Polícia

Suspeito vai responder por tentativa de homicídio

Gordon Fowler ateou fogo nas vítimas e segundo fontes policiais disse não estar arrependido dos crimes

Acusado por tripla tentativa de homicídio, o guianense Gordon Fowler, 42, foi recolhido ao Sistema Prisional do Estado na manhã deste domingo, 11. Ele também é suspeito da autoria de dois incêndios contra venezuelanos em Boa Vista. 

Fowler passou por audiência de custódia na manhã de ontem, 11, no Fórum Sobral Pinto. A juíza Daniela Schirato decidiu manter o flagrante e converter em prisão preventiva, que já está sendo cumprida.

O primeiro ataque, segundo a polícia, ocorreu em 5 de fevereiro e o segundo no dia 8, ambos no bairro Mecejana. No primeiro, uma jovem de 24 anos foi atingida pelas chamas enquanto dormia em uma rede na varanda de casa. Um homem também se machucou.

No segundo ato considerado o mais grave e pelo qual foi preso em flagrante, três pessoas, incluindo a criança de três anos identificada como Adeliannys Daniela Sanches, que está internada no Hospital da Criança Santo Antônio em Boa Vista, tiveram queimaduras de 2º grau pelo corpo.

O suspeito ateou fogo nas vítimas enquanto dormiam e segundo a Polícia ele utilizou garrafas plásticas e álcool para praticar os ataques.

Ele foi preso na rua Pedro Rodrigues em um imóvel abandonado por volta das 21h de sábado, 10, pela equipe da DGH (Delegacia Geral de Homicídios), chefiada pelo delegado Cristiano Camapum, que também participou das buscas pelo acusado.

O acusado é natural da cidade de Georgetown na República Cooperativista da Guyana, país que faz fronteira com o Brasil por meio do município de Bonfim, em Roraima. Fowler não tem passagens pela polícia.

 SEM ARREPENDIMENTO 

Suspeito diz a delegado que não queria ferir crianças e mulheres

Na entrevista que concedeu à imprensa na manhã de domingo, 11, o titular da Delegacia Geral de Homicídios (DGH) Cristiano Camapum, afirmou que Gordon Fowler fala com naturalidade sobre os ataques nos dias 5 e 8 de fevereiro.

“Ele diz que não tinha raiva das vítimas e tampouco as conhecia. Decidiu praticar os crimes por vingança a outros venezuelanos, que o tinham agredido e roubado a bicicleta dele anteriormente”, relatou o delegado.

Camapum disse que tudo indica que Fowler é ‘piromaníaco’ [definido como comportamento repetitivo de atear fogo de forma proposital e intencional]. “O crime pode ainda ter sido praticado por xenofobia, pois ele diz ter aversão a venezuelanos”, detalhou.

O CASO – Um casal e a filha, uma criança de três anos, foram vítimas de atentado criminoso na madrugada do dia 08/02, enquanto dormiam em uma residência do bairro Mecejana. A família é de origem venezuelana.

A criança está internada no Hospital da Criança Santo Antônio, com queimaduras de 2º grau, sob cuidados de equipe médica e acompanhada pela mãe, que tem queimaduras no pescoço, peito e no ombro direito.

O pai está internado no Grande Trauma do Hospital Geral de Roraima (HGR), com queimaduras em 25% do corpo. O quadro de saúde dele é estável.

No imóvel vivem 13 pessoas, sendo sete adultos e seis menores. No entanto, o ataque foi somente no segundo quarto, onde a família estava dormindo.

O fogo se alastrou rapidamente, queimando móveis e roupas. A criança foi levada às pressas ao Hospital, por conta dos ferimentos que estão espalhados pelo corpo, principalmente na cabeça.

“Acordamos com os gritos”, recorda uma das testemunhas

“Acordamos com os gritos de desespero, com o barulho da explosão e do teto pegando fogo”, relatou o venezuelano Carlos Sanchez, de 44 anos, que vive em Boa Vista há oito meses. 

Ele e a família, oriunda de Maturin, na Venezuela, moram na casa cedida por um brasileiro. “Era um galpão abandonado. Vivemos sem energia elétrica. Chegamos, fizemos uma limpeza e o dono disse que nos cobraria um aluguel simbólico. Transformamos esse local na nossa casa e achávamos que estávamos seguros”, disse.

Os móveis e os brinquedos das crianças, incluindo uma pequena bicicleta, foram destruídos pelo fogo, que atingiu o forro de PVC, que derreteu e caiu sobre as vítimas.

“Não temos para aonde ir e estamos com medo de que essas pessoas voltem para nos atingir. Não temos ideia de quem sejam, não temos problema com ninguém. Vivemos nossa vida, acordamos, saímos para o trabalho e voltamos para cuidar de nossas crianças”, contou Jankely Vasquez, de 29 anos.

Jankely cursava o oitavo semestre de Gestão Ambiental, quando precisou abandonar os estudos, vender a casa e objetos pessoais para juntar dinheiro e mudar de país.

Hoje ela vende bananinhas no semáforo para sobreviver. “Antes da crise, a vida era maravilhosa. Não tínhamos luxo, mas tínhamos hospital, educação e comida. Tudo acabou e por isso viemos para o Brasil. A partir de agora não sabemos o que será do nosso futuro”, disse.

ALTA MÉDICA – As vítimas devem ter alta até a próxima quinta-feira, 15. A pequena Adeliannys Daniela Sanches, três anos, permanece internada no isolamento do Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), no bairro 13 de Setembro, zona oeste da capital.

De acordo com o último boletim médico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), o estado de saúde dela é considerado estável e apesar das queimaduras de segundo grau, não houve a necessidade de procedimento cirúrgico.

O estado de saúde do pai dela, Adelso Daniel Sanchez, 23 anos, também é considerado estável. Ele está internado na área verde do Trauma do Hospital Geral de Roraima (HGR), segundo informou a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). O venezuelano teve queimaduras em 25% do corpo, mas não corre risco de perder a vida.