”, declarou a estrangeira.

QUALIDADE DE VIDA – O venezuelano informou que também tem descendência espanhola e, na época da crise, a família chegou a cogitar a ir morar na Espanha, mas preferiu vir ao Brasil. Segundo ele, o brasileiro tem serviços que se assemelham àqueles oferecidos em países de primeiro mundo.

“Esse país não tem diferença com a Europa em algumas coisas. Tem auxílio desemprego, vocês têm ônibus com horário certo, você pode caminhar em uma faixa de pedestre e os motoristas vão parar pra você passar. Certas coisas que o povo brasileiro não sabe que é de primeiro mundo. O brasileiro acha que está em crise, mas o que eu estive passando nos últimos cinco anos na Venezuela, nos últimos dois anos, seis meses, era muito pior”, declarou o vendedor.

Outra situação relatada por Dobraska Férmin é em relação à falta de produtos e a compra de materiais para os filhos pequenos. “Passei nove horas para comprar as fraldas para as crianças, das 8h da manhã até as 5h da tarde. Fui empurrada e maltratada até pelos funcionários. Quando eu cheguei em casa, comecei a chorar. Não é justo. O meu país, é um país rico, onde podíamos comprar tudo. Meu país é um país lindo, cheio de riquezas naturais. Você pode ir à praia, ir ao frio, à montanha. Há ouro, petróleo, não se justifica a situação que estamos passando. Na Venezuela, as pessoas brigam por um quilo de arroz. O respeito se perdeu por conta da necessidade e pela fome que está se passando no meu país”, lamentou a mãe.

“Na Venezuela, não se pode colocar o seu celular na mesa por causa do medo. Não posso sair com minha aliança de casamento porque tenho medo que me roubem. Se passa uma moto, tenho medo. Aqui estou tranquila. Não quero viver com medo, não quero ir a um mercado e não poder comprar o que eu quero comprar. Quero que meus filhos saiam de casa e não tenham medo. Que possam sair de casa, que possam me avisar: ‘Mamãe, quero ir na casa de um amigo’, e eu ter condições de deixar”, disse Dobraska.

Por fim, Christian afirmou que não tem intenções de voltar para o país natal e que pretende criar os filhos em Roraima. “O Brasil tem um povo maravilhoso, muito caloroso, muito acolhedor e tenho muitas boas amizades só nesses poucos meses que estou aqui. A gente vai ficar aqui. Eu não tenho previsão de voltar para a Venezuela, muito menos os meus filhos. Aqui eles podem estudar. O meu futuro é aqui, nesse país”, frisou. (P.C.)

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