Cotidiano

Moradores do João de Barro ganham prazo até junho para pagar dívida de luz

Consumo de todas as residências da ocupação João de Barro totaliza R$ 150 mil, valor que deve ser rateado por todos os moradores

A Associação dos Trabalhadores Sem-Teto (ATST) procurou à Folha para dar esclarecimentos sobre a situação da dívida dos moradores do loteamento João de Barro, localizado no bairro Cidade Satélite, zona Oeste da Capital, com a Eletrobras Distribuição Roraima. Conforme a empresa energética, a conta da associação é de R$ 153.066,00. A situação chegou a esse ponto em razão do medidor da associação ser o único fornecedor de energia da área.

As quase 200 famílias que moram na área, utilizam o serviço por meio de ligações clandestinas, os chamados “gatos”. Conforme a presidente da entidade, Geice Brito, que está no comando da associação há dez meses, a situação foi se complicando cada vez mais por conta do aumento do número de habitantes. Segundo ela, ao comprar o lote de uma pessoa que se dizia dono da terra, a associação pagou pelo lote já com o medidor de energia e consequentemente as contas do consumo. Pouco tempo depois disso, começaram as ligações clandestinas.

“No começo, quando tinha pouca gente, a associação vinha pagando as contas. Conforme os moradores foram se mudando, consequentemente a demanda foi aumentando e chegou ao ponto de não ter mais condições de pagar. O consumo mensal do João de Barro está em R$ 17 mil por mês. A associação não tem condições de pagar esse valor”, disse.

Segundo Geice, ao assumir a entidade, já havia uma dívida a ser paga. Questionada do motivo pelo qual decidiu manter o procedimento ilegal de “gatos”, ela disse à Folha que o corte seria um ato desumano. “É uma questão muito simples, é social. Como é que vou tirar energia de pessoas que têm filho, criança, idosos, de famílias? Não poderia deixar cortar a energia porque seria desumano. A ideia era se unir, fazer o pagamento e todo mundo ter uma energia”, explicou.

A presidente afirmou que, após o primeiro corte de energia, em fevereiro deste ano, a associação fez uma negociação com a Eletrobras para parcelar a dívida e iniciou um levantamento nas residências, para saber quanto cada morador consumia e medir de quanto seria o pagamento de cada um. Ao final da análise, a média de pagamento para cada seria de R$ 60,00 por pessoa. No entanto, Greice conseguiu angariar somente R$ 3 mil.

“As pessoas que mais pagaram são as mais humildes. As pessoas que tinham dois ar-condicionados, ventilador e freezer se recusaram. Achando que o problema ia se refletir somente na associação, sendo que uma vez cortado o transformador, todo mundo ficaria sem energia”, reclamou.

Eletrobras diz que vai retirar rede se dívida não for paga no prazo

O diretor-presidente da Eletrobras Distribuição Roraima, Anselmo Santana Brasil, explicou que, após o último corte de energia, ocorrido na semana passada, a empresa decidiu dar mais um prazo para o pagamento da dívida.

“Fui lá pessoalmente com os moradores, fizemos cinco simulações de parcelamento para que eles escolhessem a melhor para eles. Tinha dado um prazo até dia 30 deste mês e eles argumentaram que precisavam se organizar, que o tempo era pouco, e pediram o prazo até o dia 15 do mês que vem, o que nós concebemos. Ao final, ficaram as cinco propostas e a data final. No mesmo dia, a empresa mandou religar a energia. Mas, quando chegar dia 16 do mês que vem, vamos cortar e, se religarem, nós vamos ter que tirar a rede”, disse Anselmo Brasil.

O diretor explicou que não há satisfação em retirar a energia do local. “Vai doer fazer isso. Entendo a necessidade, mas nós mostramos que, pela quantidade de pessoas e casas que têm lá, tirando o parcelamento da dívida, a conta é de R$ 60,00 por residência. Evidente que tem casas que consomem mais, que devem pagar mais e quem consome menos, pague menos. Mas a média para ter energia em casa não é algo extraordinário”.

“Veja bem, eu não posso enxergar o problema interno, de relacionamento entre eles. Eu enxergo até o medidor, mas a empresa é sensível porque lá dentro nós temos uma coisa preciosa que são as crianças. Por conta disso, nós chegamos ao limite dos limites. Apesar de tudo, acredito que haverá uma resolução positiva”, frisou.

Associação alega que apenas parte da área estaria irregular

Com relação às informações repassadas pela Prefeitura de Boa Vista, que a área em questão possuía um bloqueio judicial junto à União, o que impossibilitava o município de regularizar o local, a presidente Geice Brito negou a situação e disse que somente uma parte da área estaria irregular.

“As compras dos lotes iniciaram no ano de 2012. Foi pago um valor pequeno, de R$ 825 à vista e R$ 1 mil parcelado. Temos todos os documentos, tem contrato de compra e venda, matrícula, portanto, é uma área totalmente regularizada. E a Prefeitura se comprometeu a regularizar a porcentagem da área problemática”.

PREFEITURA – A Folha entrou em contato com a Prefeitura sobre as declarações da presidente, porém, até o fechamento da matéria, não obteve retorno. (P.C.)