Cotidiano

Pesquisador sugere implantação de faixas de pedestres em 3D

Técnica cria uma ilusão de ótica para alertar os condutores de que há pedestres na pista

Impedir o aumento dos índices de acidentes e mortes no trânsito é um dos objetivos da proposta de implantação de faixas de pedestres em 3D no Estado. A técnica foi desenvolvida por duas artistas da Índia, e utiliza as tintas no asfalto para criar uma ilusão de ótica e alertar os condutores.

Em Roraima, a recomendação é do pesquisador e perito odontolegista do Instituto de Medicina Legal (IML), Antonio Medeiros. O profissional explica que o projeto foi motivado por uma experiência pessoal sua, ocorrida em março deste ano, quando quase presenciou um idoso ser atropelado na faixa de pedestre na Rua Bacabeira com a Rua Jaqueira, no bairro Caçari, em frente à Igreja São Mateus.

Antonio contou que a faixa de pedestre do bairro só estava pintada no asfalto e não tinha uma placa informando para o motorista reduzir a velocidade. Segundo o pesquisador, a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que se o pedestre for atropelado a 30 km/h, tem 90% de chance de sobreviver. Por conta disto, o correto é ter uma placa de diminuição de velocidade a 100 metros das faixas de pedestre para que o motorista seja alertado, algo que não ocorreu.

O odontolegista alertou ainda para as características do bairro Caçari, criado há muitos anos e com um número expressivo de residentes que se instalaram há muito tempo com seus familiares. “Deve-se lembrar que, via de regra, o idoso enxerga pouco e se locomove com dificuldade. A vítima ia ser atropelada. Isso me sensibilizou muito. Ia ser mais um caso para o IML. Um registro quantitativo na estatística, mas a família ia ter um profundo sofrimento”, avaliou.

Depois do acontecido, o pesquisador elaborou um pedido ao poder público solicitando a implantação da sinalização adequada e sugeriu a colocação de uma faixa de pedestre 3D, tendo como base o trabalho das artistas Saumya Pandya Thakkar e Shakuntala Pandya, na cidade de Ahmedabad, na Índia.

“A experiência multiplica-se no mundo, inclusive no Brasil. A referida faixa 3D cria uma ilusão de ótica com o objetivo de promover melhor visualização pelos motoristas, contribui para diminuir a velocidade quando se aproximam da faixa de pedestres e assim, salvam vidas”, justificou. “Uma vida humana por uma placa, por um pouco de tinta e criatividade”, completou.

As solicitações foram encaminhas para a Prefeitura de Boa Vista, Governo do Estado, Assembleia Legislativa de Roraima, Tribunal de Justiça (TJRR), Ministério Público Estadual, Câmara dos Vereadores, Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Roraima e Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RR). O encaminhamento do pedido a tantos órgãos de controle foi pensado por conta do impacto que um acidente de trânsito causa à sociedade em geral.

“O Governo do Estado pode até citar que compete ao município estabelecer a sinalização, mas quando o cidadão é acidentado, é o Samu, é o Hospital Geral, Grande Trauma, Centro Cirúrgico, UTI que recebe essa pessoa, ou seja, há um envolvimento. A mesma coisa para quem faz as leis e a quem cabe fiscalizar. A gente não pode se furtar”, acrescentou.

EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO – Para Medeiros, o que falta é um processo educativo de segurança no trânsito, com ampla participação da população. “O IML completou 15 anos vendo o sofrimento humano de receber a população sequelada, sem conseguir regressar às suas atividades habituais ou então as pessoas evoluem ao óbito. É um sofrimento. Esse é o nosso dia a dia, mas apesar de ser o dia a dia, a gente não se conforma com isso”, afirmou.

A diretora do IML-RR, Marcela Campelo, completou que a melhor forma de contribuir é dar valor às pesquisas que são feitas pelos peritos e profissionais do instituto. “A gente incentiva a pesquisa de todos os nossos colegas e também de quem está vindo de fora e queira trabalhar com os nossos dados. O IML é um fornecedor de informações e estamos nos aprimorando. A gente sabe que dessa forma a gente pode contribuir para as políticas públicas”, avaliou.

PESQUISA – Além das contribuições com a sugestão da implantação da faixa de pedestre 3D, Antônio Medeiros elaborou uma série de estudos e pesquisas, tendo como foco o trânsito em Roraima. Os assuntos serão abordados pela Folha em um especial sobre o tema ao longo da semana.

As abordagens terão como tema os efeitos da redução do limite de velocidade no perímetro urbano da Capital, proposta de alteração e projeto de lei do seguro DPVAT, avaliação dos efeitos da Lei Seca e a abordagem da tese de doutorado de Medeiros com o título “Aspectos éticos, legais e epidemiológicos da mortalidade no trânsito em Roraima”, realizada na Faculdade São Leopoldo Mandic (SLM), em Campinas (SP) sob a orientação da Profa. Dra. Flávia Flório. (P.C)

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