Polícia

Pamc é alvo de disputa de duas facções

PCC, facção criminosa de São Paulo, ordenou aos presos roraimenses a aniquilação dos rivais do Comando Vermelho, do Rio de Janeiro

A situação crítica a que chegou a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) é resultado da guerra declarada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) contra o Comando Vermelho (CV), pondo fim a uma aliança de quase duas décadas entre as duas maiores facções criminosas do País. Esses grupos mergulham os presídios brasileiros em sangue, como ocorreu no domingo passado na Penitenciária Agrícola do Monte Cristo, em Boa Vista, e no presídio de Urso Branco, em Porto Velho (RO). O CV na região Norte teve uma baixa expressiva: 18 morreram de forma cruel, a maioria carbonizada.

O CV e o PCC se originaram respectivamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e sempre conviveram em harmonia dentro e fora dos presídios. Em Roraima, as duas facções chegaram até a firmar parceria em várias empreitadas e montaram uma espécie de consórcio criminoso no ramo do tráfico de drogas. Os chefes das facções ordenavam de dentro da Penitenciária a abertura de novos pontos de venda de droga na Capital, enquanto os membros da outra facção indicavam os melhores pontos comerciais para assaltar.

Mas a guerra ocorrida no domingo é o claro sinal da cisão. Apenado membro do PCC, entrevistado pela Folha com exclusividade, confirmou a ruptura e deu detalhes. Disse que a ordem partiu de São Paulo por meio de telefonemas e aplicativos de celular. O motivo do racha seria porque outras facções estavam reforçando suas fileiras, o que forçou o PCC a ordenar a suspensão dos “batismos” e a inclusão de novos aliados no CV.

O PCC domina a maioria dos presídios brasileiros. Em Roraima, a facção conta com 85% dos presos, cerca de 1.200. O CV tem 10%, pouco mais de 130 membros. “Como aqui em Roraima há mais chance de rebelião, a ‘diretoria’ de São Paulo deu a ordem para matar os inimigos”, revelou o detento.

O Setor de Inteligência da polícia já sabia do racha, mas pouco pôde fazer. A Penitenciária Agrícola, superlotada, virou uma “panela de pressão”. Como medida paliativa, a direção da unidade colocou os detentos do CV na ala 12, o setor mais seguro, mas não esperava o confronto no dia de visita.

“Esse dia é sagrado dentro das unidades prisionais. Todos ficam impedidos de fazer qualquer coisa. Não podem fugir, por exemplo, por isso os membros do PCC pegaram todos desprevenidos. Abriram um buraco no muro de contenção, invadiram e deram início à matança”, relembrou o apenado.

Foram dez mortos, três decapitados e o resto queimado, o que dificultou a identificação dos corpos. O massacre ocorreu justamente no horário de visita, obviamente o mais importante no código não escrito dos detentos. Horas depois, numa prisão de Porto Velho (RO), um motim semelhante deixou oito presos mortos. Em São Paulo, no dia seguinte, segunda-feira, houve uma rebelião no presídio de Franco da Rocha, com a fuga de 300 detentos. Era o pessoal do CV fugindo da morte. (AJ)

Publicidade