Cotidiano

Pacientes com chikungunya sofrem com prolongamento dos sintomas

Mesmo após o fim do tratamento, pessoas continuam a sentir dores nas juntas, ombros, braços, punhos e tornozelos

A febre chikungunya é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, causa principalmente febre alta e dores nas articulações e é tratada basicamente com o uso de remédios para o controle dos sintomas. No entanto, mesmo após a liberação dos pacientes, o cuidado com a doença deve continuar.

Isso ocorre em razão de muitas pessoas sofrerem o prolongamento desses sintomas e necessitarem procurar por serviços de fisioterapia para combater a artrite, que provoca inflamação da articulação e artrose, que provoca degeneração da cartilagem da articulação.

É o caso de Terezinha Jesus da Silva, de 71 anos, moradora do município de Pacaraima, na região norte do Estado. Professora aposentada, Terezinha foi diagnosticada com chikungunya em meados de maio deste ano e, passados cinco meses, ainda sente os efeitos da doença. “Eu anoiteci boazinha e quando foi de manhã não dava mais conta nem de mim. Dor de cabeça, vômito, não levantava. Minha filha que mora comigo me levou para o hospital e lá eu fui medicada e tomei soro. Passei umas duas semanas sem comer, só tomando soro e água. Depois eu melhorei e fui pra casa, fui me recuperando aos poucos”, explicou a aposentada.

Agora, em outubro, Terezinha ainda sente fortes dores do lado esquerdo do corpo. “São todos os músculos, braços, pernas, panturrilha, nádega. Como eu já estava melhor, eu fiquei me recuperando por aqui mesmo, em casa e não fui atrás de um especialista. Falta hospital e bons médicos, então, preferi me tratar por aqui mesmo”, explicou a dona de casa.

Para aqueles que pensam em procurar uma solução para o problema, duas das alternativas são buscar atendimento de fisioterapia no Núcleo Estadual de Reabilitação Física (Nerf), localizado na Avenida General Ataíde Teive, nº 6459, no bairro Nova Canaã, zona oeste da Capital em horário comercial ou na Clínica Escola da Faculdade Cathedral, onde os atendimentos são feitos de segunda a quinta-feira de 14h às 17h. Nas duas unidades, é preciso levar o encaminhamento de um médico para tratamento de fisioterapia. (P.C)

Mais de 30 pacientes já foram atendidos com sequelas da chikungunya no NERF

Segundo a diretora-geral do Núcleo Estadual de Reabilitação Física (Nerf), Camila Gaviolli, desde que se iniciou o surto da doença, a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) entrou em contato com a instituição para alertar sobre as consequências da chikungunya. “Em julho deste ano, nós iniciamos uma estatística específica relacionada aos pacientes com sequelas da chikungunya. Conseguimos levantar, nos meses de agosto e setembro, em torno de 30 pacientes que entraram por conta de consequências da doença”, disse Camila.

A diretora ressaltou que esses números podem ser até maiores. “Em muitos casos, não vem esse encaminhamento para a gente, mesmo se tratando de consequência da doença. Às vezes o paciente vem tratar de algo, sem saber a sua origem”, afirmou.

ATENDIMENTO – A diretora informou que, no momento, os atendimentos são feitos de acordo com a patologia em si. “Muitos deles [pacientes] vêm com dores articulares, as duas mais acometidas são nos ombros e tornozelos. Então, a partir do momento que eles chegam aqui, conseguem a vaga e começam o tratamento. O período do tratamento depende de cada caso, cada paciente”, explicou.

“Se o paciente tem um problema no tornozelo, ombros, costas, punhos, ou outros, ele vai ser atendido naquela região. A consequência mais comum é a artrite e artrose, a sensação de inchaço e tensão. Estamos tratando como se fosse algo do tipo, mas vamos tentar aplicar técnicas novas”, afirmou.

Camila explicou que, com o surto, o Nerf se preparou para realizar os atendimentos e solicitou o treinamento da equipe disponível, para melhor atender à população. “Com isso, a gente se preparou quanto ao número de vagas e com a nossa equipe. Agora em novembro, a nossa equipe vai participar de um treinamento com médicos e fisioterapeutas especialistas na área. Vai ser repassado o que tem de novo com relação ao tratamento e de terapia para os pacientes”, ressaltou.

Com relação ao que causa o prolongamento dos sintomas, a diretora disse que, por se tratar de uma doença nova no país, os casos ainda estão sendo analisados e não se pode precisar o que provoca os efeitos colaterais. “É tudo tão novo, que os estudos ainda estão sendo feitos”, complementou. (P.C)

Treze municípios estão em situação de alto risco no LIRAa

De acordo com dados do último Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa), de julho deste ano, dos quinze municípios do Estado, treze estão em situação de alto risco e os dois restantes no nível de médio risco.

A gerente do Núcleo de Febre Amarela e Dengue da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS), Ana Paula Guth, explicou que o Governo do Estado tem realizado ações de combate nos bairros de Boa Vista e nos municípios do interior para tentar reverter a situação no próximo LIRAa, previsto para ser publicado já na próxima semana. “Percorremos os 52 bairros de Boa Vista. Em setembro fomos a São Luiz, Bonfim e Rorainópolis e vamos continuar a programação em outubro e novembro. Esta semana estaremos em Rorainópolis com os oito carros fumacê, depois em Caracaraí e retornaremos para Boa Vista”, afirmou.

Segundo ela, a situação dos municípios é complicada em termos que fogem ao controle da Secretaria de Saúde. “Temos que avaliar outras questões, por exemplo. Muitos municípios do interior não têm coleta de lixo regular e não têm abastecimento regular de água, o que faz com que os moradores tenham que acumular água em casa, geralmente em depósitos que podem se tornar criadouros”, pontuou.

COLABORAÇÃO – Ana Paula explicou que a utilização dos carros fumacê, ou seja, os veículos que liberam inseticidas contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, não é a primeira estratégia de controle vetorial, mas uma ação para ser usada justamente na situação em que Roraima se encontra, em que as infestações estão muito altas e é necessário matar a forma adulta do mosquito.

“Quando o carro fumacê passar, a gente orienta que as pessoas abram janelas e portas. O certo é abrir e arejar para entrada do fumacê. O Aedes é um mosquito que gosta de estar dentro da residência, se escondendo em cantos escuros, atrás de móveis, de geladeiras, o mosquito adulto fica escondido. Se deixar tudo lacrado, o inseticida não vai adentrar”, afirmou Ana Paula.

A gerente ressaltou que a principal forma de combater a doença é eliminar os criadouros do mosquito. “A gente passa com o fumacê, elimina os mosquitos adultos, mas no dia seguinte ou até no mesmo dia já estão nascendo novos mosquitos. Todo mundo tem que fazer a sua parte e a questão do criadouro é de responsabilidade de cada morador, de vistoriar a sua casa, deixar de manter água acumulada, quintal sujo. As ações de controle são de extrema importância para reduzir o índice de infestação”, pontuou.

OUTRAS MEDIDAS – Além disso, Ana Paula explicou que a CGVS está articulando a vinda de alguns técnicos do Ministério da Saúde para treinamento de manejo clínico dos médicos e enfermeiros da Capital, além da capacitação dos profissionais do NERF e da Semana Nacional de Combate ao Aedes aegypti, prevista para ocorrer de 23 a 27 de outubro. “A gente também tem intensificado junto aos municípios as ações de controle, visitas domiciliares. O trabalho dos agentes de endemias, por exemplo, é muito importante porque com um trabalho de rotina diminui o índice de manifestação alta”. (P.C)