Cotidiano

Quatro morrem carbonizados em queda de avião no Cantá

Vítimas eram, segundo a Polícia Militar, servidores do Ibama que viajaram para auxiliar a Operação Curare

Uma aeronave modelo Cessna prefixo PR-MFR caiu em uma área de mata fechada no município do Cantá, região centro-leste de Roraima, próximo ao fim da pista da empresa de táxi-aéreo Paramazônia, por volta das 11h da manhã de ontem, 3. O avião havia sido alugado pelo Exército Brasileiro para transporte de pessoal para área de operações, onde está sendo realizada a Operação Curare VIII, que atua no combate a crimes ambientais e garimpo ilegal, entre outros ilícitos, em área de fronteira.

Cinco pessoas estavam a bordo do avião, sendo quatro servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o piloto. Quatro pessoas morreram no local e uma foi resgatada com vida, embora metade do corpo esteja queimada. Conforme informações do Relatório de Ocorrência Policial (ROP), da Polícia Militar de Roraima (PMRR), os ocupantes do avião eram o piloto Marcos Costa Jardim, conhecido como Comandante Jardim, e os funcionários do Ibama Sebastião Lima Ferreira Júnior, Olavo Perim Galvão, Alexandre Rochinski e Laslo Macedo de Carvalho. O Instituto de Medicina Legal (IML) não confirmou a identidade das vítimas que morreram.

Quanto ao sobrevivente, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que o paciente está internado na Área Vermelha do Grande Trauma, apresentando estado de saúde grave. A vítima está com aproximadamente 50% do corpo queimado, está entubado e recebendo todos os cuidados da equipe médica.

EXÉRCITO – Sobre o acidente, a 1ª Brigada de Infantaria de Selva confirmou que a aeronave estava locada para transporte de pessoal para a área de operação da Curare VIII e que informações sobre as circunstâncias do acidente ficariam a cargo da empresa contratada. A 1ª Brigada negou a existência de munição a bordo, que poderia ter influenciado na explosão da aeronave, bem como de militares do Exército Brasileiro. (P.C)

Sobrevivente saiu de aeronave em chamas

Segundo o Relatório de Ocorrência Policial da PMRR, o acidente ocorreu logo após a decolagem, quando o avião subiu acima da copa das árvores, mas perdeu força e caiu entre galhos, cerca de 100 metros depois de alçar voo. Servidores que aguardavam o momento para embarcar e testemunharam a queda do avião correram até o local da queda.

A informação da Polícia Militar é que o único sobrevivente saiu desorientado dos destroços em chamas, foi socorrido por funcionários e duas técnicas de enfermagem que estavam no local e, de lá, foi levado para o galpão de decolagem da empresa de táxi-aéreo e em seguida ao hospital.

Outros funcionários da empresa tentaram conter o fogo utilizando extintores de incêndio, o que não foi possível por conta da proporção das chamas. A Polícia Militar, por meio do ROP, relatou que, quando chegou ao local, os Bombeiros já se encontravam contendo o fogo e isolando o perímetro.

Um morador da região, que reside a cerca de 100 metros do local da queda do avião e que também testemunhou o acidente, relatou à Folha que tentou ajudar os sobreviventes, mas que pouco enxergava por conta da fumaça e foi alertado por um dos servidores da empresa para não se aproximar da aeronave pelo risco de explosão.

Após o ocorrido, as equipes do Instituto de Medicina Legal (IML) e da perícia foram acionadas para fazer a remoção dos corpos e averiguar a situação. De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros, Doriedson Ribeiro, as equipes do instituto permaneceram no perímetro do acidente até ontem à noite para remoção dos corpos e levantamento de dados. “O Corpo de Bombeiros realizou a sua parte inicial, que foi de auxiliar no socorro das vítimas, apagar as chamas do incêndio e aguardar pelos órgãos de controle, como a Aeronáutica e a Polícia Civil, que vão ser os responsáveis pela investigação da causa do acidente”, afirmou.

Aeronáutica diz que vai investigar causas do acidente

Os investigadores do Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA VII) informaram à Folha que estão se deslocando para realizar a ação inicial da ocorrência envolvendo a aeronave de matrícula PR-MFR, que aconteceu nesta segunda-feira, no Cantá.

De acordo com a Seripa, a ação inicial “é o começo do processo de investigação e possui o objetivo de fotografar cenas, retirar partes da aeronave para análise, ouvir relatos de testemunhas e reunir documentos”. O órgão completou que a investigação realizada vai compor relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e tem o objetivo de prevenir que novos acidentes com as mesmas características ocorram.

“A necessidade de descobrir todos os fatores contribuintes garante a liberdade de tempo para a investigação. A conclusão de qualquer investigação conduzida pelo CENIPA terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade do acidente”, acrescentou a Aeronáutica.

Em menos de 30 dias, dois aviões da Paramazônia caem

Em menos de um mês, foram registrados dois acidentes com aeronaves da empresa Paramazônia em solo roraimense. O primeiro acidente ocorreu no dia 14 de junho, quando uma aeronave fez um pouso forçado no Rio Catrimani, no município de Caracaraí, na região centro-sul do Estado. Na ocasião, o tripulante e o piloto sobreviveram à queda. Por conta de complicações na hora do resgate, feito por funcionários da própria empresa, o piloto caiu no rio e morreu afogado.

Sobre o acidente de ontem, a empresa se limitou a enviar uma nota oficial à imprensa lamentando o ocorrido e informando “que a aeronave estava com todas as suas revisões, itens de segurança e manutenções em dia, e o piloto com suas habilitações e todos os treinamentos em ordem”.

A empresa disse também que estava tomando “todas as providências necessárias para que as causas do acidente sejam investigadas pelos órgãos competentes da Aeronáutica” e externou seus sentimentos, de solidariedade e dor, à família das vítimas da tragédia.

Piloto tinha mais de 20 anos de experiência

A esposa do piloto Marcos Costa Jardim, que faleceu durante a queda do avião Cessna na segunda-feira, 3, Deslânia Silva, informou à Folha que o casal comemorou recentemente 11 anos de união e que tinha uma filha de três anos.

De acordo com Deslânia, a última vez que falou com o marido foi por mensagem de celular. “Ele avisou que estava de saída”, relatou. Ela soube da notícia da queda de um avião e, em seguida, a Agência Aérea entrou em contato por telefone. “É difícil falar nesse momento. A dor é maior que tudo”, explicou a esposa, ainda muito abalada.

Experiente, Marcos Jardim era piloto há mais de 20 anos e amigo de Elcides Rodrigues Pereira, de 64 anos, conhecido como “Peninha”, piloto que faleceu no acidente de avião da empresa Paramazônia no dia 14 de junho. “Ele ficou muito abalado, assim como todos os outros funcionários, mas não teve medo de voar. Ele adorava”, completou.