Cotidiano

Pacientes do HGR denunciam suspensão de cirurgias eletivas

Sesau diz que aguarda para a próxima semana a entrega de materiais hospitalares, para retomar a realização de cirurgias eletivas

Alegando a falta de materiais e medicamentos para a realização de cirurgias eletivas, o Hospital Geral de Roraima (HGR) voltou a suspender as cirurgias de pacientes que já estavam agendados para a realização do procedimento. O motivo, segundo informado à Folha por uma fonte da Secretaria Estadual de Saúde, seria a falta desde máscaras N 95, medicamentos pós-operatórios, antibióticos e anestésicos.

Um destes casos é o da manicure Idacleci Pereira dos Santos, de 51 anos, que está aguardando há nove meses a realização de um procedimento operatório para a reparação de uma cirurgia malsucedida de histerectomia total (remoção do útero e/ou de outros órgãos que estão ao entorno) em maio de 2017 no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth. Foi detectada a perfuração da bexiga e a paciente já deu entrada por diversas vezes no HGR, mas sem material e medicamentos a cirurgia foi remarcada para uma nova data.

“Estou neste sofrimento desde junho de 2017 e quase todos os dias me desloco em busca de uma solução para o meu problema. A informação é que tenho que aguardar, pois ainda não existem todos os materiais para a realização de uma nova cirurgia para a reparação deste erro. São inúmeras as despesas que tenho, custeadas com a ajuda de meu esposo, pois como estou nesta situação não tenho como trabalhar e ajudar nas despesas de casa. São desde fraldas a medicamentos, que são comprados continuamente, com uma despesa de mais de R$ 900,00 todos os meses. Não sei mais para quem apelar para que essa cirurgia seja feita”, comentou.

De posse de todos os exames, Idacleci relatou que, para receber o diagnóstico, teve que realizar exames em clínicas particulares que não foram custeados pelo governo e alguns já estão com o prazo vencido e necessitam serem refeitos.

“Além dos medicamentos e fraldas que meu esposo tem que comprar, ainda temos que nos responsabilizar por exames em clínicas particulares, pois não são realizados pelo Estado. Com todo esse sofrimento, minha angústia aumenta a cada dia sem uma solução para o problema que foi causado por um erro médico. No exame que fiz, também foi descoberto que minha histerectomia não foi completa como estava prescrito no meu prontuário, pois apenas retiraram o útero. Foi uma sucessão de problemas e me encontro nesta atual situação, dependendo unicamente de meus familiares”, relatou.

Outro caso é de uma servidora pública, que optou por não ser identificada. Ela relatou que há três meses está aguardando uma cirurgia para a retirada de um cisto do ovário, que já foi desmarcada três vezes por falta de material e adequação do centro cirúrgico que estava passando por reforma.

“Já fiquei um dia internada, me alimentando somente de soro, e no outro dia fui encaminhada novamente para minha residência por falta de medicamento para o procedimento cirúrgico. Se ainda neste mês não acontecer, vou ter que acionar judicialmente o Estado, pois o médico que me atendeu disse que o meu caso pode muito bem aguardar, o que é revoltante”, frisou.

RECORRENTE – Em novembro do ano passado, pelo mesmo motivo, as cirurgias eletivas foram canceladas, com a notificação via ofício pela direção do Hospital Geral de Roraima à Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). Na época, “tal medida definida pelo grupo gestor do hospital se deu para resguardar o estoque mínimo (crítico) em prol das cirurgias emergenciais; da segurança do paciente; do profissional médico assistente, da unidade”.

MPRR ajuizou duas ações, que não foram cumpridas

O Ministério Público do Estado de Roraima, por intermédio da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde, informou em nota que acompanha às questões relacionadas à realização cirurgias eletivas. A promotora de Justiça de Defesa da Saúde, Jeanne Sampaio, tem adotado medidas judiciais e extrajudiciais para a garantia da realização de procedimentos cirúrgicos, a partir de análise dos casos.

Conforme a Promotoria de Justiça, o grande problema atual na saúde do Estado diz respeito ao abastecimento de medicamentos e insumos, gerando transtornos no atendimento hospitalar, inclusive na realização de cirurgias eletivas. O MPRR ajuizou duas ações civis públicas que foram deferidas, liminarmente, pelo Poder Judiciário. Posteriormente, diversas reuniões já foram realizadas com os gestores e profissionais da pasta.

Ontem, 19, em reunião com a promotora de Justiça Jeanne Sampaio, os dirigentes da Sesau informaram que o Estado já firmou contrato com a empresa responsável para aquisição de insumos e medicamentos, como também está montada uma logística para entrega desses medicamentos em Roraima até a próxima semana.

OUTRO LADO – Em resposta à Folha, a Secretaria Estadual de Saúde disse que aguarda para a próxima semana a entrega de materiais hospitalares, incluindo anestesia e medicamentos, para retomar a realização de cirurgias eletivas no Hospital Geral de Roraima (HGR).

Enfatizou que o investimento no abastecimento das unidades da rede estadual tem crescido, no entanto, o aumento populacional súbito, agravado pela imigração venezuelana, tem impactado fortemente na Saúde. “Vale destacar o crescimento de aproximadamente 40% da demanda nas portas de urgência e emergência, o que tem feito com que os estoques cheguem a níveis críticos antes do planejado”, afirmou. (R.G)