Cotidiano

Mais de 200 cirurgias bariátricas foram realizadas no HGR em 6 anos

Dado continua estável em Roraima apesar de especialistas na área revelarem que houve um aumento no número de procedimentos no País

O número de procedimentos da cirurgia bariátrica, também conhecida como gastroplastia ou redução do estômago, quintuplicou no País em pouco mais de dez anos, conforme informações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Em 2003, foram realizadas 16 mil cirurgias no Brasil e, doze anos depois, o número subiu para 93.500. Com o aumento, o País agora está em segundo lugar no número de procedimentos no ranking mundial, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Conforme a SBCBM, vários podem ser considerados os motivos para o crescimento, como a evolução dos equipamentos e materiais, que tornou a recuperação do procedimento mais rápida; a incorporação de novas técnicas ofertadas à população pelo Serviço Único de Saúde (SUS) e até o aumento do número de obesos no País.

EM RORAIMA – Mesmo com o aumento registrado no Brasil, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que os números de procedimentos continuam estáveis nos últimos seis anos. Em 2011 foram 20 procedimentos, 46 em 2012, 58 em 2013, 49 em 2015 e 54 em 2016, totalizando 227 gastroplastias realizadas pelo Hospital Geral de Roraima (HGR). A Sesau também explicou que, por conta da inconsistência de dados ocasionados por uma queda de energia, não foram computados os números de cirurgias realizadas em 2014.

Por iniciativa própria dos médicos e pacientes, foi criado um grupo de apoio às pessoas interessadas em passar pelo procedimento, que conta com a participação daqueles que já passaram pela cirurgia. É uma troca de experiências.

LIPOASPIRAÇÃO X BARIÁTRICA – Apesar de parecerem procedimentos similares por conta da ideia de emagrecimento, os dois procedimentos cirúrgicos têm características muito diferentes.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica recomenda que a redução de estômago seja feita com o objetivo de melhorar a qualidade de vida para pessoas com obesidade mórbida ou doenças graves relacionadas, como diabetes, hipertensão, hérnia de disco, entre outras. A cirurgia significa, em suma, o corte ou grampeamento de parte do estômago para reduzir a entrada de comida no organismo e aumentar o índice de satisfação ao se alimentar.

Já a lipoaspiração é recomendada para quem deseja remover uma quantidade menor de gordura, em uma área específica. O cirurgião plástico Antero Frisina explicou que a cirurgia bariátrica é de responsabilidade do cirurgião geral e a lipoaspiração ou abdominoplastia, do especialista em cirurgia plástica.

O médico informou também que a cirurgia plástica entra como uma aliada da bariátrica, após o processo de emagrecimento. “A plástica entra cerca de dois anos após a realização da bariátrica, para a retirada dos excessos de pele provindos do emagrecimento”, informou. (P.C)

Problemas de saúde motivaram paciente a passar pela cirurgia bariátrica

Há três meses, a professora da Rede Estadual de Ensino Hérika Valle, de 36 anos, realizou a cirurgia bariátrica em Puerto Ordáz, na Venezuela, e passou de 126 quilos para os atuais 99. A professora informou que na adolescência sempre foi muito ativa, participando de atividades físicas, mas quando começou a cursar o Ensino Superior, por conta do acúmulo dos estudos e do trabalho no período da manhã, se alimentava mal e almoçava em lanchonetes pela universidade.

Ao sair da faculdade, os lanches eram mais pesados para saciar a fome do dia todo, o que contribuiu para o ganho de peso acelerado. Segundo Hérika, a vontade de fazer a cirurgia surgiu em 2014 por conta dos problemas de saúde desenvolvidos em razão da obesidade. “Eu tinha três hérnias discais, enxaqueca crônica, problema na vesícula e de refluxo gástrico. Não tinha qualidade de vida”, informou.

A professora disse que começou a faltar muito no trabalho por conta das crises e que a direção da escola a chamou para conversar, preocupada com a sua saúde. Outra razão foi a predisposição genética. “A minha tia, por exemplo, foi a primeira pessoa a realizar a bariátrica aqui em Roraima, há quinze anos”, revelou.

