Cotidiano

Socióloga diz que saída é a educação e que presos precisam ser recuperados

A socióloga Geysa Pimentel afirmou que, a longo prazo, a única solução para mudar o quadro que se vê hoje, com a violência e o sistema prisional em crise, é investir na educação. Ela condena o bordão repetido nas redes sociais de que “bandido bom é bandido morto” e diz que “bandido bom é ressocializado”. Veja a entrevista na íntegra:

FOLHA – Em um entendimento social, as famílias desses presos mortos devem ser indenizadas?

GEYSA –
A questão legal é indiscutível. Já existe parecer favorável do STF [Supremo Tribunal Federal]. É dever do Estado recuperar esse cidadão preso. O fato de ele estar dentro de uma penitenciária é porque está pagando por um crime que cometeu; está pagando e ficando quite com a sociedade. Por isso, a legislação o separa da sociedade, ele perde o convívio com as outras pessoas e é isolado.

Perante a lei, ele é um cidadão que não tem uma conduta que seja compatível para viver em um meio social. Ao ir para esse local, o Estado é obrigado a tomar conta daquele indivíduo e o “tomar conta” não é só prender, porque mesmo assim a situação em que eles vivem hoje é degradante, humanamente falando. Celas que não têm condição insalubre, vivem debaixo de lona, papelão, entre outros.

Então essa é a condição que o Estado está dando para ressocializar as pessoas presas? Se não está dando a condição, os familiares têm direito, sim, a reclamar e a solicitar indenização.

FOLHA – E os presos que cometeram o massacre e fizeram isso a sangue frio, você acha que eles ainda podem ser ressocializados? Conseguem se recuperar de alguma forma?

GEYSA

Para isso existem as leis. Eles vão agora responder por outros crimes. Serão julgados novamente e a pena deles vai aumentar. No Brasil, não existe pena de morte e nem prisão perpétua, e praticamente não temos processos de ressocialização eficazes. O que existem são intervenções pontuais.

O Estado precisaria dar condições a essas pessoas presas. Elas cumprem pena lá dentro e que pode ser diminuída na medida em que eles trabalhem, estudem e tenham boa conduta. Mesmo sem o Estado dar condições, alguns conseguem por vontade própria. Isso já funcionou na Pamc quando foi criada, há muito tempo.

A Universidade Federal de Roraima (UFRR) também ajudou nesse quesito com o projeto “João de Barro”, que dava oportunidade dos presos trabalharem na instituição para diminuírem a pena. Assim, eles eram ressocializados, tinham acompanhamento com psicólogos e assistentes sociais.

FOLHA – Você concorda com a frase “bandido bom é bandido morto”?

GEYSA

As pessoas que pensam dessa forma nunca pensam: “E se esse bandido morto fosse da minha família”? Bandido bom não é bandido morto, e sim ressocializado.

FOLHA – Qual seria a solução para o problema que o sistema prisional brasileiro, de Roraima principalmente, enfrenta?

GEYSA

A longo prazo, investir na educação. Existem projetos muito bons, como fazer com que cada escola tivesse um psicólogo e assistente social acompanhando a vida dos alunos, para lidar com comportamentos agressivos, bullying, problemas familiares e acompanhar aquela criança nos primeiros anos da vida, dando suporte e orientando.

Em médio prazo, é a construção e reformas das unidades prisionais. É preciso dar condições para esses presos. Em curto prazo, fazer uma espécie de mutirão carcerário. Existem presos que estão lá e já cumpriram a pena inteira, mas esperam só a determinação da Justiça. É preciso fazer esse processo, ver quais presos podem ir para regime semiaberto, quais já podem sair, etc.