Cotidiano

Terra de todos, Boa Vista comemora 127 anos

Dados do IBGE revelam que a população é formada por roraimenses e nascidos em outros estados, mas número de estrangeiros cresceu demasiadamente nos últimos anos

Ao completar 127 nesse domingo, 9 de julho, Boa Vista abriga brasileiros de vários estados e estrangeiros da Venezuela, Haiti, Guiana, etc. Atualmente, a população do município é de 326.419 habitantes, segundo a última estimativa populacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016.

Durante o último levantamento que instigou a questão da migração em Boa Vista, no caso, o Censo Demográfico de 2010, quanto à migração internacional, em 2010, em Boa Vista, havia 1.001 residentes naturalizados (ou 0,4%) e 790 residentes estrangeiros (ou 0,3%).

No entanto, os dados de estrangeiros na cidade já são bem diferentes dos últimos sete anos, principalmente, levando em consideração a crise econômica na Venezuela e o terremoto que atingiu o Haiti. Conforme dados do Ministério da Justiça, o número de pedidos de refúgio em Roraima quadruplicou nos últimos dois anos.

Com relação à emissão de carteiras de trabalho pela Superintendência Regional do Trabalho de Roraima aos estrangeiros, foram emitidas em 2016 o total de 2.142. Em 2017, o número já ultrapassa 3.128, segundo o último dado estatístico de 19 de junho. Venezuelanos aparecem em primeiro lugar, seguidos por cubanos, haitianos e nigerianos.

OUTROS ESTADOS – Boa Vista acolhe migrantes de outros estados do Brasil. Um dos símbolos desta miscigenação é o atual superintendente geral da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), Leocádio Vasconcelos. Nascido no município de Sobral, no Ceará, Leocádio veio para Boa Vista em 1991, a convite do governador Ottomar Pinto, e aqui conseguiu o posto de primeiro nordestino patrão do Centro de Tradições Gaúchas (CTG). “Quando o Território foi transformado em Estado na Constituição de 1988, o primeiro governador eleito foi o Ottomar, que tomou posse em 1991. Três meses depois que ele tomou posse, me ligou me convidando para assumir a Secretaria da Fazenda (Sefaz) daqui”, disse.

Segundo ele, no entanto, a situação foi uma surpresa. “Eu não conhecia o Ottomar, nem conhecia Roraima. Na verdade, ele convidou um ex-secretário da Sefaz do Ceará, mas ele não pôde assumir e indicou o meu nome. Eu fui convidado e vim. Estou há 26 anos aqui”, acrescentou.

Apesar do choque inicial de sair do Ceará e passar a morar em um município ainda em desenvolvimento, Leocádio lembra que se apaixonou ao botar os pés em Boa Vista. “Eu me apaixonei por Roraima. A cidade foi crescendo, teve boas gestões e adquiriu uma performance muito bonita. Boa Vista é sem dúvida nenhuma a Capital mais bonita da Região Norte e a qualidade de vida é muito boa. Sou fascinado por essa cidade”, declarou.

Leocádio chegou a voltar para o Ceará por dois anos, mas não aguentou a distância e retornou para Boa Vista em 1997, já casado com sua segunda esposa e aqui constituiu família. “Nós temos duas filhas macuxis, nascidas aqui e que adoram a cidade. Fiz grandes amizades, que são o maior patrimônio que a gente pode construir. Eu adquiri amizades com pessoas fantásticas. Infelizmente algumas delas já se foram, mas eu valorizo muito isso”, afirmou.

Familiares de pioneira lembram primeiras histórias de Boa Vista

Sebastião Bessa de Lima, de 96 anos, e Maria de Nazaré Lima, de 90 anos, estão casados há 73 anos e são pais de cinco filhos. Sabá, como também é conhecido, é neto de Guilhermina Holanda Bessa, responsável pela criação da Igreja São Sebastião, localizada na Avenida João Pereira de Melo, no Centro da Cidade.