Na época, Hérika se uniu ao grupo de acompanhamento psicológico no Hospital Geral de Roraima, para receber orientações técnicas e escutar o testemunho de outros pacientes. “A princípio, eu rejeitava a cirurgia por que achava que tinha outras alternativas. Por isso, que é tão importante ter acompanhamento médico para usar todas as medidas possíveis. Ao final dessas tentativas, a gente percebeu que eu emagrecia no máximo dois quilos”, informou.

Pouco tempo depois, a cunhada de Hérika realizou o procedimento na Venezuela e recomendou o mesmo médico para a professora, que começou a analisar a hipótese, por conta do preço do procedimento, que é três vezes menor quando comparado com o Brasil. No entanto, no final de 2015, uma infelicidade motivou ainda mais Hérika a passar pela cirurgia.

“Eu fiquei grávida, mas, em virtude da obesidade, meu bebê morreu. Fizeram vários exames para descobrir e não sabiam a causa, mas, no fundo, os médicos falavam sutilmente que a obesidade tinha sido responsável por eu entrar em trabalho de parto com 18 semanas. Nessa época, eu já fazia o acompanhamento e os médicos pediram para eu esperar um ano para poder fazer a cirurgia, até porque é um procedimento que mexe muito com o emocional”, revelou. “A partir daí eu decidi que, se fosse engravidar novamente, queria ter uma gravidez saudável”, lembrou.

OPERAÇÃO – Depois de um ano, Hérika passou pela cirurgia na Venezuela. Na viagem, foi acompanhada pela mãe e, no momento da cirurgia, pelo marido. Ela realizou o by pass gástrico, que tem um tempo de recuperação menor. Vinte dias depois, a professora retornou ao seu local de trabalho normalmente e agora já começou a se alimentar de comidas sólidas.

Ela reforçou que o acompanhamento médico é essencial para quem deseja fazer a cirurgia, por conta de o procedimento ser tão drástico. “No primeiro dia, o paciente não come e nem bebe nada. No segundo, a alimentação é à base de gelo. No terceiro, somente chá em medidas bem pequenas. Os 15 primeiros dias são os mais delicados. Tem que trabalhar a mente”, afirmou.

“Meu sonho é correr uma maratona”, diz Hérika

Para a professora, são muitos os benefícios da cirurgia, principalmente, a recuperação da saúde e o aumento da autoestima. Até na hora das compras, as mudanças apareceram. Hérika lembrou que, quando foi casar, a escolha do vestido foi baseada no tamanho e não no seu gosto pessoal. “Antes, eu não escolhia a roupa, a roupa que me escolhia. Eu passava em uma loja e via algo bonito, mas não tinha no meu tamanho. Eu vestia 52 para 54. Hoje, eu já estou vestindo de 46 para 48. Ainda não estou magra, mas já consegui ver a mudança”, disse.

Hérika ainda revelou um caso de preconceito na época em que estava obesa. “Eu estava passeando [pela Avenida Jaime Brasil] com a minha cunhada e comentando sobre as roupas que precisava comprar para um evento e uma vendedora nos ouviu e disse que na loja que ela trabalhava não tinha tamanho XGGG. Eu respondi: ‘E eu lhe perguntei alguma coisa? ‘. Delicada que nem um cacto. Acabou que fomos conversar com a gerente da loja para reclamar”, afirmou.

Outra situação citada pela professora foi a dificuldade de locomoção que tinha por conta da obesidade. “Andar era um sacrifício para mim. Hoje em dia eu faço uma hora de caminhada diária. Nos primeiros dias, a vontade que eu tinha era de sair voando por que a liberdade era muito grande. Eu ficava pensando nas pessoas que não podem andar e eu, que tinha essa possibilidade, não conseguir por conta da obesidade”, acrescentou.

Agora, um dos sonhos de Hérika é participar de uma corrida de rua. “Muitos colegas meu são atletas, correm. Agora, o tempo todo tem corrida, todo final de semana praticamente. O meu maior sonho é participar de uma maratona. Quando eu vejo meus amigos, eu penso que, daqui a um tempo, eu vou poder estar junto com todos. O que eu quero mesmo é ter uma vida social com qualidade”, finalizou. (P.C)