Cotidiano

Posto de fiscalização da Funai é tomado por garimpeiros na Terra Yanomami

Os garimpeiros estariam ameaçando e aliciando índios da região a praticarem atividade de garimpo em troca de objetos

Um grupo de garimpeiros ilegais invadiu e tomou posse, na manhã de ontem, 02, de um posto de fiscalização abandonado da Fundação Nacional do Índio (Funai), na Serra da Estrutura, região do Alto Catrimani, localizada na Terra Indígena Yanomami, no Município de Alto Alegre, região Centro-Oeste de Roraima.

A denúncia foi feita pelo diretor da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Darío Vitorio, filho do xamã e líder político dos Yanomami, Davi Kopenawa, e encaminhada à coordenação regional da Funai em Roraima e ao Ministério Público Federal (MPF).

Segundo ele, no início de 2012, a Funai, por meio da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Yekuana, havia desarticulado um grupo de garimpeiros na região da Serra da Estrutura, inviabilizando o acesso à pista de pouso clandestina que existia na localidade, e construído na região uma base de apoio com ajuda dos Yanomami e da Hutukara. “Em março de 2015, a Funai retirou os servidores da Serra da Estrutura alegando falta de condições materiais e logística para manter a base de apoio funcionando”, disse.

Devido à falta de fiscalização, os garimpeiros voltaram a ocupar a região da Serra da Estrutura, inclusive fazendo voos clandestinos semanais, levando mantimentos e equipamentos para o garimpo. “Não satisfeitos com a ocupação, eles também se apropriaram dos equipamentos da Funai que se encontravam na base, como gerador de energia e utensílios de cozinha”, denunciou o diretor.

Ele classificou a permanência dos garimpeiros na localidade como uma ameaça à vida e à existência dos índios Yanomami isolados (Moxi Hatëtëa) que habitam a região. “É um grupo muito vulnerável a doenças e o contato direto com os garimpeiros poderá provocar a morte de todos. O principal objetivo da base de apoio da Funai era de proteger os Moxi Hatëtëa do contato com os garimpeiros, resguardando sua existência”, afirmou.

Além da ocupação indevida, o Yanomami denunciou que os garimpeiros estariam aliciando índios da região a praticarem atividade de garimpo em troca de objetos. “Oferecem alimentos, rádios, celulares e pertences pessoais, inclusive ameaçando de destruir as aldeias caso os Yanomamis não contribuam com eles”, relatou.

Os garimpeiros também construíram uma pista de pouso no afluente do Rio Lobo D’Almada, conhecido na língua Yanomami de “Hwayau”. “A Terra Indígena Yanomami está entregue aos garimpeiros, que aumentam a cada dia sua presença, danificando a floresta, poluindo os rios, aliciando os jovens, trazendo danos irreparáveis à nossa saúde e cultura. A Funai, atualmente, não tem nenhum servidor na terra indígena Yanomami fazendo a proteção territorial e não há nenhum planejamento de atividade que possa coibir a invasão garimpeira”, frisou o indígena.

FUNAI – A Folha foi até a sede da coordenação regional da Fundação Nacional do Índio, localizada no bairro Aparecida, zona Norte da Capital, mas foi informada de que somente a superintendência do órgão em Brasília poderia falar sobre o assunto. Por telefone, tentamos contato com a Funai na Capital Federal, mas não obtivemos retorno.

MPF – Em nota, o Ministério Público Federal de Roraima (MPF/RR) informou que recebeu a representação da Hutukara Associação Yanomami no último dia 25, e que a instituição vai analisar as providências cabíveis. (L.G.C)