Cotidiano

Servidores denunciam falta de material e atraso na distribuição das refeições

Sesau garantiu que irá contratar uma nova empresa para prestar o serviço de fornecimento de refeição à unidade

Não é a primeira vez que reclamações envolvendo a alimentação servida no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) chegam à Folha. Os servidores da unidade e pacientes pedem melhor qualidade e pontualidade na distribuição das refeições. Segundo denúncias, o almoço está sendo servido com mais de duas horas de atraso.

Com medo de retaliações, os denunciantes preferiram não se identificar. Um deles relatou à Folha que o atraso na distribuição, principalmente no horário do almoço, acontece há quase um mês e, até o momento, nenhuma providência foi tomada pelo Estado. “No começo, não reclamávamos, porque não era algo que acontecia com frequência, mas a situação começou a piorar. O almoço passou a chegar por volta de 13h30, tanto para nós, servidores, como para as pacientes, que são o mais importante. Depois, as marmitas começaram a chegar por volta das 14h. Já teve dia de almoçarmos às 14h30. Isso vem acontecendo há cerca de 30 dias”, denunciou.

As reclamações não pararam por aí. Outra servidora afirmou que o problema maior em relação ao atraso se dá pela situação de saúde de pacientes com diabetes. “Temos muitas gestantes que sofrem com a doença. E, mais do que qualquer outra pessoa, essas pacientes precisam ter uma alimentação regrada e balanceada. Isso porque a diabetes é uma doença crônica e o índice de glicemia precisa sempre estar nos patamares ideais. É fundamental que essa gestante se alimente sempre dentro do horário para evitar mais complicações”, explicou.

Ainda de acordo com a mesma servidora, as pacientes diabéticas precisam fazer exames regulares após a alimentação. “Quando atendemos uma gestante com diabetes, somos orientados a realizar medições de glicemia e os exames que chamamos de ‘destro’. Eles são condicionados à alimentação e devem ser realizados algumas horas após a pessoa comer. Mas como podemos fazer isso se não conseguimos ter uma pontualidade? A paciente passa horas sem comer nada e isso pode ocasionar problemas ainda mais graves. Já tivemos situação de mulheres que foram encaminhadas ao HGR [Hospital Geral de Roraima] com quadros graves de hipoglicemia”, relatou.

Na quinta-feira, 11, o almoço para servidores e pacientes da maternidade chegou à unidade por volta das 14h10. Os próprios funcionários anotaram o horário. “Perdemos até o estímulo de trabalhar. No último final de semana, uma das pacientes com diabetes foi aconselhada por um médico a ir embora para casa. Ela recebeu alta médica, porque seria mais fácil se alimentar ‘direitinho’ nos cuidados da família do que na própria maternidade”, disse um dos servidores.

Além do atraso nas refeições, os funcionários também se queixaram da qualidade dos alimentos. “Onde já se viu servir ovo frito para um paciente? Isso aconteceu na última semana. Nós mesmos falamos para a paciente ir até a Ouvidoria da maternidade [para] denunciar. Já recebemos marmitas até com pena de galinha dentro. Agora a pergunta que fica é: nós somos obrigados a pagar e passar por isso?”, questionou.

FALTA DE MEDICAMENTOS – Os servidores relataram também a falta de medicamentos e produtos. De acordo com eles, a situação é recorrente. “Sempre acontece de faltar alguma coisa. Agora estamos sem as seringas pequenas. Não há nenhuma dentro da maternidade. Esparadrapo também está em falta, apesar de não ser algo comum de acontecer. O sulfato de magnésio, que é utilizado para evitar convulsões no momento do parto, também está em falta. Hoje [sexta-feira, 12], o acompanhante de uma paciente precisou sair para comprar touca descartável para a cabeça, porque não tinha mais”, relatou uma servidora.

GOVERNO – Depois de reiteradas reclamações de pacientes com relação à qualidade e a pontualidade da alimentação fornecida nas unidades de saúde do Estado, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) garantiu que irá contratar uma nova empresa para esta finalidade. “A licitação está prevista para a próxima sexta-feira, 19, e, após a contratação, a expectativa é que a substituição seja realizada o quanto antes. Com isso, a intenção é melhorar significativamente a qualidade da alimentação servida nas unidades de saúde”, afirmou o órgão.

O novo contrato prevê seis refeições diárias balanceadas e adequadas às necessidades específicas de cada paciente. O fornecimento será supervisionado e deve ser aprovado pela equipe de nutrição de cada hospital. A Sesau garantiu ainda que a empresa prestadora do serviço anteriormente foi advertida e recebeu multa, conforme estabelecido em contrato.

Em relação à falta de medicamentos, a secretaria informou que, após a reclamação dos servidores, foi providenciada a reposição de seringas e esparadrapos para o HMINSN ainda na sexta-feira, 12, “em quantidade suficiente para a toda a semana, quando será feito um novo abastecimento à unidade”.

Para reduzir as chances de novos desabastecimentos, a Sesau afirmou estar com processos em andamento para aquisição de mais materiais e medicamentos, cujas licitações devem ocorrer no decorrer do ano. “A secretaria tem recebido neste mês vários carregamentos das empresas vencedoras das licitações para fornecimento medicamentos e materiais. Com a reposição dos estoques, pouco a pouco estes itens estão sendo encaminhados com base na solicitação das unidades. O Estado deve retomar o índice de aproximadamente 70% de abastecimento em medicamentos até o fim de maio”, garantiu.