Cotidiano

Número de homicídios cresce 30%

De janeiro a maio de 2018, foram contabilizados 129 homicídios, segundo dados do Instituto de Medicina Legal e da Secretaria de Estado da Segurança Pública

O número de homicídios registrados em Roraima cresceu 30% nos cinco primeiros meses deste ano, se comparado ao mesmo período de 2017. Os dados do setor de estatística e análise criminal da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), com base em levantamento do Instituto de Medicina Legal de Roraima (IML-RR), revelam que de janeiro a maio deste ano já foram registrados 129 homicídios.

O crescimento é percebido quando há a comparação de dados de janeiro a maio de 2017, quando foram contabilizados 99 homicídios. O índice do ano passado é superior em 90% ao de 2016, quando foram registrados 52 homicídios.

Segundo os dados de 2018, a concentração de mortes violentas ocorreu no início do ano, com 33 casos registrados. Em fevereiro, o número caiu drasticamente, com 11 registros, porém voltou a subir nos meses seguintes. Em março, foram 32 mortes, 29 em abril e 24 em maio.

A Sesp também classificou as informações conforme o perfil do homicídio, entre aqueles que utilizaram arma de fogo; arma branca; ação contundente, ou seja, lesões cometidas pelo homicida com pedras, pedaços de pau, barras de ferro; estrangulamento; asfixia e outros tipos.

Foram 66 mortes por armas de fogo, 42 por arma branca, 17 por ação contundente, um por estrangulamento e três por asfixia. Na categoria de outros tipos, não houve nenhum registro.

Pode-se perceber também um aumento significativo de 112% nos casos de mortes violentas causadas por armas de fogo em Roraima. Nos cinco primeiros meses de 2017, os casos de morte por arma branca superaram os por arma de fogo, com 55 casos contra 31. No ano de 2016, o índice de janeiro a maio foi de 29 mortes causadas por armas de fogo e 23 por armas brancas, um percentual similar.

DADOS ANTERIORES – Considerando os dados fechados de 2016 e 2017, pode-se afirmar que ocorreu um aumento de 10% no índice de homicídios de um ano para o outro. Em 2017, durante todo o ano, foram registrados 212 homicídios e 192 em 2016.

No ano passado, a concentração de casos ocorreu em janeiro, com 47 mortes contabilizadas. As maiores causas de homicídio foram por arma de fogo, com 92 casos, seguidos de arma branca com 84 casos.

Em 2016, agosto e dezembro foram os meses mais violentos com 29 mortes cada um. O índice de armas de fogo também foi o maior, com 74 casos no total, seguido de armas brancas com 60.

Sensação de impunidade influencia na violência, acredita especialista

Para o professor e pesquisador em Segurança Pública da Universidade Estadual de Roraima (UERR), Carlos Borges, embora outras localidades apresentem números mais alarmantes relacionados a mortes violentas, a situação é preocupante em Roraima.

“O Estado apresenta a expansão da violência perto de 110% no transcurso dos últimos dez anos, tendência seguida para toda a Região Norte, que divide com o Nordeste a posição de regiões mais violentas do país, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), responsável pelo Atlas da Violência”, informou.

Borges acredita que um dos principais motivos da expansão desse fenômeno social é a sensação de impunidade dos infratores, já que os criminosos acreditam que não haverá punição e, se houver, será mais branda, mudando o ditado para ‘o crime compensa’.

Uma das situações que implica na impunidade, avalia o professor, é a maneira como se distribui o orçamento nacional. Enquanto a Previdência Social recebeu mais de R$ 500 bilhões em 2016, o Ministério da Justiça recebeu, no mesmo ano, algo em torno de R$ 12 bilhões. Com essa medida, os estados acabam tendo que bancar as despesas com segurança pública com recursos próprios.

“Os valores só podem ser superados através de burocráticos convênios, que na maioria das vezes tornam saídas impeditivas para muitas regiões. A consequência é a devolução de recursos dada a dificuldade de preencher requisitos complexos. Isso acarreta em impactos diretos na qualidade da segurança pública dos entes federados”, explicou o professor.

Para Borges, por Roraima depender majoritariamente de recursos federais, o Estado acaba sentindo mais cruelmente as consequências dessa realidade. “Isso pode ser visto pela presença persistente das facções que operaram a partir dos presídios, sendo estes, via de regra, inteiramente precários em termos de pessoal e infraestrutura”, apontou.

Outro fator de destaque, para o especialista, é o poder público ter escolhido as políticas de bem-estar social. A seu ver, privilegiando setores da sociedade vistos como excluídos em prejuízo à segurança pública. “Fatores que se somam à falta de estrutura e condições de trabalho das polícias, da legislação branda, da impunidade, da morosidade da justiça, que são fortes combustíveis para o aumento da violência e na sua absoluta banalização, levando a crimes cada vez mais hediondos”, concluiu o professor. (P.C.)