Cotidiano

Psiquiatra critica prisão de rapaz que matou doméstica atropelada

O episódio envolvendo o paciente psiquiátrico Patrick de Oliveira Rizo, de 19 anos, que fugiu de uma ala do Hospital Geral de Roraima (HGR) e matou uma doméstica atropelada, na semana passada, tem gerado bastante discussão no meio profissional da área. Ontem a Folha noticiou a questão da falta de estrutura para atender pacientes com transtornos mentais.
Contudo, o médico especialista em psiquiatria Laerte Tomé condenou a prisão do jovem e disse que esse tipo de paciente não pode ir para a cadeia. “Deveria ter um manicômio dentro da penitenciária. Lugar de doente é no hospital, cadeia é lugar de bandido”, afirmou.
O médico explicou que, apesar da falta de uma casa de apoio específica que supra a demanda de pacientes com transtornos mentais, o tratamento no Estado tem evoluído. “Há alguns anos era bem pior, não tinha nada. A minha preocupação é que não tenha mais, porque tem que ter uma estrutura bem feita que dê suporte no tratamento desses pacientes”, explicou.
Para Tomé, o preconceito em torno de pessoas que possuem algum tipo de esquizofrenia acaba tornando o doente mais agressivo. “Uma coisa na vida que é ruim para todos nós é o preconceito. Na psiquiatria, existe uma coisa chamada psicofobia, onde todo mundo acha que o doente mental é agressivo, mas não é”, ressaltou.
O especialista afirmou que diagnosticar um paciente que possua algum tipo de transtorno mental é uma etapa bastante complicada. “A pessoa tem que ir ao médico, onde ela vai ser examinada, diagnosticada e fazer o tratamento, que deve ser de base comunitária, ou seja, de acordo com a vontade dela”.
Em relação ao laudo que comprove ou não se o paciente possui algum tipo de transtorno, o psiquiatra relatou que deve ser pedido pela Justiça. Caso contrário, a pessoa tem o direito de total sigilo. “É um segredo de profissão. Se a Justiça pede, tem que encaminhar”, pontuou.
O médico destacou que atos como os que foram cometidos pelo jovem Patrick não podem ser defendidos, mas também devem ser tratados com bastante cautela. “Se o rapaz é doente e cometeu o crime por causa disso, tem que ser tratado como tal. Nós entendemos e respeitamos a dor da família da pessoa que foi morta, mas isso não dá o direito de colocar uma pessoa doente na cadeia”, frisou.