Polícia

Integrantes de facção gravam vídeo enquanto matam jovens

Nove pessoas são suspeitas de participar do homicídio de duas jovens, que seriam informantes de facção rival

Na manhã de ontem, dia 14, o Núcleo de Investigação de Pessoas Desaparecidas (NIPD), da Polícia Civil, prestou esclarecimentos sobre as investigações de um duplo homicídio que aconteceu na madrugada da última terça-feira, dia 12, no Anel Viário. A vítima Áreli Dayane Cardoso de Oliveira, 19 anos, foi executada com aproximadamente oito tiros. A segunda vítima foi identificada como Rayane Silva Pereira, de 25 anos, e o corpo foi encontrado no fim da tarde de ontem, 14.

Os homicídios teriam sido planejados por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), que teriam as duas vítimas como informantes da facção rival, o Comando Vermelho (CV). A ordem para matar as duas jovens, segundo a polícia, partiu de um preso da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), que é o líder da organização criminosa no Estado.

A delegada responsável pelo caso, Miriam Di Manso, explicou que, ao instaurar inquérito para investigações, recebeu um vídeo que mostra imagens de duas vítimas sendo torturadas. Dos envolvidos, cinco já estão com a prisão decretada pela Justiça. “Um dos objetivos é expor a figura dos que já foram identificados, que já têm mandados de prisão decretados pela Justiça. Nós estamos fazendo algo inédito, que é passar e autorizar a imprensa a divulgar o vídeo, que tem imagens muito fortes, pelo fato de o crime organizado ter se manifestado de forma bárbara”, acrescentou Di Manso.

Do bando, constituído por nove indivíduos, duas mulheres e um homem já foram presos. São eles: Kathely Mariane da Silva Rabelo, de 18 anos, conhecida vulgarmente como “Viúva Negra” ou “Fernanda”; Jéssica Pereira de Lima, de 23 anos, batizada como “Ponto 50” ou “Moana”; e Vitor Araújo Dias, o “Vitinho”, de 18 anos. As duas jovens confessaram a participação em uma das execuções e o rapaz dirigia o carro que transportou uma das vítimas até o Anel Viário, inclusive contou com a participação da namorada, uma adolescente de 14 anos.

Os demais membros do PCC que tiveram a prisão decretada e estão na condição de foragidos da Justiça são: Nelciane Pereira de Andrade, conhecida no crime como “Hellor Lima”, “Elô”, ou “Lelê”, de 24 anos; e Ana Caroline Gomes Pereira, de 22 anos, conhecida pela alcunha de “Caroline Small” ou “Musa do Crime”. A primeira já foi presa por tráfico de drogas e, ao retornar ao sistema prisional por ter descumprido uma medida judicial, matou uma detenta com a ajuda de comparsas e fugiu.

Outra mulher que teria participado do crime possivelmente se chama Antony, mas ainda não foi devidamente identificada e, conforme os investigadores, parece ser de origem guianense.

OS CRIMES – Jéssica e Kathely foram presas na terça-feira, 12, e confessaram que são batizadas no PCC. “A Kathely confessou ter matado Áreli com 10 tiros. Ela usou uma pistola Glock, calibre 9mm [milímetros] e disse que matou onde o corpo foi, de fato, achado. Mas nenhuma delas assume a autoria da morte da moça [Rayane] que é vista sendo morta no vídeo, mas as duas dizem que a principal autora é a Nelciane, que teria desferido as facadas”, revelou a delegada Mirian.

Nas oitivas, as presas alegaram que foram homens, membros do PCC, que sequestraram as vítimas e elas foram chamadas para ir ao cativeiro apenas para matá-las. “Elas foram sequestradas por volta das 17h da segunda-feira, 11, e executadas entre meia-noite e 2h da terça-feira, 12”, reforçou a delegada.

Para efetuar o crime, os bandidos se dividiram em dois carros. A quinta pessoa no veículo seria a vítima. Enquanto seguiam para o local do crime, as suspeitas fizeram uma foto, segurando punhais e peixeira, ambas encapuzadas, fazendo um sinal com três dedos da mão levantados, referente às três letras da facção criminosa PCC. “Foram divulgadas fotografias delas encapuzadas, mas a Jéssica é que foi vista na foto com a faca na mão e foi identificada por conta da tatuagem que tem no braço”, enfatizou a autoridade policial.

Ainda nos depoimentos, elas relataram que agrediram as vítimas e riscaram com faca a sigla do PCC no corpo delas. As criminosas receberam ordens para executar e enterrar os corpos para que não se soubesse que tinha sido a mando do PCC, mas a ordem para enterrar chegou tardiamente, já era madrugada e eles não tinham enxada e nem pá. Quando conseguiram os instrumentos para voltar ao local, para fazer a cova e enterrar, tinha um fluxo considerável de veículos, tiveram receio de chamar a atenção e não cumpriram a ordem.

Quando questionada se a polícia se surpreende com a participação de mulheres em crimes dessa natureza, Di Manso afirmou que elas são, inclusive, mais cruéis. “São mais cruéis nas execuções do que os homens. Realmente o vídeo tem imagens muito fortes e a intenção nossa em divulgar é para que a população entenda que eles são realmente criminosos muito perigosos. Vendo as cenas, concluímos que isso pode acontecer com qualquer pessoa, talvez na tentativa de mostrar que elas são tão capazes quanto os homens”, afirmou.

De acordo com a delegada, todos os suspeitos vão responder por homicídio qualificado, ocultação de cadáver. “Isso vai acontecer independentemente de quem tenha autuado efetivamente nos crimes, porque agiram em conjunto para matar as duas vítimas. Também vão ser indiciados por serem integrantes de organização criminosa”, concluiu Miriam Di Manso. (J.B)