Cotidiano

Mais de 100 pessoas acompanham discussão sobre ideologia de gênero nas escolas

O objetivo foi discutir o tema a partir da ideia de que ninguém nasce homem ou mulher, ou seja, cada indivíduo deve construir seu próprio gênero ao longo da vida

A manhã desta terça-feira, 29, foi tumultuada na Câmara Municipal de Boa Vista (CMBV). Entre autoridades e sociedade civil, mais de 100 pessoas estiveram presentes na audiência pública, que ocorreu no plenário Estácio Pereira de Mello. O objetivo foi discutir a ideologia de gênero nas escolas municipais, partindo da ideia de que ninguém nasce homem ou mulher, ou seja, cada indivíduo deve construir seu próprio gênero ao longo da vida.

Diversas opiniões e posicionamentos foram apresentados durante o debate, que contou com a presença do público evangélico, professores, pais de alunos da rede municipal e ativistas das causas de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT) e feministas. Para a professora Suelen Alves, no entanto, o tema foi desvirtuado pelo fato de a bancada da audiência ter sido evangélica.

“Já é a segunda vez que a gente vem trabalhar esse tema e ele é desvirtuado pela bancada para o lado religioso. Vivemos em um país laico, é preciso pensar em todos”, disse. O intuito, segundo ela, era debater a questão do estudo a respeito do gênero e da identidade de gênero, bem como o respeito que deve existir no âmbito escolar. Um dos pontos discutido foi o uso dos livros lançados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 2016.

Na avaliação da professora, o material consiste em um trabalho pedagógico voltado à identidade, gênero e sexualidade. “Ninguém quer ensinar a criança a ser gay, quer ensinar o respeito, porque as crianças sofrem. Uma menina não pode jogar futebol porque logo é chamada de ‘machuda’, assim como um menino não pode andar com meninas que é chamado de gay. O material vem propor que se respeite a diversidade dentro da escola”, enfatizou.

A agrônoma Naira Lima foi uma das visitantes presentes à audiência que demonstrou respeito em relação à diversidade de gênero, apesar de ser contra o uso do material didático junto às crianças do ensino fundamental. “Estamos falando de crianças com até 12 anos. Se eles não podem votar e nem dirigir por falta de maturidade, também não acho certo receberem essas informações”, contou.

Na avaliação da requerente da audiência, vereadora Mirian Reis, o resultado foi positivo. “A participação em massa mostra que estamos tratando de um tema que a população precisa saber como está sendo tratado”, apontou. Após o encontro, a Câmara vai analisar o relatório e enviar aos órgãos competentes, a fim de continuar os estudos e a temática nas escolas municipais da capital.

OAB – A presidente da Comissão da Criança da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Roraima (OAB-RR), Denise Cavalcante, pontuou que a discussão foi proveitosa, tendo em vista o tema polêmico e as diversas opiniões recebidas sobre o assunto, tanto favoráveis à discussão de ideologia de gêneros nas escolas, como contrárias.

Se tratando de crianças de 0 a 12 anos, ela não considera que a discussão seja correta em razão da imaturidade do público infantil. “O que verificamos durante várias falas foi que, em nome da proteção do direito da mulher e por conta da desigualdade feminina frente aos homens, deve existir a discussão. Mas são duas coisas distintas. Uma coisa é discutir o tema junto às crianças e outra coisa é ter a falta de respeito e igualdade das mulheres”, pontuou. (A.G.G)