Cotidiano

Uiramutã continua isolado e moradores cobram providências do Governo de RR

Situação da RR-171, que liga comunidades à sede do município, é crítica, impedindo os moradores de buscarem qualquer tipo de socorro

Mesmo com a diminuição da incidência de chuvas, o Município do Uiramutã, localizado na região nordeste do Estado, continua sofrendo com a situação de isolamento. Os moradores reclamam da falta de ações mais eficazes por parte do Governo do Estado, principalmente em relação à situação da RR-171, que dá acesso à sede do município e a várias comunidades indígenas.

Segundo eles, a população enfrenta sérios transtornos, principalmente no que diz respeito à saúde e à educação, por conta da falta de mobilidade, uma vez que as estradas estão em péssimas condições. Ao longo da rodovia, vários trechos estão em estado precário, a exemplo do bueiro que fica sobre o Igarapé do Salgado, próximo à comunidade de São Mateus, que está há mais de dois anos sem manutenção, depois que o bueiro se rompeu e partiu a estrada ao meio.

“O Governo do Estado aproveitou o desvio feito pelo Exército e construiu uma ‘ponte molhada’ de concreto. Ocorre que, quando a chuva é muito forte e enche o igarapé, voltamos a ficar ilhados. Lembro bem que a governadora fez até uma festa para inaugurar essa ‘ponte molhada feita pelo Exército. Ora, se ela gastou com a inauguração desse desvio provisório, é porque não tinha intenção de recuperar o bueiro da rodovia principal. Hoje quem sofre somos nós”, disse um morador que não quis se identificar.

Segundo um agente de saúde, que também pediu o anonimato, a Prefeitura de Uiramutã tem se esforçado para amenizar a situação, fazendo tudo o que está ao alcance, como jogar pedras nos locais onde mais atola e ajudar a puxar os veículos que ficam atolados, mas as chuvas não têm dado trégua em algumas localidades.

“O prefeito tem boa vontade, mas essa rodovia é de responsabilidade do governo, que não se preocupou em arrumar a estrada durante o verão. Já se foram três verões sem que o governo movesse uma palha pelo município. Só ainda estamos vivos porque estamos unidos. Na ponte do Salgado, mais de 40 homens se uniram à equipe do prefeito para melhorar o acesso. Usamos nossa força bruta, mas, como a chuva foi forte, nesta segunda-feira o local ficou novamente interditado, impedindo o tráfego até de veículos pesados. Ficou atolado um ônibus escolar, um caminhão e um carro pipa carregado de diesel”, comentou o morador ao mostrar as fotos.

Ele ressaltou que a cabeceira da ponte sobre o Rio Urucuri só está transitável porque a comunidade se uniu à Prefeitura e ao Exército. “O Exército enviou cinco homens para ajudar na recuperação. A maior força foi da comunidade e da prefeitura, porque o Governo do Estado sequer deu as caras”, criticou.

Os moradores, principalmente aqueles que têm filhos na escola, estão preocupados com o cumprimento do calendário escolar. “Em muitos lugares, as crianças estão sem estudar, principalmente quando a chuva é forte. Nas comunidades de Ticoça, Socó, Água Fria e Mutum, as crianças têm perdido muita aula. Nossos filhos estão sendo prejudicados. Tem lugar que não está chegando a merenda escolar porque não há acesso por conta das estradas”, prosseguiu.

A Folha tentou falar com o prefeito, mas a assessoria de comunicação informou que todos os secretários estavam numa reunião na comunidade de Pedra Branca, onde não tem comunicação por meio de telefone.

Defesa Civil afirma que ajuda tem sido ‘dentro do possível’

Em entrevista à Folha na manhã de ontem, 02, o chefe de Operações Emergenciais da Defesa Civil Estadual, tenente Emerson Gouvêa Lima, ressaltou que o órgão tem dado, na medida do possível, todo o suporte às famílias atingidas pelas chuvas no Município de Uiramutã.

Até o momento, o município teve duas decretações de Estado de Emergência confirmadas, sendo a última no mês passado, por conta da inundação de algumas localidades. Entre as ações realizadas pelo órgão está o envio de alimentos, já que as áreas mais atingidas foram justamente aquelas onde a produção agrícola é mais predominante.

“Desde o início do período de inverno, a Defesa Civil Estadual tem realizado atendimento à população do Uiramutã, principalmente depois dos decretos de emergência por conta da enxurrada e, mais recentemente, da situação de inundação de algumas localidades. Não só o Uiramutã, mas grande parte do norte do Estado, como Pacaraima, Amajari e Normandia, também está passando por essa mesma situação, o que fez com que o governo instituísse o Gabinete Integrado de Gestão Emergencial, para justamente dar o auxílio necessário para as comunidades mais afetadas pelas chuvas deste ano”, destacou.

Lima afirmou que órgão tem desenvolvido outras atividades, como baldeação em algumas localidades, além do monitoramento das áreas afetadas, trabalhos estes desenvolvidos em parceria com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil Municipal.

“A gente vem atendendo os municípios de forma suplementar e a questão de abrigos é um gerenciamento legal dos municípios. Não há abrigo temporário, pelo menos não de nosso conhecimento, porque as pessoas que tiveram de sair de suas residências foram para casa de familiares”, salientou.

Recuperação de estradas ainda não tem prazo para iniciar, informa Seinf

Com relação aos trabalhos de recuperação emergencial das estradas de Uiramutã, a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf) informou, por meio de nota, que devido ao grande volume de chuvas e a grande dificuldade de logística da região, a pasta ainda não possui nenhum cronograma de ação para sanar o problema dos moradores do município.

Destacou que um convênio com o Exército está em fase de estudo, o qual deverá contemplar ações de recuperação de pontes e vicinais no município. “Recentemente, através de uma parceria com o 6º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC), foi feita a recuperação de emergência da cabeceira da ponte sobre o Rio Urucuri, na RR-171, que dá acesso ao município”, frisou.

A nota ressalta ainda que, desde que foi atingido pelo transbordamento dos Rios Maú e Uailã, o município tem recebido total atenção do Governo do Estado, que mobilizou uma força tarefa para minimizar os efeitos das enchentes para a população daquele município. (M.L)

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