Cotidiano

Tráfico tem novos distribuidores

Jovens imigrantes desempregados são cooptados ou por conta própria vendem drogas nos semáforos

Sim! Todo imigrante merece respeito! Mas, entre tanta gente boa, há quem queira, supostamente, tornar a vida mais fácil. A partir do conceito errado, alguns entram para o mundo do crime. Em Boa Vista, jovens venezuelanos se integraram à rede de distribuição de drogas. 

A denúncia foi feita à Folha por uma imigrante que vamos chamá-la de Relva. Ela passou dias na rua e sabe o que se passa por trás da correria de ambulantes, limpadores de para-brisas, esmoleres e alguns desocupados oportunistas. A identidade dela será preservada por motivos óbvios. A nova rede distribuidora de drogas atua em avenidas movimentadas, principalmente nas proximidades de semáforos.

Preocupada com os filhos e em atenção ao país que a acolheu, ela afirma ter presenciado cenas de compra e venda de drogas. Acha que as autoridades brasileiras deveriam estar mais atentas. “Essa coisa é quase imperceptível. Já estive nos semáforos e vi transações”, comentou.

Embora ciente do perigo que corre, diz não compactuar com criminosos. Principalmente, se eles participam da degradação da família. Relva acredita que o mau comportamento de alguns cria ambiente negativo para centenas de famílias decentes, honestas e trabalhadoras.

“Queremos vencer pelo trabalho, com dignidade. Eu e muitos de meus compatriotas sofremos discriminação por causa do mau comportamento de outros. Quero minha família honrada. Por isso denuncio o tráfico. Quero que as autoridades brasileiras estejam mais atentas”, declarou Relva.

PEDINTES – Ela não imagina quantos venezuelanos fazem ponto em semáforos pedindo esmolas, comida ou trabalho. Sabe que um contingente expressivo prefere ficar nessa situação. É que de moeda em moeda, de cédula em cédula, ganham mais que um trabalhador que recebe salário mínimo.

“Conheço uma moça que pega a filha de uma prima dela. Nos semáforos, diz que é sua filha e com isso sensibiliza as pessoas. Ela me convidou para fazer o mesmo que ganharia entre 150/200 reais por dia. Além disso, comida pronta e gêneros para cozinhar em casa”, esclareceu.

Relva contou sobre a atitude de seus compatriotas para justificar a necessidade de conseguirem mais dinheiro. “Eles têm famílias na Venezuela e o dinheiro que conseguem além do que precisam, mandam para lá. Eles pensam em diminuir o sofrimento de quem ficou e está passando muita necessidade”.

Polícias tentam reduzir números do tráfico de drogas e armas em RR

O crescimento desenfreado do tráfico de drogas e de armas é uma realidade nacional. Roraima não é imune à estonteante realidade. Vilarejos perderam o sossego que lhes dava a marca da boa qualidade de vida. Pior é que o aparelho policial encolheu ante a imensa e sinuosa faixa de fronteira, também camuflada pela audácia e astúcia dos criminosos. 

A atual e destrutiva política “do cheiro, da fumaça e do fogo” vai dizimando famílias, corroendo cabeças e até comprometendo sonhos de nação que pretende ser ponteira entre as mais desenvolvidas do planeta. É impossível dizer quanto de cocaína, maconha e armas escapam das forças de combate a esses crimes.

Polícia Federal e Exército têm a missão constitucional de reprimir o tráfico transfronteiriço. Mas, lhes faltam contingentes suficientes para cobrir, com segurança, gigantescos espaços, especialmente na Amazônia. Nesta região, o teatro de operações exige alta performance de quem nela trabalhe.

Após chegarem ao território nacional e ganharem as ruas, armas e drogas viram conteúdos altamente explosivos. Aumentam as estatísticas de homicídios, roubos, assaltos – inclusive a bancos – e assim por diante. A legislação carcerária que tem a ressocialização como um de seus pressupostos, ainda não foi bem compreendida pelos marginais.

EM RORAIMA – A delegada-geral de Polícia Civil, Giuliana Castro, disse que as polícias sabem de várias situações relacionadas ao tráfico. Porém não podem torná-las públicas para não prejudicar as investigações até aqui realizadas. “A droga que vem para cá, em maioria é oriunda da Venezuela. Pior ou tão perigoso quanto ao tráfico de drogas é o tráfico de armas”, disse a delegada.

Para otimizar o trabalho, a parceria entre as polícias Civil e Militar tem ampliado o resultado das investigações. Conforme a delegada-geral, o resultado da ação conjunta é visto no aumento de prisões, indiciamentos e elucidações. Acrescentou que ultimamente novo esforço na Delegacia de Entorpecentes deverá melhorar ainda mais o combate ao tráfico de drogas.

A delegada-geral alertou que o tráfico de drogas tem imediata repercussão no crescimento dos casos de homicídios. Portanto, urge o engajamento do Governo Federal na intensificação do combate aos crimes transfronteiriços. “Mais que nunca precisamos que o governo federal assuma sua missão constitucional quanto ao patrulhamento de fronteiras internacionais”, destacou Giuliana Castro. (C.P)