Cotidiano

Violência contra idosos mais que dobrou

Muitos têm medo de denunciar e a maioria dos casos registrados em Roraima diz respeito à violência psicológica

Os casos de violência contra a pessoa idosa mais que dobraram no período de um ano em Roraima. Em 2015, a Secretaria Municipal de Gestão Social (Semges) registrou 28 denúncias em relação à violência. No ano passado, o número chegou a 64 denúncias, sendo 13 oriundas de violência psicológica. Segundo a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, Lindivalda Sales, todas as violências acarretam danos psicológicos.

Segundo ela, o aumento significativo é entendido como uma demanda reprimida. Na maioria dos casos, ela explicou que as vítimas têm medo de denunciar em razão de ameaças ou até mesmo por não quererem ver o familiar respondendo a processo. “Há casos que não chegam a ir à polícia. Existem pessoas idosas que sofrem agressão, mas não falam”, disse acrescentando que, junto ao conselho municipal, as pessoas podem ser escutadas com paciência, sob sigilo absoluto, para então receber conselhos e o atendimento social necessário.

Ela atribuiu o aumento à metodologia adotada pelo conselho. “Eu chamo de demanda reprimida aquelas relacionadas às pessoas que não têm coragem e das famílias que não denunciam seu irmão, por exemplo”, frisou.

Desde 2015, Lindivalda ressaltou que a maioria das denúncias realizadas é proveniente de vizinhos das vítimas. Ainda assim, ela lamentou que exista uma demanda reprimida por parte de quem sofre com a violência.

“Eu nunca vi ninguém ir ao Conselho dizer que quer ficar com o pai ou com a mãe. É sempre por questão financeira ou abandono, de não querer assumir a responsabilidade”, lamentou. Quando a família não o quer, Lindivalda ressaltou que, na primeira oportunidade que surgir, a pessoa idosa foge e cai em situação de abandono por se sentir rejeitada. Segundo ela, há inúmeros casos de pessoas que moram em chácaras por não terem aonde ir.

A presidente ressaltou o trabalho desenvolvido pela Casa do Vovô, que tem a capacidade de receber cerca de 30 idosos, mas que comporta mais do que pode. Com a necessidade de um lugar propício para atender aos idosos que são abandonados e violentados, Lindivalda disse que a Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) não tem interesse em construir um abrigo e que, para o município, as famílias devem se preparar melhor para colher os idosos. “Temos uma população de 30 mil idosos na Capital e nós temos um abrigo para 30, é menos de 1%”, frisou.

CRAS – Atualmente, a presidente reforçou que existem sete Centros de Referência de Assistência Social (Cras) para atendimento dos idosos. Nos locais, há equipes multidisciplinares, com psicólogos, assistentes sociais e pedagogos. Conforme relato, o plano da Prefeitura é aumentar a atuação dos profissionais, a fim de que os mesmos possam agir junto às famílias que estão passando por situação de vulnerabilidade, ajudando e incentivando, para que os idosos sejam mais amados.

Contudo, Lindivalda ressaltou o caso dos idosos que procuram a polícia para dizer que estão sendo agredidos e não têm para aonde ir após o feito. “Se voltar para casa, apanha de novo, e a Prefeitura não quer enxergar isso. Na minha cabeça, a forma de mostrar a realidade é mover o poder privado, procurar os idosos e juntar eles num lugar no meio da rua”, disse.

PREFEITURA – A Secretaria Municipal de Gestão Social (Semges) esclareceu que não está estabelecida, dentro da política de atenção ao idoso, obrigatoriedade legal do município em oferecer o tipo de serviço requerido pelo Conselho. Informou que trabalha na inserção dos idosos na sociedade de forma igualitária, por meio do projeto Cabelos de Prata, que atende mais de mil idosos.

Na área da saúde, a secretaria ressaltou que o Programa Saúde da Família também realiza ações direcionadas às pessoas idosas, com acompanhamento médico e assistencial domiciliar. “Vale ressaltar que a maioria dos idosos possui familiares, que são os responsáveis legais por eles”, frisou. (A.G.G)

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