Cotidiano

Operação prende mulheres que coordenavam ataques criminosos

Entre os presos estão 11 mulheres integrantes de facção que são chamadas de “cunhadas” dentro das organizações criminosas

Em atuação conjunta com a Polícia Militar, Divisão de Inteligência e Capturas (Dicap) da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) e Ministério Público de Roraima (MPRR), a Polícia Federal de Roraima deflagrou, nas primeiras horas desta sexta-feira, 11, a Operação denominada “Cunhadas”, em alusão às mulheres e companheiras de membros de facção criminosa. Aproximadamente 50 policiais cumpriram 16 mandados judiciais, sendo onze contra mulheres. Os mandados foram deferidos pela Justiça Estadual e as ações foram coordenadas na Capital.

De acordo com o delegado da Polícia Federal (PF), Alan Robson, os presos são integrantes de facções criminosas que teriam participação nos ataques ocorridos no Estado no ano passado e este ano. O grupo também teria ligação com as rebeliões ocorridas em presídios de Boa Vista.

“Esse é um trabalho integrado das forças de segurança do Estado para iniciar a eliminação de facções criminosas, trabalhamos em cima de ataques realizados pelas facções e rebeliões”, afirmou.

Segundo o delgado, entre os presos estão onze mulheres que agiam facilitando a entrada de aparelhos celulares no presídio. As acusações são de participação por tráfico de drogas, associação para o tráfico, homicídio, ameaça a agentes públicos e ataques, associadas às organizações criminosas. As penas para esses tipos de crime são duras e podem chegar a mais de 30 anos de reclusão.

“O que me chamou a atenção foi a participação efetiva e fundamental das mulheres no cometimento de crimes graves e bem articulados. Estamos dando uma resposta à sociedade. As dezesseis pessoas estão sendo presas preventivamente, mas podem ser condenadas a cumprirem penas pesadas”, enfatizou.

Além das prisões, a PF apreendeu cocaína e pasta base de cocaína, além de cadernos com anotações utilizados por facções com informações para execução de ações criminosas.

OPERAÇÃO – A Operação foi batizada de “Tovajar”, que significa “inimigo” e também “cunhado” na língua tupi-guarani. Parte da organização criminosa se intitulava “cunhadas”, como são chamadas as mulheres de integrantes de facções criminosas, de acordo com a PF.

Grupo acusado de intimidar forças policiais foi investigado por 2 meses

Conforme o subcomandante da Polícia Militar, coronel Paulo Macêdo, durante as ações criminosas, o grupo esteve envolvido em casos de ameaças e homicídios de agentes de públicos (polícias militares, civis e agentes penitenciários), além de ataques a órgãos públicos de vários segmentos, inclusive de segurança, ônibus coletivo, agências bancárias entre outros.

O objetivo das ações criminosas era intimidar as forças de segurança por causa do combate ao tráfico de drogas na área Caetano Filho, conhecida como “Beiral”, localizada na região central de Boa Vista, que está sendo desapropriada pela Prefeitura. “O intuito é acabar de vez com essa afronta do crime à sociedade e ao poder constituído. Esse grupo cometeu crimes sérios, ameaças e até assassinatos a agentes públicos e jamais irão repeti-los”, enfatizou.

O secretário adjunto de Justiça e Cidadania (Sejuc), Diego Bezerra, disse que no processo de investigação que durou dois meses, ficou claro que a prisão preventiva dos suspeitos é medida necessária para acabar com as ameaças a agentes públicos, bem como para tirar de risco toda a população de Roraima.  “Trabalhamos durante 60 dias para identificar os acusados, e a Justiça estadual viu a situação de risco que essas pessoas ofereciam à sociedade e os mandados foram desferidos. Felizmente, agora estão fora de circulação”, salientou.

Os presos foram levados à sede da Superintendência da Polícia Federal em Boa Vista para interrogatórios e indiciamentos. Eles serão encaminhados à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), onde ficarão em lugar separado à disposição da Justiça. As investigações continuam com análise do material apreendido e apuração do envolvimento de outros integrantes da organização criminosa.

Onze mulheres são apontadas como responsáveis por organizar ações

Batizadas pela facção criminosa como as “11 cunhadas”, as mulheres eram responsáveis de executar a trama para a morte de agentes da Segurança Pública do Estado, além de promover ataques. Elas faziam lançamento, arrecadação, levantamento, investigação e logística para realização dos crimes.

Nos últimos dois meses foram alvos de ataque duas agências do Bradesco, a Delegacia do Idoso, no bairro Tancredo Neves, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do bairro Nova Cidade e uma tentativa na Cozinha Industrial, no bairro Caimbé, todos na zona oeste de Boa Vista, além da Câmara e Prefeitura do Município de Mucajaí, a centro-oeste do Estado.

Elas faziam o planejamento, financiavam a ação e repassavam o dinheiro para o combustível a ser usado nas ações criminosas. A concentração para as atividades ilegais acontecia na residência de uma delas. Era ela quem controlava o cadastro dos integrantes da organização.

Familiares se surpreendem com prisões

Pais, mães, irmãos e parentes dos suspeitos ficaram surpresos com as prisões, principalmente das mulheres. Eles disseram que nunca souberam de envolvimento nenhum delas com o crime. Segundo uma servidora pública, o choque foi enorme ao saber que a filha havia sido presa pela Polícia Federal.

Segundo ela, a decepção maior foi ter sido a última a saber que a filha seria integrante de uma facção criminosa. Ela atribuiu o comportamento da filha a um relacionamento não desejado pela família com detento da Penitenciara Agrícola de Monte Cristo.

Uma das presas trabalhava com serviços gerais em uma escola pública localizada no bairro São Pedro, zona leste. Ela tem 30 anos, mãe de três filhos. A prisão dela ocorreu por volta das 07h no local de trabalho. Com ela foi localizado um caderno com anotações sobre ações criminosas.

“Minha filha é mãe de três filhos, sempre trabalhou e eu dei a melhor educação. Não consigo parar de chorar. Nunca imaginei um fato desses. Nós, a família, nunca gostamos de um relacionamento que ela tem com um preso. Esse é o único fato que justifica”, comentou a mãe, desesperada.

A irmã de outra suspeita disse que ficou abismada ao saber da prisão da jovem, que tem 21 anos e está grávida de quatro meses. Ela disse que a jovem tinha uma vida tranquila e nunca demonstrou afeição pelo crime. “Sinceramente, não sei o que aconteceu com minha irmã. Ela está grávida e tanto ela como o marido têm uma vida muito pacata. Incrível essa acusação de ser integrante de facção criminosa. Deve ter algum engano”, disse em tom de indignação. (E.S)