Cultura

Psiquiatra explica a doença que provoca delírios e alucinações

No Brasil estima-se que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada ano cerca de 50.000 pessoas manifestam a doença pela primeira vez

Ouvir vozes, paranoia, ver algo que ninguém mais vê, crenças extremistas mal fundamentadas, descuido com si mesmo, hostilidade, fala incompreensível e mudança na personalidade são alguns dos possíveis sintomas de esquizofrenia.

A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou início da idade adulta. Sua frequência na população em geral é da ordem de 1%, havendo cerca de 40 casos novos para cada 100.000 habitantes por ano.

No Brasil estima-se que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada ano cerca de 50.000 pessoas manifestam a doença pela primeira vez. Ela atinge em igual proporção homens e mulheres, em geral inicia-se mais cedo no homem, por volta dos 20-25 anos de idade, e na mulher, por volta dos 25-30 anos.

“Provavelmente a esquizofrenia é tão antiga quanto a humanidade, desde sempre houve casos de psicose relatados em escritos antigos. O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da realidade. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório quando o indivíduo acredita que está sendo perseguido e observado por pessoas que tramam alguma coisa contra ele”, explica o psiquiatra Alberto Iglesias.

Já, as alucinações caracterizam-se por uma percepção que ocorre independentemente de um estímulo externo. Por exemplo: o doente escuta vozes, em geral, as vozes dos perseguidores, que dão ordens e comentam o que ele faz. “São vozes imperativas que podem levá-lo ao suicídio, mandando que pule de um prédio ou de uma ponte”, completa o médico.

Delírio e alucinações são sintomas produtivos que respondem mais rapidamente ao tratamento. No outro extremo, estão os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao tratamento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza condizente com a situação externa.

“Uma das características do delírio, aliás, a que o diferencia do erro, é que não se consegue removê-lo com contra-argumentação lógica. A convicção é absoluta e tentar dissuadi-lo, é inútil. Ouvir – “Imagine, você não está sendo perseguido. Você está imaginando coisas” -, basta para acreditar que está diante de mais um de seus perseguidores, de alguém que faz parte do complô armado para destruí-lo”, conta o médico.

Delírio e alucinação são os sintomas que chamam mais a atenção. Já os sintomas negativos ocorrem mais no íntimo das pessoas e causam menos impacto nos outros. “É o caso do indivíduo que, certo dia, não vai trabalhar, não avisa ninguém e passa o dia todo deitado. A família percebe o olhar distante, como se estivesse em outro mundo. Ele não se importa com o que acontece ao redor, não cuida da higiene pessoal nem se alimenta direito. Geralmente, esses sintomas marcam o começo da doença, que é marcada por tensão e ansiedade muito grande. A pessoa sente que algo está acontecendo, mas não sabe dizer o que é”, explica o psiquiatra.