Cotidiano

Pacientes de lúpus denunciam falta de medicamentos na rede pública

Secretaria estadual de Saúde informou que está com dificuldades para comprar medicamentos

Pacientes diagnosticados com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) relataram à Folha a dificuldade de acesso contínuo a medicamentos importantes no combate à doença. De acordo com a presidente da Associação de Pacientes de Lúpus de Roraima (ALPR), Ildelene Ferreira, a rede de saúde estadual não oferece a medicação de forma regular.

Em Roraima, segundo Ildelene, existem 58 associados, porém em todo o Estado existem mais de 200 pacientes com Lúpus. “Sabemos que existem mais pessoas, só que não chegam até nós”, disse. O tratamento é feito gratuitamente no Hospital Coronel Mota, no entanto, um dos medicamentos não é fornecido há dois anos.

“Quando descobri a doença, em 2011, os medicamentos eram fornecidos de forma regular, só que a partir do segundo ano já não acontecia assim. De dois anos pra cá, o Reuquinol não é oferecido, a Azitioprina há três meses têm faltado e há mais de 10 meses também tem faltado Ciclosfosfamida”, afirmou.

Conforme o Ministério da Saúde, os medicamentos deveriam ser oferecidos e distribuídos pelo Governo de forma contínua aos pacientes. “Só conseguimos por ordem judicial, no entanto é um processo que demora uns três meses”, contou Ildelene.

A representante da associação disse ter dificuldades quanto à compra dos medicamentos, ou até mesmo consegui-los, tendo em vista que são medicamentos difíceis de ser encontrados em farmácias privadas. “São medicamentos que custam de R$ 80 a R$ 250 ou até mais. Se colocar tudo na ponta do lápis, ao mês nós gastamos em torno de R$ 800. Além disso, são medicamentos que quase não se encontra em farmácias. É preciso encomendar”, relatou.

Segundo Ildelene, conseguir uma vaga no mercado de trabalho é muito difícil quando é paciente com lúpus. “No momento, eu não estou trabalhando. Fica mais difícil arcar com todos os gastos com medicamentos”, disse.

Às vezes, os pacientes conseguem as medicações por meio de doações. “Graças a Deus que tem pessoas que nos ajudam com doações. Há poucos dias uma pessoa doou 40 unidades do Reuquinol e foi divido entre os associados”, comentou.

GOVERNO – Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) esclareceu que tem encontrado dificuldade em adquirir medicamentos utilizados no tratamento de lúpus. “Já foram realizadas várias tentativas de compra, no entanto nenhuma empresa manifesta interesse ou as firmas interessadas não atendem aos requisitos necessários para que haja a contratação”, informou.

“Enfatizamos que a gestão precisa seguir normas rígidas para aquisição de medicamentos, principalmente no que diz respeito ao limite de preço, o que pode retardar a aquisição. No entanto, a pasta está buscando uma alternativa para restabelecer o estoque deste medicamento o mais rápido possível”, acrescentou em nota.

Reumatologista acionou o Ministério Público para informar falta de remédio

De acordo com o médico reumatologista Bruno Leitão, a Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença autoimune, que causa disfunção do sistema imunológico. Ela acomete principalmente mulheres no início do seu ciclo menstrual e tende a diminuir com o passar da idade. “O lúpus é uma doença crônica, uma vez que se desenvolve e o diagnóstico definitivo pode causar muitos problemas articulares, dermatológicos, renais, cardíacos, de pele”, explicou. “O paciente precisa fazer o acompanhamento com serviço de reumatologia em caráter contínuo, sendo necessários cuidados principalmente no uso de medicação”, reforçou.

Bruno Leitão também é engajado na luta dos pacientes com lúpus para garantir a medicação na rede pública de saúde. Devido à falta de medicação, o médico acionou o Ministério Público. “O Ministério Público foi acionado para sinalizar à descontinuidade da falta de medicação, haja visto que são definidos em portaria do Ministério da Saúde, portanto, deveriam ser oferecidos, distribuídos e dispensados aos pacientes que precisam”, frisou. (E.M)