Cotidiano

Megaoperação de combate à exploração sexual é realizada em Roraima pela PF

Investigações da Polícia Federal apontaram existência de uma rede de tráfico de brasileiras e venezuelanas para fins de exploração sexual em casas noturnas do Estado

Ainda nas primeiras horas da manhã dessa quinta-feira, dia 4, os agentes da PF (Polícia Federal), que chegaram em comboio, na última quarta-feira, dia 3, em Roraima, saíram às ruas para deflagrar uma megaoperação em zonas de prostituição de Boa Vista e outros seis municípios do Interior. Batizada de “Codinome”, a investigação apontou a existência de uma rede de tráfico de brasileiras e venezuelanas para fins de exploração sexual no Estado.

Na Capital, os policiais federais fecharam ruas do entorno da Feira do Passarão, localizada no bairro Caimbé, na zona oeste, onde funcionam várias casas noturnas. Os policiais federais entraram em residências, pousadas e bares nas proximidades. A operação também focou a manutenção de casas de prostituição e rufianismo, delito em que onde os proprietários dos estabelecimentos lucravam com a exploração sexual.

Segundo informações repassadas pela Polícia Federal, foram cumpridas 46 medidas judiciais, sendo 25 mandados de busca e apreensão e 21 Conduções Coercitivas na Capital e nos municípios de Rorainópolis, São Luis do Anauá, Caroebe, Alto Alegre, Iracema e Mucajaí, deferidos após representação em inquérito policial instaurado em setembro de 2016.

Até as 8 horas desta quinta-feira, três pessoas foram presas em flagrante durante a operação policial, pelos crimes investigados. As prisões ocorreram nos municípios de Caroebe e Rorainópolis, ambas na região sul de Roraima.

MODUS OPERANDI – As investigações da PF, que duraram pouco mais de sete meses, não apontaram o emprego por parte dos proprietários das casas noturnas de grave ameaça, violência, coação, cárcere privado ou frade contra as vítimas.  “O que se verificou foi o abuso da vulnerabilidade econômica dessas pessoas, o que ocorre tanto com brasileiras quanto com venezuelanas”, informou o chefe da Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal, delegado Anderson Dias.

As investigações apontaram que os proprietários de casas noturnas têm utilizado como atrativo o fornecimento de alojamento (em quartos aos fundos dos bares) e em alguns casos a alimentação. Em troca as mulheres deveriam realizar os programas sexuais no local proporcionando maiores lucros para o estabelecimento.

“Em relação ao tráfico interno, tem se agido do abuso da vulnerabilidade, porque ocorre fornecimento de alojamentos, alimentação de forma gratuita como forma de atrair. Identificamos casos em que proprietários de casas noturnas têm contato com pessoas de Roraima e têm solicitado que sejam indicadas mulheres para trabalhar no Interior”, relatou o delegado.

Alguns donos de bares permitem que as venezuelanas realizem programas em outro local, entretanto elas são obrigadas a pagar quantias diretamente aos donos dos estabelecimentos.

CODINOME – O nome da operação remete à preservação da identidade das vítimas do crime, que fornecem nomes fictícios aos investigados e clientes. (L.G.C)

Rede de exploração à estrangeiras chegou ao Interior

As venezuelanas que deixam o país vizinho, segundo as investigações da Polícia Federal, tinham destino certo: municípios do Interior. Elas chegavam a Roraima por meio de uma rede de exploração. “Algumas vinham de forma voluntária, mas na maioria dos casos os proprietários que faziam o agenciamento com contato de informantes em Boa Vista e na Venezuela, onde traziam as venezuelanas para fins de exploração”, explicou o delegado.

Conforme Dias, por estarem em situação de vulnerabilidade econômica, as estrangeiras não tinham outra saída além da prostituição. “Algumas recebiam contatos ainda na Venezuela e vinham à procura de emprego, mas acabavam se prostituindo. Em regra, não há uma organização em que se ajudam mutualmente, em alguns casos foi detectado que há algumas pessoas envolvidas na logística. A faixa etária das venezuelanas gira dos 18 aos 30 anos”, detalhou. (L.G.C)

Documentos apreendidos podem ajudar a desbaratar esquema

No cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os policiais federais apreenderam documentos que irão ajudar na continuidade das investigações. “Foram coletadas novas provas sobre esses crimes, como documentos, mídias, registros fotográficos, além dos depoimentos prestados. As averiguações vão andar nesse sentido, de investigar e tentar chegar mais próximo do que seria uma organização voltada à rede de prostituição”, informou o delegado Anderson Dias.

Segundo ele, as provas serão suficientes para desbaratar o esquema. “Com a apreensão de documentos iremos ter noção de quanto se movimenta. São anotações referentes a quantias recebidas que são encontradas nesses estabelecimentos e irão subsidiar a continuidade das investigações”, comentou. (L.G.C)

Presos podem pegar até 17 anos de cadeia

Segundo o CPB (Código Penal Brasileiro), a pessoa que agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoas, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso pode pegar até quatro anos e oito meses de prisão, além de multa.

Já quem mantiver, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente pode ser condenado de dois a cinco anos, e multa.

Para o crime de rufianismo, que é tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, pode ser preso por até quatro anos. Somadas, as penas podem chegar a 17 anos de prisão.

As três pessoas presas na operação foram encaminhadas à Pamc (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo), onde devem permanecer até passarem por audiência de custódia.

DENÚNCIA – Qualquer pessoa pode denunciar os crimes investigados à Polícia Federal em Roraima por meio do telefone (95)3621-1500. (L.G.C)