Cotidiano

Movimento Unegro avalia avanço em políticas de igualdade racial

Em alusão ao Dia da Consciência Negra, comemorado nesta segunda-feira, 20, a presidente do Movimento União de Negros pela Igualdade (Unegro) em Roraima, Glória Rodrigues, fez uma avaliação sobre as políticas públicas voltadas para a questão racial no Estado nos últimos anos. Segundo ela, um dos pontos altos para trabalhar no fortalecimento das políticas afirmativas e no combate à intolerância religiosa afro-brasileira foi justamente a criação da Unegro em Roraima, no ano de 2004.

“O movimento afro-religioso já tinha um movimento na década de 80, mas fragilizou e até então a gente não tinha uma política de ações afirmativas implantada no Estado. Nosso objetivo era criar esse enfrentamento político, tanto com as instituições quanto com a sociedade, para que começassem a entender esse processo de reconhecimento”, frisou.

De acordo com a presidente, uma das primeiras ações realizadas para a questão ocorreu em 2008, quando foi realizada uma capacitação com os professores do município sobre a Lei nº 10639/03, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira africana nas escolas. “Também tivemos uma conversa com a Secretaria Estadual de Educação [Seed] e fomos quebrando esses estereótipos com seminários, com debates, com roda de conversas”, complementou.

Pouco tempo depois, conforme ela avaliou, o movimento ganhou força nos estados e em âmbito nacional, na procura por políticas públicas através da legislação. Conforme Glória, essa medida foi necessária em razão da resistência dos gestores brasileiros em aplicar políticas públicas favoráveis à população negra.

“Como o movimento Unegro nacional já vinha nesse debate, se viu a resistência da implantação dessas políticas por conta dos gestores. Foi aí que nós partimos para a questão governamental, que foi obrigar aos estados a implementarem essa política, infelizmente. Vimos que se não fossem obrigados, não iriam implementar. Uma dessas medidas foi a política de cotas”, frisou.

Na questão das cotas, por exemplo, há um conflito de entendimento, segundo Glória, no que diz respeito à temporariedade da política. “O negro foi jogado e marginalizado desde o começo da história do país e o sistema de cotas em si tem um prazo de dez anos, é temporário. Hoje o Brasil tem 104 milhões de brasileiros que, em sua maioria, se autoafirmaram negros. É preciso fazer uma política efetiva não só por esse reconhecimento histórico, mas pela dívida com o povo negro brasileiro”.

Outro fator que implica, segundo ela, é a questão do racismo velado. “É preciso desconstruir isso. O Brasil tem suas histórias, mas conta sempre a história do branco chegando aqui, não conta sobre a mão de obra do negro na construção desse país. É preciso resgatar essa história para que o negro se reconheça e tenha o seu próprio empoderamento político”.

Apesar das dificuldades vividas ao longo dos anos, Glória acredita que as políticas têm avançado, por exemplo, com o decreto do feriado municipal e estadual no Dia da Consciência Negra, uma nova realidade para Roraima e Boa Vista, além de várias instituições estarem realizando uma extensa programação voltada para o tema.

“Hoje nós temos um grupo de trabalho que está estudando a temática afro-brasileira, do negro em Brasil, em Roraima e na Amazônia. Ainda precisa-se trabalhar essa contextualização histórica porque ainda está muito na invisibilidade, mas acredito que o pior enfrentamento foi no início. Hoje, pelo menos, a gente consegue conversar e dialogar com as instituições e a sociedade”.

Sobre ser negro em Roraima, a presidente acredita que a situação não é tão distante quanto se declarar indígena. “Encontramos pessoas com todas as feições, traços indígenas e que insistem em dizer que não são daqui. O racismo existe, mas acredito que estamos trabalhando para essa evolução”, declarou.

“São situações relevantes, mas entendo que, mesmo nos desafios que enfrentamos no dia a dia, temos conseguido avançar na política de igualdade racial. Isso para nós é um passo, um avanço. O exercício da consciência negra tem que ser feito todos os dias, no trabalho, em casa, com a família, com os amigos e é isso que nós pretendemos fortalecer”, destacou. (P.C.)