Cotidiano

Indígenas da Boca da Mata estão há mais de 15 dias sem energia

Eletobras diz que só religará energia depois que indígenas pagarem fatura em atraso

As lideranças da comunidade Boca da Mata, pertencente à terra indígena São Marcos, procuraram a Folha para relatar sobre a suspensão no fornecimento de energia elétrica na localidade, devido ao corte feito pela Eletrobras Roraima, contabilizando 19 dias sem o fornecimento.

Segundo o tuxaua José Nilton e o vice-tuxaua Reginaldo Fernandes Silva, desde setembro de 2017, foi pedido ao coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai-RR), Armando do Carmo Araújo, e ao presidente da Eletrobras Distribuição Roraima, Valdemar Johnson Filho, explicação formal sobre a cobrança da conta de energia em cota única, englobando todos os 833 moradores em um único contador de energia instalado na comunidade.

“Fomos cobrar da Eletrobras que nos explique por qual motivo todo o consumo da comunidade está sendo faturado de uma única vez, o que consideramos ilegal, já que existem mais de 800 consumidores que possuem suas casas, e não aceitamos de forma alguma esta cobrança em taxa única. Da mesma forma, endereçamos o pedido na mesma data à Funai, pedindo que interceda junto a fornecedora de energia, para a imediata regularização deste impasse. Já prevendo que poderiam suspender o nosso fornecimento de forma arbitrária, devido a ausência de resposta de nossa solicitação, nem a Funai e nem a Eletrobras nos deram nenhuma respostas, fomos simplesmente ignorados”, declarou.

O tuxaua acrescentou ainda que, inúmeros problemas estão ocorrendo nestes 19 dias sem energia, como falta de aula nas escolas e perda de carnes e alimentos que precisam de refrigeração. Os indígenas estão sem água potável, pois não é possível fazer o tratamento e a captação da água sem energia, por isso estão utilizando água de um igarapé próximo, que sem tratamento está causando mal-estar em crianças e idosos, como diarreia e vômito.

“Estamos passando por toda essa dificuldade, e decidimos apelar para que a Eletrobras e a Funai possam atender nossa solicitação. É bom que fique bem claro que em nenhum momento estamos nos recusando a pagar o consumo, apenas queremos o desmembramento desta tarifa única. No ofício encaminhado à companhia de energia, destacamos que em nenhum momento foi feito algum acordo para que fosse destinado uma única unidade de consumo, pois desta forma não temos como mensurar o consumo das instituições públicas existentes na comunidade. Outra questão, é que temos ainda 43 famílias que não são atendidas com energia, tudo detalhado no ofício que endereçamos”, complementou.

O vice-tuxaua, Reginaldo Fernandes Silva, acrescentou que a Eletrobras apresentou uma fatura no valor de R$ 45.654,32 e se limitou a informar que apenas concede a religação com o pagamento de R$ 13.100,00 e mais 12 parcelas de R$ 2.712,86. “Classificamos isso como absurdo, como podem nos ignorar no pedido de desmembramento desta tarifa e ainda nos obrigam a aceitar a forma de parcelamento sem consultar se temos condições de pagar esse valor”, finalizou, reforçando que desde o início do mês os indígenas estão se abrigando embaixo de árvores para minimizar o calor.

PARCERIA – As lideranças informaram ainda que o relacionamento sempre foi amistoso com a empresa fornecedora de energia, em que a comunidade disponibilizava uma casa de apoio para que ficasse a disposição para uso da Eletrobras, mas diante do rompimento do acordo e parceria, agora se estuda a cobrança de um valor para que a empresa utilize a casa de apoio na comunidade indígena.

ELETROBRAS – Em nota, a Eletrobras Distribuição Roraima informou que realizou a suspensão do fornecimento de energia nas comunidades que estavam com as contas de energia atrasadas. A energia das comunidades que negociaram e pagaram o débito foi religada. Na comunidade Boca da Mata, o débito negociado não foi quitado. Assim que for quitado o débito o fornecimento de energia será normalizado.

FUNAI – Foi encaminhada demanda para a coordenação regional da Funai, mas até o fechamento desta edição não tivemos resposta sobre a reclamação da comunidade, a qual solicita a intervenção junto à Eletrobras. (R.G)