Guilhermina, conta Nazaré, fez uma promessa para que o gado da fazenda de seu esposo, Aristides Bessa, parasse de morrer. “O gado estava morrendo muito com a peste, então ela fez essa promessa. No batente da igreja, eles enterraram uma lata com libra esterlina. A pedra fundamental [da cidade] foi essa latinha”, disse. Pouco tempo depois, a igreja foi inaugurada no dia 20 de janeiro de 1924 e três anos depois, foi incorporada ao patrimônio da Prelazia do Rio Branco.

Apesar da história com a construção da igreja, Maria disse que o casal não se casou lá. “Na verdade, a gente se casou em casa. Naquela época não tinha carro, então eu decidi que não ia andando no meio da rua para casar. A gente realizou a cerimônia em casa mesmo”, afirmou. “Depois, já com meus filhos, a gente celebrou a cerimônia na Igreja Matriz, por conta de uma senhora da igreja que colocava pressão na gente para casar no religioso”, lembra.

PAIXÃO À PRIMEIRA VISTA – A história dos dois começou mesmo quando Maria veio para o Estado em 1944 para lecionar, a convite de um amigo da família. Sebastião já morava em Boa Vista, pois seu pai veio de Belém a convite do fazendeiro Sebastião Diniz, um dos pioneiros no transporte fluvial do Rio Branco, para auxiliar na abertura de estradas na região.

Nazaré tinha acabado de se formar e ficou hospedada na casa do irmão de Sebastião, que era compadre do seu tio. “A gente se viu e pronto. Em três meses já estávamos casados”, disse.

A professora deu aula na escola Oswaldo Cruz e chegou a ser diretora da escola Lobo D’Almada, enquanto Sebastião trabalhava com embarcações. Na época, segundo ela, a cidade se resumia a algumas ruas e poucas famílias. “A nossa vida era aquilo. Trabalho, casa. Todo mundo trabalhava no Governo. A maioria das professoras era de Manaus ou de Belém. Todo mundo se conhecia. Tinha um pequeno cinema, onde hoje é a [avenida] Jaime Brasil, onde costumávamos ir. Nas férias, as pessoas costumavam viajar para Manaus (AM) ou para as suas cidades de origem”, completou.

Com os filhos já crescidos, o casal deixou Boa Vista e foi para Manaus, onde viveu por dois anos. Depois disso, voltaram para Roraima. “Nós moramos por lá, mas não gostamos. Eu gosto de morar aqui. É tranquilo, sempre foi tranquilo. Aqui é onde pretendemos ficar”, completou. (P.C)

Boa Vista possui mais de 50 bairros

A capital de Roraima, Boa Vista, possui atualmente 55 bairros e mais o Distrito Industrial Governador Aquilino Mota Duarte. A cidade, planejada em forma de leque, inspirada nas ruas de Paris, na França, tem 70.167 terrenos com edificação e 38.435 sem obras.

Nos dias atuais, segundo a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caerr), a cobertura de esgoto chega a 64%. A meta até 2018 é atender 93% das residências. Isso faz com que a cidade ocupe a 50ª posição no Ranking do Saneamento Básico das 100 maiores cidades do País, realizado pelo Instituto Trata Brasil, ficando à frente de capitais como Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Natal (RN). Já a distribuição de água atinge uma cobertura de 98%, dados que levaram a capital a atingir o primeiro lugar na Região Norte.

HISTÓRICO – O município de Boa Vista foi fundado em 1830, pelo capitão Inácio Lopes de Magalhães, originada de uma das fazendas de gado situadas ao longo do Rio Branco. Em 1858, a povoação foi elevada à categoria paroquial com a denominação de freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Rio Branco e em 9 de julho de 1890 a freguesia foi elevada à categoria de vila, sede de um novo município denominado Boa Vista do Rio Branco, criado pelo então governador da Província do Amazonas, Augusto Ximeno de Villeroy. Em 1943, tornou-se a capital do recém-criado Território Federal do Rio Branco, que em 1962 passou a se chamar Território Federal de Roraima e depois, pela Constituição de 1988, foi elevado à categoria de Estado. (P.C)