Cotidiano

Reforma causa preocupação a educadores

Ampliação da carga horária, implantação das escolas em tempo integral e flexibilização do currículo são as principais propostas

O Governo Federal publicou, no Diário Oficial da União (DOU) de ontem, 23, o texto da Medida Provisória (MP) número 746 que estabelece a reforma do Ensino Médio no governo Temer. Entre as principais mudanças está a ampliação da carga horária de 800 horas de aula em 200 dias letivos para 1.400 horas, além da polêmica das disciplinas de educação física, filosofia, sociologia e artes, que na primeira versão do documento seriam optativas, mas voltaram para a obrigatoriedade até a publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Apesar da MP ainda ter a duração de 120 dias para ser aprovada ou não pela Câmara e pelo Senado, as mudanças são preocupantes para o diretor de política educacional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Roraima (Sinter), professor Flávio Bezerra. Segundo ele, as alterações na questão das disciplinas podem significar a falta de postos de serviço aos profissionais.

“Sendo optativas, e se a maioria dos alunos decidir não estudar mais essas disciplinas, em um curto período de tempo pode ser que não haja mais vagas para professores dessas áreas”, lamentou. Segundo ele, quando se realiza uma reforma como essa, de cima para baixo e sem antes consultar os fóruns de educação, há o risco de as mudanças serem contra os anseios da classe dos estudantes e professores.

O professor ressaltou que não há um estudo sobre a metodologia proposta e que o fato de uma didática ser sucesso ou não em um país não implica necessariamente que será sucesso no Brasil. “Copiar porque alguém fez, talvez é o que sofremos hoje com o Estatuto da Criança e do Adolescente [ECA]. Temos esse avanço em vários locais, mas que ainda é questionado por alguns setores da sociedade”, disse.

Bezerra salientou que é preciso trabalhar a partir de uma proposta que saia da própria categoria para melhorar o ensino médio e, para que o ensino seja de qualidade, melhores condições de trabalho devem ser fornecidas. Segundo o professor, a maioria das escolas de ensino médio da Capital não tem a infraestrutura necessária para se cobrar que as notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) aumentem.

“As bibliotecas estão sucateadas e o acesso a informação é precário. Saímos do quadro de giz e agora temos um quadro branco que só pode ser utilizado se o professor comprar o pincel”, ressaltou.

ESCOLA PARTICULAR – Para a presidente do Sindicato das Escolas Particulares em Roraima (Sinepe/RR) e membro da diretoria da Escola Colmeia, Suzamara Queiroz, a reforma foi irresponsável. “Eu já organizei todo o meu plano de matrículas para o ano que vem. Todo o trabalho planejado agora foi por água abaixo. Como mudar tudo em dois meses? Como atender a uma Medida Provisória de alguém que acha que o ensino não está bom e que desse jeito vai resolver? Acho irresponsável a atitude”, frisou.

A presidente lembrou da conquista árdua que foi aplicar as disciplinas de sociologia e filosofia, matérias que trabalham o pensamento crítico e argumentativo do cidadão e que estão sob o risco de serem optativas.

Estudante aprova mudança

A pré-vestibulanda Janaína Gomes disse que não vê quais malefícios a nova proposta pode trazer. Segundo ela, não é novidade que todo o estudante possui maiores afinidades em determinadas matérias, enquanto as outras, às quais ele tem pouca ou nenhuma predileção, acabam por diminuir o interesse pelo estudo. Para ela, a indignação de certa parte dos educadores parece infundada.

“Já que, quando se pensa na universidade, há uma divisão em estudante de exatas, humanas e de biológicas, pois são justamente essas áreas que os estudantes têm maior facilidade de aprendizado”, disse. Ela ressaltou que existe interação entre os cursos, mas que um aluno de biologia não precisa ter noções aprofundadas de física, por exemplo.

Para a pré-vestibulanda, a medida foi tomada com o intuito de estimular os estudantes a desenvolver mais seus conhecimentos dentro daquilo que lhes interessa.

SEED – A Folha entrou em contato com a Secretaria Estadual de Educação para falar com o secretário sobre essa mudança, mas a informação é de que ele se encontra em Brasília, resolvendo questões sobre a reforma. (A.G.G)

REFORMAS NO ENSINO MÉDIO
Principais mudanças propostas pela medida provisória do governo Temer