Cotidiano

Indígenas são capacitados pela PM para levar Polícia Comunitária às comunidades

Para levar o sistema de segurança pública com a filosofia de Polícia Comunitária às Terras Indígenas, a Polícia Militar de Roraima realizou entre os dias 2 e 3 de dezembro, uma capacitação sobre o método dirigida a 150 indígenas das etnias Macuxi e Wapixana. 

A inciativa partiu das comunidades, que tomaram como exemplo outras localidades onde o sistema já funciona e apresenta bons resultados. Essa é a segunda turma a receber esse treinamento. Em 2016, mais de 180 indígenas passaram pelo mesmo treinamento.

Estão sendo repassados conhecimentos sobre as atividades de segurança pública, por meio de abordagens teóricas e práticas que dizem respeito à Polícia Comunitária. Os participantes são moradores de comunidades indígenas do Baixo Cotingo, Raposa, Surumu, Tabaio, Serra da Lua, São Marcos e Contão. Todos das etnias Wapixana e Macuxi.

O objetivo é capacitar os integrantes das comunidades para atuar de acordo com as legislações federais e estaduais, norteando-os nas abordagens junto às forças de segurança, para que os alunos indígenas saiam habilitados em conhecimentos técnicos, quando necessário, em situações de delito.

O que motivou a implantação do sistema nas comunidades indígenas foi a frequente onda de violência. Segundo um dos coordenadores do curso, o tenente coronel Miramilton de Souza, os crimes mais comuns são: violência doméstica; violência contra idoso, criança e adolescente; tráfico de entorpecentes e presença de foragidos nas comunidades.

Ele relatou ainda que, outro tipo de crime que vem ganhando destaque nas comunidades é o tráfico de pessoas. “Conseguimos identificar isso por conta de alguns casos com adolescentes, tanto do sexo feminino quanto masculino, sendo aliciados a trabalhar ou viajar para outros países, como a Guiana, Guiana Francesa e Venezuela e nunca retornam. Quando a família descobre, eles já estão envolvidos até com prostituição”, explicou.

Para evitar que estes crimes ocupem mais espaço, as lideranças indígenas se organizaram e procuraram a Polícia Militar em busca de alternativa para solucionar os problemas. “Este é o segundo estágio de procedimentos de Polícia Comunitária. Houve a procura de algumas comunidades em 2016 a respeito de problemas de segurança dentro das comunidades. Fizemos um estudo para podermos trazê-los a Academia, colocá-los em sala de aula e juntos deliberarmos a respeito de como a polícia e órgãos de segurança pública poderiam ajudar”, lembrou Souza.

O tenente coronel afirmou que a filosofia de Polícia Comunitária foi a solução mais adequada, pois também garante a inclusão social desse grupo por meio da cidadania. “A partir do momento que o cidadão conhece seus direitos e deveres, ele tem como lutar por eles junto aos órgãos públicos”, pontuou.

Com os conhecimentos adquiridos, os participantes vão se organizar para criar os Conselhos de Segurança Comunitários Indígenas. “A partir daí eles vão poder deliberar sobre política de segurança. Eles não serão incentivados a abordar, revistar e fazer trabalhos que o Estado tem o dever de fazer. Eles vão procurar o Estado, para que este exerça a sua atividade de segurança pública”, detalhou.

Um dos palestrantes, o diretor do Departamento de Políticas Indígenas da Secretaria Estadual do Índio, Alfredo Silva Wapixana destacou a importância do curso. “Por meio destes cursos, já conseguimos montar 30 Conselhos com mais de 400 conselheiros. O Estado tem que estar atento a isso, haja vista que o fenômeno da violência é presente em muitas comunidades indígenas, sobretudo as localizadas em região de fronteiras, e as que têm maior densidade populacional”, concluiu.