Política

PF faz operação na Câmara para apurar compra de votos

Houve busca e apreensão no gabinete do vereador Mauricélio Fernandes e na Presidência da Casa; Parlamentar disse é vítima de tentativa de extorsão

A Polícia Federal deflagrou ontem, 20, operação para apurar suposta captação ilícita de sufrágio, a popular “compra de votos”, e associação criminosa nas eleições de 2016 para vereador em Boa Vista. Os policiais federais cumpriram três mandados de busca e apreensão na residência do vereador Mauricélio Fernandes (MDB), em seu gabinete particular e na presidência da Câmara Municipal. A investigação faz parte da Operação Ambitus, nome escolhido por remeter ao crime de corrupção política na Roma antiga. Os mandados foram deferidos pela Justiça Eleitoral após representação em inquérito policial.

De acordo com a PF, até o momento, as provas apontam que houve pagamentos de valores de R$100 na véspera das eleições de 2016 a eleitores que prometessem voto em favor do vereador. A Polícia Federal em Roraima ouviu os investigados, que foram indiciados pelos crimes previstos nos artigos 299 do Código Eleitoral e 288 do Código Penal. A pena prevista para os crimes é de até sete anos de reclusão. A PF informou que as investigações continuam, com análise do material apreendido durante a operação e que todo resultado será encaminhado à Justiça Eleitoral.

Sessão começou com atraso após operação da PF

A situação envolvendo o presidente da Câmara Municipal causou confusão antes do início da sessão. Cinco parlamentares que aguardavam no plenário desde às 9 horas, horário previsto para o início dos trabalhos, afirmaram que a Mesa Diretora da Casa, presidida pelo vice-presidente Júlio Medeiros, se negou a dar início a sessão, que começou somente às 11h10.

No início da manhã, funcionários da Câmara tentaram trancar o plenário, impedindo o acesso de pessoas ao local, inclusive de vereadores e funcionários.

O presidente da Câmara Municipal de Boa Vista, vereador Mauricélio Fernandes (MDB), só chegou à sessão por volta de 11h20 e usou a tribuna. Ele confirmou que foi até a PF prestar esclarecimentos sobre as acusações que envolvem o seu nome e disse estar surpreso com a situação.

Mauricélio revelou que em dezembro de 2016 foi vítima de extorsão por uma pessoa que trabalhou em sua campanha eleitoral daquele ano e que, por não ter aceitado a extorsão e ter feito boletim de ocorrência, sofreu essa acusação, considerada por ele como caluniosa. 

“Condeno veementemente as acusações e esclareço que a tentativa de me extorquir por supostas irregularidades em minha campanha não deu certo, e por isso o denunciante procurou as autoridades e outros políticos para fazer a falsa acusação”, explicou.

O presidente da Câmara disse que diante dos fatos, fez Boletim de Ocorrências (BO) desde o início das extorsões e que, portanto, o caso está sendo apurado pela Polícia Civil. Ele contou que, no ano passado, o denunciante teria procurado os vereadores Renato Queiroz (MDB) e Júlio Medeiros (PODE) pedindo dinheiro para entrar com uma denúncia contra o presidente com documentos que, segundo ele, comprovavam a compra de votos.

Diante da negativa dos dois, ele teria ligado diversas vezes para um assessor do parlamentar pedindo R$ 200 mil para não fazer a denúncia, momento em que o parlamentar registrou boletim contra a pessoa. “Registrei o BO e tenho todas as provas me isentando e mostrando que o que está acontecendo é uma situação de extorsão”, afirmou.

“Sou vítima de extorsão por parte de uma pessoa que trabalhou na campanha de 2016. Naquela época, em dezembro, registrei um BO comunicando o fato e provando para a polícia que eu estava sendo vítima de extorsão, para me respaldar de toda e qualquer situação e acusação. Por isso, estou tranquilo em relação às acusações sobre minha pessoa e a minha campanha eleitoral de 2016. Já estou tomando as devidas providências junto com meu advogado”, afirmou.

O presidente da Câmara acrescentou que está tranquilo com relação a qualquer acusação em relação às eleições de 2016. “Estou no meu terceiro mandato, passei pela minha terceira campanha eleitoral e sempre disse aqui na tribuna: ganha eleição quem tem nome bom, grupo bom e tem trabalho para mostrar”, reiterou.

Fernandes ainda defendeu que as instituições, como as polícias e o Ministério Público, devem exercer suas funções e prerrogativas para apurar a verdade, e diante disso, está a disposição para colaborar com o que for necessário para provar sua inocência. “Quero aqui dizer que estou de cabeça erguida e não vou me abater. Estou aqui e vamos para a sessão, vamos trabalhar”, finalizou.