Cotidiano

Mãe consegue decisão judicial para internar filho dependente químico

Vendedora de picolé vive um drama com o filho de 35 anos, que é viciado em droga e tem problemas psiquiátricos

Na última semana do mês de setembro, Marilene da Rocha, de 54 anos, conseguiu uma decisão judicial para internar compulsoriamente o seu filho de 35 anos, que é dependente químico e portador de problemas psiquiátricos. A vendedora de picolé procurou a Folha para reclamar que o Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (Caps AD) já foi procurado por ela várias vezes, mas nunca fez a internação. Ela alega falta de empenho dos profissionais para cumprir a decisão. 

Segundo ela, o filho precisa ser internado para eliminar totalmente o contato dele com a família para preservar a própria integridade física de todos. “Eu não quero fazer o mal a meu filho, tenho que tirar ele de casa para não acontecer o pior comigo e minha família. A partir do momento que foi tirada a capacidade civil dele, eles têm que arrumar residência terapêutica. O Caps para onde ele foi encaminhado não faz o internamento. Eu não aguento mais. Tem mais de 20 anos que eu luto com ele. O caso do meu filho não é só droga, se tornou um problema sem solução”, disse em tom de indignação. Segundo ela, a ajuda para conseguir a decisão judicial para internação compulsória foi buscada na Defensoria Pública do Estado. Ela disse que está cansada e não tem mais o que fazer, por isso age por desespero e tomou a decisão de procurar meios judiciais para internar o próprio filho. Isso aconteceu depois que ele tentou agredir o irmão com um pedaço de madeira. “Ele pode matar um de nós, é uma situação muito complicada”, frisou.

Ela disse que está vivendo em “estado de calamidade”, que se alimenta na casa de amigos e o dinheiro que ganha com a venda de picolé é para ele. “Vivo de favores, o que ganho do meu trabalho deixo para ele, pois se ele acordar e não tiver o que ele quer, já começam as ameaças e muitas vezes as agressões físicas”, ressaltou.

GOVERNO – A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) disse que se solidariza com o sofrimento da família em questão e que tem buscado uma alternativa para realizar a internação. Frisou que, em cumprimento à referida decisão judicial, já realizou várias tentativas de internação compulsória, no entanto, todas sem sucesso, pois o rapaz não se encontrava em casa no momento das abordagens.

“Antes disso, uma equipe multiprofissional do Caps ADIII já esteve várias vezes no local para motivar o usuário a dar início ao tratamento espontaneamente, mas também não houve êxito”, complementou. “Nos casos de intervenção judicial, como é possível que o paciente resista à internação, é necessário o acompanhamento de força policial”.

Conforme a Sesau, na tentativa mais recente, após acionamento pela mãe do indivíduo, equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da Polícia Militar (PM) estiveram no local, mas, novamente o rapaz não estava em casa e tinha paradeiro desconhecido. “A mãe chegou a solicitar que as viaturas permanecessem de prontidão para aguardar o retorno dele, no entanto, este procedimento é inviável, pois é comum que usuários de drogas passem longos períodos fora de casa”.

Destacou que, pelas diretrizes do Samu, esta equipe só pode atuar em situações de surto do paciente. Nestes casos, a família deve acionar força policial, que aciona o Samu, para que, se houver necessidade, o paciente seja encaminhado para o Hospital Geral de Roraima (HGR), que é a unidade com estrutura adequada para receber pacientes nestas condições. Somente depois de estabilizado, o paciente é encaminhado para acompanhamento ambulatorial no Caps AD e/ou na Unidade de Acolhimento.

“Nos casos de busca voluntária por tratamento de transtornos ligados ao consumo de álcool e outras drogas, o Estado possui duas unidades voltadas a este tipo de tratamento. O Caps AD 24h (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas) que funciona na Rua Sócrates Peixoto, 138, Jardim Floresta, também de portas abertas para a população. Só neste ano a unidade já recebeu quase 350 novos pacientes”, destacou.

Informou que há também a Unidade de Acolhimento, que recebe pacientes encaminhados pelo Caps AD, sendo dependentes químicos maiores de 18 anos, de ambos os sexos, que se encontram em sofrimento psíquico com necessidade de um cuidado mais específico e prolongado. “Já em situações de crise, as pessoas são conduzidas para o Hospital Geral de Roraima (HGR) e depois de saírem do surto, seguem o tratamento no Caps”.

No interior do Estado, a população pode contar com os Caps nos municípios de Alto Alegre, Bonfim, Cantá, Caracaraí, Mucajaí, Pacaraima e Rorainópolis. Para obter atendimento, basta comparecer à unidade ou ser encaminhado pela Atenção Básica. Nestes centros, é possível receber acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos e psiquiatras, com apoio de medicamentos com prescrição médica. (E.S)