Polícia

Suspeitas de matar jovens no Anel Viário continuam foragidas

Homicídios de Áreli Dayane Cardoso de Oliveira e Rayane Silva Pereira completaram uma semana

A Folha procurou a Divisão de Inteligência e Captura (Dicap), da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) que faz as buscas por Nelciane Pereira de Andrade, 25 anos, e Ana Caroline Gomes Pereira, de 22 anos, para obter informações sobre os antecedentes criminais das duas jovens que são as principais suspeitas de terem matado Áreli Dayane Cardoso de Oliveira, 19 anos, e Rayane Silva Pereira, de 25 anos. Uma psicóloga também foi ouvida para traçar o perfil das supostas criminosas.

A Justiça expediu os dois mandados de prisão contra as duas mulheres na terça-feira da semana passada, a pedido da Polícia Civil que investiga o duplo homicídio. Os corpos das duas mulheres foram encontrados um na manhã da terça-feira, 12, e o outro na tarde da quinta-feira, dia 14, na região do Anel Viário, no entanto, em pontos distintos. Até o fim da tarde de ontem, as fugitivas da Justiça ainda não tinham sido presas.

De acordo com o chefe da Dicap, Roney Cruz, Roraima ainda não havia registrado crimes praticados por mulheres com o grau de violência aplicado no duplo homicídio, tendo em vista que uma das vítimas recebeu cerca de oito tiros e a outra mais de 50 facadas. Rayane quase teve a cabeça decapitada durante a execução. “Um crime causado por mulheres, com essa crueldade, foi a primeira vez que vi acontecer em Roraima. Apesar de Nelciane ter praticado um outro crime bárbaro, quando ela e outra chamada Iara, mataram um taxista e colocaram o corpo no porta-malas do carro da vítima”, explicou Cruz.

Conforme a avaliação da Dicap, as mulheres são frias e calculistas. “Criminosas capazes de enfrentar qualquer coisa pelo crime organizado. Nas redes sociais, elas desafiam as forças de segurança. Quando apreendemos aparelhos, comumente as encontramos armadas. Ambas estão exercendo funções dentro da hierarquia do crime organizado”, acrescentou.

Em relação à motivação do crime, de que as vítimas seriam informantes do Comando Vermelho, o chefe da Dicap disse que não há registro das vítimas como integrantes de nenhuma facção. “Às vezes as meninas se relacionam com algum integrante e os membros da organização criminosa rival descobrem e já considerada as outras também como integrantes da facção”, revelou Roney Cruz.

A Dicap reforçou que as buscas foram intensificadas para encontrar Ana Caroline e Nelciane. “Dos cinco mandados, três foram cumpridos e estamos atrás das outras duas para cumprir os mandados”, finalizou o chefe da Dicap.

PERFIL DA MALDADE – A Folha procurou a psicóloga Ruti Albuquerque para fazer uma análise do perfil das envolvidas no crime e se elas poderiam ser consideradas psicopatas, considerando que uma das características da psicopatia é a insensibilidade afetiva. “Os psicopatas têm dificuldade de desenvolver empatia porque quem tem a capacidade de se colocar no lugar do outro, de vê que também pode estar na mesma posição, no papel inverso, vai ter dificuldade de praticar um ato tão atroz, como nesse crime. Então é possível dizer que elas podem ser diagnosticas com psicopatia”, avaliou.

Quando questionada se o histórico e o trauma familiar são agravantes para forjar o caráter de um criminoso, a psicóloga aborda que o que se tem de indício relacionado à criminalidade é que a grande maioria das pessoas que se envolve nesse tipo de crime são pessoas que vêm de uma classe social mais baixa. “Até porque no começo do processo de entrada na criminalidade, via de regra, é uma ascensão e a conquista de algum espaço, nem que seja por meios errados, como no caso do tráfico. São pessoas que vivem em condição de vulnerabilidade social e econômica. É nessa comunidade que tem o maior índice de violência doméstica, de desestrutura familiar. De uma forma transversal, é possível dizer que são fatores possíveis de terem forjado o perfil de quem pratica o crime”, explicou.

Por outro lado, a psicóloga afirma que as condições sociais e econômicas não determinam que os sujeitos inseridos nesse contexto serão criminosos, e nem justificam a prática de qualquer crime. “Agora, isso não é prerrogativa de pessoas que têm família desestruturada ou de classe baixa, porque a base da pirâmide do Brasil é de baixa renda. Se fosse uma questão de baixa renda e de todos estarem envolvidos no crime, 60% da população brasileira seria criminosa, mas não é o caso. Dizer que é por conta de desestrutura familiar ou por conta de condição social é muito simplório para querer justificar o crime”, enfatizou Ruti.

Ainda segundo a psicóloga, quem se envolve em uma situação de criminalidade com um alto grau de violência e de agressividade, com um percurso de crescimento dentro da criminalidade, “com certeza tem algum aspecto psicológico desenvolvido”. (J.B)